Síria começou a racionar combustível devido ao bloqueio no Suez
Damasco esperava chegada de combustível na sexta, mas a carga ficou retida devido ao navio encalhado há seis dias. Limitações visam garantir manutenção de serviços essenciais como padarias e hospitais.
O governo sírio anunciou que começou a racionar o combustível no país, receando que a distribuição possa falhar devido ao bloqueio do Canal de Suez, impedido há seis dias devido a um cargueiro encalhado.
A medida, anunciada pelo ministro com a tutela da Energia, Bassam Tomeh, pretende garantir a continuidade de serviços considerados essenciais, como padarias ou hospitais, enquanto não chegam novos carregamentos de combustíveis. Devastada pela guerra civil, que dura desde 2011, a Síria já vivia com fortes problemas de fornecimento de bens, incluindo combustíveis.
Muitos desses problemas de abastecimento devem-se às sanções internacionais contra o regime sírio. Em meados de Março, o preço da gasolina tinha aumentado 50%. A Síria era, antes da guerra, um país relativamente autónomo em termos energéticos. O país produzia cerca de 400 mil barris por dia. Em 2019, eram 24 mil por dia.
Ao fim de dez anos de guerra civil, a Síria perdeu 91.500 milhões de dólares (cerca de 77.560 milhões de euros ao câmbio actual) de receita em hidrocarbonetos, segundo tinha dito o ministro em Fevereiro.
O governante revelou na televisão estatal síria que o país aguardava um carregamento do Irão, um país aliado, que deveria ter chegado na sexta-feira ao porto de Banias. Porém, a carga continua retida no mar Vermelho, à espera que o Canal do Suez seja desobstruído.
No Egipto, o Presidente Al-Sisi pediu que se preparasse a retirada de contentores do navio encalhado, segundo revelou neste domingo Osama Rabie, presidente da entidade gestora do canal.
O Ever Given transporta 18.300 contentores e, dada a dificuldade sentida até ao momento para libertá-lo, está a ser equacionada uma forma de aliviar o peso do cargueiro, que é propriedade de uma empresa japonesa e navega com bandeira do Panamá.
Este navio, com 400 metros de comprimento (quatro campos de futebol) e 216 mil toneladas de peso, tinha saído da China e rumava ao porto de Roterdão, nos Países Baixos, quando por razões ainda sob investigação ficou encalhado ao quilómetro 151 do canal do Suez, que tem 193,3 quilómetros de extensão, ligando o mar Vermelho ao Mediterrâneo.
Havia 134 navios parados em Port Said (entrada Norte do canal), 42 no Grande Lago Amargo (a meio do canal) e 151 na entrada sul, junto a Suez. No total, são 327, segundo dados deste domingo.
A maior parte (87) são graneleiros, porta-contentores (83) e petroleiros (28). Um deles leva o fornecimento de combustível para a Síria.
Depois da tentativafalhada da manhã, os responsáveis do canal voltaram a actualizar este número que, de tarde, já era de 369 navios.
Alguns transportadores optaram por desviar para outras rotas. A Maersk, líder mundial, tinha no sábado 22 navios à espera, dos quais dois já tinham rumado para uma viagem de circum-navegação ao continente africano. A Mediterranean Shipping Co (MSC), número dois mundial, fez o mesmo em relação a 11 navios.
A rota alternativa passa por contornar a sul o continente de África, dobrando o cabo da Boa Esperança. Outras companhias estão a considerar também essa hipótese, que acrescenta muitos dias de viagem e aumenta os custos, dependendo do tipo de transporte. Para um navio que ligue Singapura a Roterdão, esta opção implica mais 3500 quilómetros de viagem, por exemplo. A viagem do Suez ao maior porto europeu, o de Roterdão, pode demorar 11 dias. Mas contornando África, pode acrescentar até 26 dias mais, segundo a consultora financeira Refinitiv, do grupo Reuters.
A escassez de combustível na Síria revela a dimensão do problema que pode ser causado pelo bloqueio do canal do Suez. Em 2020, quase 19 mil navios usaram aquela travessia, importante tanto para a Europa como para os países vizinhos do Egipto no Médio Oriente. Cada dia de bloqueio, que levou à suspensão total da navegação, também provoca um rombo na frágil economia do Egipto. Um navio como o Ever Givern pode pagar até cerca de 700 mil dólares pela travessia. É um prejuízo diário estimado entre 14 milhões e 15 milhões de dólares (cerca de 12/12,5 milhões de euros).
No sábado, as operações permitiram mover 30 graus o leme do Ever Given, mas o cargueiro continua encalhado no mesmo sítio. O número de rebocadores envolvidos na operação continua a subir. Eram 14 e já há mais dois a caminho, um com bandeira holandesa e outro com bandeira italiana.
“Há sinais positivos de ontem e de sexta-feira”, disse Osama Rabie, em declarações à televisão estatal egípcia. “O leme estava preso e agora já mexe. Não havia água por baixo da proa e agora já há, e ontem havia um desvio de quatro metros na proa e na popa”, descreveu Rabie.
O navio está enterrado numa zona de areia argilosa. Porém, segundo fontes daquela entidade citadas pela agência Reuters, foi encontrado um enorme pedregulho junto da proa, o que pode dificultar os trabalhos. O inquérito para apurar as causas do incidente continua a decorrer. Ventos fortes e uma tempestade de areia foram razões apontadas desde o início. Mas Rabie admite agora que pode ter havido falhas técnicas e erro humano.
Mais de 27 mil metros cúbicos de areia foram retiradas daquela zona, a uma profundidade de 18 metros, e esperava-se que a maré alta de sábado à tarde ou de domingo de manhã pudesse ajudar a libertar o Ever Given. Mas tal não aconteceu.
“Estamos a dividir o dia em duas metades, 12 horas para dragas e 12 horas para rebocadores porque nem todas as horas são boas para tentar rebocar, devido às marés”, explicou Rabie.
Na Jordânia, o porto de Aqaba está a preparar-se para a chegada dos muitos barcos que poderão passar por aquele porto do mar Vermelho assim que o Canal do Suez reabrir, segundo noticia a agência Lusa. “A Comissão Marítima da Jordânia informou hoje que aumentou o nível de alerta em Aqaba para enfrentar o previsível congestionamento de barcos.” Aqaba é segundo maior porto do mar Vermelho, depois do do Suez, no Egipto.