Nasceu em Arroios um novo espaço cultural e de coworking, onde tudo pode acontecer

Uma nova Corrente no bairro de Arroios, em Lisboa, nasceu para explorar o trabalho à distância e dar um novo espaço a artistas e pequenos negócios. É inaugurado esta sexta-feira, 16 de Abril, no número 99A da rua Passos Manuel, com uma exposição do estúdio de ilustração Mago Studio.

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Corrente

Na rua Passos Manuel, no bairro de Arroios, em Lisboa, há uma montra verde néon difícil de ignorar. Um alien que chega a um lugar onde as famílias se conhecem e o comércio local sobrevive. A Corrente é um espaço colaborativo, de resistência e união, sempre em movimento, onde tudo muda e tudo pode acontecer.

O nome do espaço, inaugurado esta sexta-feira, 16 de Abril, é inspirado no nome do bairro, sendo arroio um sinónimo para corrente de água, permanente ou temporária. Numa semana, a Corrente pode acolher uma exposição. Na seguinte, uma padaria, para depois se transformar numa florista, consoante as propostas de artistas ou parcerias com pequenos negócios. “Queremos misturar-nos com a rua. Somos um alien, mas não um alien gentrificador”, garante uma das fundadoras.

A ideia é de Leonor Bettencourt Loureiro e Catarina Monteiro, residentes no bairro e apaixonadas por Arroios. “Nos últimos anos, os meus amigos começaram a mudar-se para aqui. Criou-se uma comunidade forte, multicultural, de jovens, mas também de pessoas mais velhas, famílias que cá vivem há muito tempo. É um bom protótipo do que podem ser as cidades modernas”, afirma Catarina Monteiro.

Catarina Monteiro e Leonor Bettencourt Loureiro, fundadoras da Corrente. Corrente
Catarina Monteiro e Leonor Bettencourt Loureiro, fundadoras da Corrente. Corrente
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Catarina Monteiro e Leonor Bettencourt Loureiro, fundadoras da Corrente. Corrente

A Corrente divide-se em duas áreas. A área mais privada, tranquila, é um espaço de cowork, onde a luz natural chega através de clarabóias. As vagas neste espaço são limitadas e apenas para quem quer tornar-se residente, para que, num ambiente familiar, se criem parcerias e amizades entre pausas. “As áreas de trabalho são fundamentais, é através delas que o espaço é autofinanciado e habitado diariamente”, explica Catarina, num comunicado enviado ao P3.

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Área de cowork e reuniões da Corrente. Corrente

A área comum, virada para a Rua Passos Manuel, é onde acontecerão exposições, instalações artísticas ou pop-ups de pequenos negócios. Para respeitar o sossego dos residentes, as visitas ao espaço serão às quintas e sextas-feiras, em horário pós-laboral, ou aos fins-de-semana.

Para a inauguração da Corrente, a Mago Studio desafiou artistas a ilustrar os ambientes de que se rodearam ou onde se refugiaram durante a pandemia – alguns na natureza, outros na música, outros presos nos próprios pensamentos. Quem visitar a exposição pode comprar as ilustrações, impressas em risografia, de artistas como Mantraste, Bina Tangerina ou Tiago da Bernarda, conhecido como O Gato Mariano.

A primeira fase da exposição ficará no número 99A da Rua Passos Manuel até 15 de Maio. Até Outubro, a exposição Surroundings regressará mais duas vezes, guiando-se pelo mesmo conceito, mas com novos artistas convidados. Entre eles, Rodrigo Veloso, que conversou com o P3 sobre a sua obra, em exposição na Corrente a partir de 20 de Maio. 

“É a nossa primeira exposição, percebo que ainda exista algum receio de explorar ao máximo o nosso espaço, fazer um projecto mais imersivo”, aponta Leonor Bettencourt Loureiro. “Nós dizemos 'façam o que quiserem, pintem as paredes, tapem as janelas’.”

Durante três meses, com a inauguração adiada pelo prolongar do confinamento, Leonor e Catarina também pintaram paredes, sujaram as mãos, costuraram cortinas, restauraram móveis, decoraram. E, entre projectos e ideias, são mestres de vários ofícios. São “desenrascadas”, dizem as amigas de 28 anos.

Leonor estudou cerâmica e escultura, mas dedica-se à realização cinematográfica. Faz filmes de moda, filmes publicitários, cinema, curtas-metragens. “Estou sempre a ter ideias. O desassossego de não as fazer é pior do que o sossego de ficar parada pela insegurança. Consigo descansar, mas preciso de ter a certeza de que estou a trabalhar em prol das minhas ideias”, conta, em conversa com o P3. Catarina Monteiro também se afastou da área de formação, arquitectura, para trabalhar no sector da cultura, sempre ligada à música. 

“Há quem nos diga ‘Vocês são malucas! Abrir um espaço agora, durante a pandemia?’ e há quem nos apoie e ache brutal fazer isto agora”, conta Catarina. Para Leonor, numa altura em que as empresas fecham os seus escritórios para dar preferência ao teletrabalho, “as pessoas sentem necessidade de voltar a criar uma comunidade”. “Acho que há oportunidades na crise.”

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