Idade passa a ser critério prioritário mas entram também novas doenças na segunda fase da vacinação
Comissão de peritos propõe nova “estratégia em dois braços” que decorrerá em simultâneo, usando o critério de faixa etária decrescente e incluindo doenças de risco acrescido grave, sem limite de idade.
A lista de prioridades da segunda fase do plano de vacinação contra a covid-19 vai ser alterada, se a proposta da comissão de especialistas da Direcção-Geral da Saúde (DGS) for aprovada. A ideia é passar a vacinar por idade, usando o critério de faixas etárias decrescentes, mas incluindo em simultâneo pessoas com doenças associadas a risco acrescido de covid-19 com gravidade, e sem limite de idade. Uma nova “estratégia em dois braços que correrá em paralelo”, adiantou esta quinta-feira a DGS.
As doenças com risco acrescido em caso de covid-19 a priorizar sem limite de idade, incluindo assim pessoas mais jovens, são “menos prevalentes” do que as que estão previstas no plano inicial, como a diabetes e a hipertensão, esclarece a DGS. Ressalva que este “ajuste” está ainda a ser trabalhado pela Comissão Técnica de Vacinação que inclui especialistas de diversas áreas que fazem recomendações.
O parecer desta comissão de peritos “foi entregue ao coordenador da task force” responsável pela campanha de vacinação já “na semana passada”, enfatiza a DGS. O objectivo é garantir que a grande maioria das pessoas mais vulneráveis e em risco de internamento e morte por covid-19 esteja vacinada, “contribuindo para a sustentabilidade do sistema de saúde”.
Na segunda fase, que começa após a conclusão da vacinação dos grupos prioritários da primeira fase, em 11 de Abril, segundo foi anunciado pelo coordenador da task force, esta nova estratégia deve ser “ajustada de forma a vacinar o maior número de pessoas no menor período de tempo” e tendo em conta “um expectável aumento das doses de vacinas disponíveis”
A Ordem dos Médicos já tinha proposto que a vacinação passasse a ser feita usando apenas o critério da idade e ontem, em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, o coordenador da task force, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, defendeu igualmente que se deve adoptar este critério quando arrancar a vacinação em massa, de forma a simplificar e acelerar todo o processo. Tal significa que avança primeiro a vacinação das pessoas entre os 79 aos 70 anos, depois entre os 69 e os 60 anos e assim sucessivamente.
Gouveia e Melo avisou mesmo que, se continuarmos a vacinar por “grupinhos”, vamos acumular doses em armazém. “É preciso acabar com a vacinação por grupos de doenças e avançar para a vacinação por idades. Não faz sentido ficar a maior parte da população à espera que se vacinem os grupinhos todos”, argumentou. Médicos e enfermeiros que trabalham nos centros de saúde têm também vindo a alertar que a inclusão de critérios clínicos está a tornar a processo mais demorado e complicado.
O plano inicial, que ainda não foi oficialmente alterado e que implica uma nova revisão da norma da DGS, define como grupos prioritários na segunda fase, além de todas os cidadãos a partir dos 65 anos, as pessoas a partir dos 50 até aos 64 que sofrem de pelo menos uma das seguintes patologias: diabetes, hipertensão arterial, obesidade, neoplasia maligna activa, insuficiência hepática e doença renal crónica. Mas o plano já refere noutra alínea que serão consideradas outras doenças que podem ser “definidas posteriormente, em função do conhecimento científico”.
Com a alteração da estratégia, passarão assim a ser priorizadas outras patologias de maior risco associado a covid-19 e, neste caso, sem limite de idade, de forma a evitar, por exemplo, que um transplantado ou uma pessoa com doença oncológica activa com 20 ou 30 anos, tenha que ficar a aguardar meses pela vacinação.
O PÚBLICO perguntou à DGS o que vai acontecer com os diabéticos e os hipertensos entre os 50 e os 64 anos que estão no grupo prioritário do plano inicial. A DGS respondeu que o plano vai ser revisto, sem adiantar mais detalhes, argumentando que a lista de prioridades ainda está em discussão. “Está a ser definida e ainda terá que ser aprovada”, uma vez que a comissão técnica faz recomendações que depois podem ou não ser aprovadas, explicou. Mas é provável que a hipertensão arterial, tendo em conta que atinge mais de 20% da população, não se venha a manter com a mesma prioridade.
Seja como for, a alteração de estratégia apenas é possível porque está previsto que Portugal receba, durante o terceiro trimestre, perto de nove milhões de doses, depois de no primeiro trimestre ter recebido apenas dois milhões.
Esta é a segunda vez que a comissão técnica altera os critérios. No final de Janeiro recomendou que se passasse a vacinar todos os idosos a partir dos 80 anos logo na primeira fase. O plano “é dinâmico e adaptável à evolução do conhecimento científico, à disponibilidade e aprovação de vacinas na União Europeia, e à evolução epidemiológica”, justifica a DGS.