Professores e auxiliares são prioritários na vacinação em dois terços dos países da OCDE

Portugal e outros 18 países de um conjunto de 30 incluíram os profissionais das escolas no grupo dos prioritários a vacinar contra a covid-19. Uma maior incidência da infecção não é sinónimo de um ensino à distância mais prolongado no tempo. Muito depende da robustez do sistema, diz Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

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Profissionais do pré-escolar e 1º ciclo, aqui na antiga fábrica de Valongo, começaram a ser vacinados a 27 de Março Nelson Garrido

Portugal está num grupo de 19 em 30 países da OCDE que incluiu os professores e auxiliares das escolas nos grupos prioritários da população para a toma da vacina contra a covid-19, como constata um estudo publicado esta semana pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE).

No relatório intitulado O estado do ensino na escola – Um ano de pandemia, o processo de vacinação dos professores é avaliado com os dados de Março de 2021 e num contexto inicial de escassez de vacinas, transversal a muitos países que leva a OCDE a salientar a dificuldade que os Estados têm em definir quais os grupos prioritários. Na maioria dos outros dados, a OCDE baseia-se em registos recolhidos entre Março e Dezembro de 2020.

O relatório tem por base um inquérito realizado a 34 dos 37 países da OCDE. Nele, a vacinação dos professores (com dados recentes) é analisada à luz das estratégias para garantir a reabertura das escolas, em contexto seguro, quando estão a ser avaliadas as “oportunidades perdidas da aprendizagem”, medidas em ritmo e qualidade, e reflectidas nas desigualdades registadas entre grupos sociais num mesmo país, ou entre países. 

As perdas de hoje, resultantes do encerramento das escolas que afectou 1,5 mil milhões de estudantes em 188 países devido à crise pandémica no último ano, terão “efeitos permanentes”, alerta a OCDE. “As escolas de hoje são as economias de amanhã”, sintetizam os autores do documento. 

Vários critérios

A maior parte dos países que definiram como grupo prioritário para a vacinação pessoal docente e não docente das escolas também estabeleceu critérios sobre quem – na comunidade escolar – devia ser vacinado em primeiro lugar. 

Como em Portugal, onde a vacinação dos docentes e não docentes começou em 27 de Março pelos professores do pré-escolar e do 1º ciclo, também na Alemanha, na Lituânia, na Polónia, na Eslovénia e em Espanha o critério foi definido em função do nível escolar no qual ensinam ou trabalham​.

Outro exemplo: a Letónia optou por definir como prioritários (dentro dos prioritários) o pré-escolar e os professores do ensino especial, por estes terem um contacto físico mais próximo com os alunos.

Dos 19 países que deram prioridade aos professores, a maioria fê-lo respeitando dentro deste grupo o critério da idade. Assim, na Áustria, Colômbia, Chile, República Checa, Alemanha, Hungria, Eslovénia e Letónia, os primeiros a serem chamados são os professores mais velhos.

Os 11 restantes países dos 30 com dados comparáveis nesta matéria – nos quais se incluem, por exemplo, a França, a Inglaterra, a Holanda – encontram-se numa destas duas situações: o calendário para os professores é o mesmo do resto da população ou ainda não foi tomada decisão sobre esta matéria.

Oportunidades perdidas

Como saber ao certo o que se perdeu na aprendizagem num ano de pandemia, recuperar as aprendizagens e esbater desigualdades, evitar que determinadas regiões ou pessoas em cada região fiquem para trás, e ainda proteger e incentivar a comunidade escolar, são reflexões do estudo que continuará por 2021 e que se centra em grande medida nas estratégias encontradas em 2020 e nos primeiros meses deste ano. 

Por exemplo, alguns países cancelaram ou adiaram exames e outras avaliações; outros aprofundaram a matéria reduzindo as disciplinas do currículo inicial; outros ainda usaram as aulas online para consolidar matéria já dada e as aulas presenciais para apresentar a matéria nova; também vários países investiram na formação de professores e numa melhor utilização dos espaços fechados e ao ar livre.

No conjunto, o desafio permanece, salienta o relatório, já que em Fevereiro de 2021, apenas um terço (30%) de 33 países com dados comparáveis tinham os estabelecimentos do ensino primário abertos total ou parcialmente (não era na altura o caso de Portugal); um quarto apenas (24%) desses mesmos países tinham os 2º e 3º ciclos com as escolas a funcionar; e em 9% desses países foi então possível ter o secundário em regime presencial.

Sobre estes resultados preliminares, o coordenador do estudo e director da OCDE para a Educação, Andreas Schleicher, adianta que não há relação directa entre o fecho das escolas e a incidência da covid-19. Uma maior taxa de incidência da infecção não significa, por si só, mais dias com o ensino fechado e as aulas à distância.

“Nos países onde os sistemas de ensino funcionam muito bem, com capacidades desenvolvidas localmente, com professores bem preparados e espaços mais facilmente adaptáveis para garantir o distanciamento social, é possível manter a escola a funcionar normalmente”, afirmou Andreas Schleicher no webinar de apresentação do relatório e que pode ser revisto na página da OCDE na Internet. 

Mais de 100 dias sem aulas 

Independentemente da taxa de incidência da covid-19, quanto mais robusto é o sistema de ensino – avaliado pelos níveis de desempenho alcançados em 2015 no Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA, na sigla em inglês) promovido pela OCDE – mais provável será haver condições para manter as escolas abertas. 

Entre os países com taxas de incidência muito altas, mas onde as escolas fecharam menos de 50 dias em 2020, estão a Bélgica, a Inglaterra ou a França.

O estudo mostra, por outro lado, grandes diferenças entre países como a Costa Rica ou a Colômbia com as escolas fechadas na maioria dos dias úteis do calendário escolar entre Março e Dezembro de 2020 – quase 180 e 150 dias respectivamente – e a Dinamarca (abaixo dos 20 dias), a Alemanha ou Nova Zelândia (com pouco mais de 20 dias de escolas fechadas). 

E se alguns defendem que os alunos vão recuperar rapidamente assim que as escolas reabrirem, os autores do estudo alertam para a fraca probabilidade de isso acontecer se “tudo se mantiver como está”. E explicam porquê: com base nos resultados do PISA de 2018, as reformas do ensino e o aumento da despesa na educação não garantiram que fosse registada “uma melhoria real nos níveis de desempenho dos estudantes nos países da OCDE” nos últimos 20 anos em que não houve pandemia​.

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