O Conselho de Ministros italiano aprovou esta quarta-feira um decreto-lei que introduz alterações à regulamentação do transporte e tráfego de navios de cruzeiro na lagoa de Veneza.
As embarcações já não poderão atracar junto ao centro histórico da cidade, sendo a circulação temporariamente desviada para o porto industrial (Marghera), até que seja encontrada – e construída – uma solução permanente de desembarque fora da lagoa.
“Uma decisão justa que se aguardava há anos”, reagiu no Twitter o ministro italiano da cultura, Dario Franceschini. “O Conselho de Ministros aprova um decreto que estabelece que o desembarque final dos grandes navios em Veneza deve ser projectado e construído fora da lagoa, conforme solicitado pela UNESCO.”
Actualmente, está suspensa a circulação de cruzeiros em Veneza, como medida preventiva contra a covid-19. Mas, quando for retomada, tanto os grandes navios de cruzeiro como os porta-contentores já não vão poder entrar no canal de Giudecca, que conduz à histórica Praça de São Marcos.
A decisão, criada “com o objectivo de proteger um património histórico-cultural não só de Itália, mas de todo o mundo”, tinha sido tomada na semana passada, durante uma reunião entre os ministros da Transição Ecológica, da Cultura, do Turismo, e das Infra-estruturas e Mobilidade Sustentáveis, e foi esta quarta-feira aprovada pelo Governo italiano em Conselho de Ministros.
Para conciliar as necessidades de protecção do património artístico, cultural e ambiental de Veneza e a actividade dos cruzeiros e do tráfego de mercadorias, o decreto prevê uma competição de ideias para a criação de pontos de atracagem dos navios de grande porte fora do sistema lagunar protegido, que deverá ser lançado no prazo de 60 dias pela Autoridade Portuária do Norte do Mar Adriático.
Antes de a pandemia ter paralisado a indústria – e o mundo –, o tráfego de navios de cruzeiro estava a crescer em Veneza, trazendo milhões de visitantes à cidade. No entanto, há muitos anos que são gritantes as críticas à chegada destes navios de grandes dimensões ao centro histórico da cidade, Património Mundial da UNESCO, acusando-os de ameaçar o frágil ecossistema da lagoa, de ser um potencial risco à segurança, de contribuírem para a poluição das águas e erosão das fundações da cidade.
A pressão para banir os grandes cruzeiros do centro histórico cresce desde 2019, quando um navio perdeu o controlo, colidindo com o cais de desembarque e um barco turístico, ferindo quatro pessoas. Antes do incidente, várias iniciativas governamentais tinham tentado desviar o tráfego de cruzeiros do centro histórico, sem sucesso.
Em 2013, o Governo proibiu os navios com mais de 96 mil toneladas de cruzarem o canal Giudecca, mas a legislação foi posteriormente anulada. E, já em 2017, voltaram a ser anunciadas medidas semelhantes que nunca chegaram a sair efectivamente do papel.