Não há provas de que o Verão trave o coronavírus, avisa Organização Meteorológica Mundial

O único conselho sensato a dar aos governos neste momento é não abrandar as medidas de saúde pública para travar a disseminação do vírus, mesmo quando as temperaturas estão a aumentar.

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Frequentador de uma praia no Rio de Janeiro com máscara anti-covid-19 PILAR OLIVARES/Reuters

A subida das temperaturas com a chegada da Primavera não deve ser usada como pretexto para abrandar as medidas que travam a transmissão do novo coronavírus, como o uso de máscara e o distanciamento social, alerta a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que diz não existirem provas de que factores meteorológicos e a qualidade do ar influenciem a covid-19.

Desde o início da pandemia que tem sido uma constante a interrogação sobre se a temperatura mais alta faria recuar o número de infecções. Ben Zaitchik, co-responsável pela equipa da OMM que elaborou o primeiro relatório que analisa a fundo esta interrogação, dizem que, até este momento, não há provas dessa relação. “Vimos vagas de infecção a crescer na estação quente e em regiões quentes no primeiro ano da pandemia e não há indícios de que isso não possa voltar a acontecer neste ano”, disse o cientista do Departamento de Ciências Planetárias e da Terra da Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos), citado num comunicado de imprensa.

“As infecções respiratórias têm, frequentemente, alguma forma de sazonalidade, sobretudo em climas temperados”, embora não se compreenda bem os mecanismos que a causam, reconhece o relatório. Apesar de em estudos laboratoriais o vírus SARS-CoV-2 se ter mostrado capaz de sobreviver em condições de grande secura, frio e radiação ultravioleta baixa, “estes estudos não indicaram se efeitos directos da meteorologia sobre o vírus poderiam influenciar a sua taxa de transmissão na vida real”, diz o relatório da OMM, que é uma agência das Nações Unidas.

Há indícios de que a exposição à poluição atmosférica agrava os sintomas das doenças respiratórias e aumenta a mortalidade e isto é consistente com alguns estudos feitos no início da pandemia sobre a covid-19. “Mas estes resultados precisam de ser confirmados e consolidados, fazendo o controlo dos factores de risco individual”, dizem os cientistas da OMM, que fazem um apelo a mais investigação nesta área.

“O rápido desenvolvimento da investigação sobre a covid-19 fez com que surgissem rapidamente muitos estudos com dados limitados, em que a informação não pode ser cruzada para ser verificada e submetida a avaliação pelos pares”, disse Juerg Luterbacher, cientista-chefe da OMM, citado no comunicado de imprensa. “Isto faz com que a informação seja muitas vezes contraditória, devido a problemas metodológicos e na selecção dos dados”, explicou.

O resultado é que o único conselho sensato a dar aos governos neste momento é não abrandar as medidas de saúde pública para travar a disseminação do vírus, mesmo quando as temperaturas estão a aumentar. “Neste momento, não há provas de que factores meteorológicos e da qualidade do ar possam servir de base aos governos para relaxar as suas intervenções destinadas as reduzir a transmissão do vírus”, dizem os cientistas.

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