Quem recusar a vacina da AstraZeneca vai para o fim da lista. E mesmo assim não poderá escolher

Vacinação de 120 mil pessoas foi atrasada por uma semana. Professores e funcionários do pré-escolar e primeiro ciclo começam a ser vacinados no fim-de-semana de 27 e 28 de Março.

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Graça Freitas: "A recusa de uma vacina é recusar proteger-se" Rui Gaudencio

Quem recusar tomar a vacina da AstraZeneca contra a covid-19 perderá a vez e terá que ficar à espera. E, mesmo na última fase da operação, será imunizado com a que estiver disponível, avisa o coordenador da task force (grupo de trabalho) para o plano nacional de vacinação. “O princípio no processo de vacinação é a não escolha da vacina, porque as vacinas aprovadas são igualmente boas e seguras”, justifica ao PÚBLICO o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo. Portugal decidiu ontem retomar a vacinação, já na segunda-feira, com o fármaco da AstraZeneca-Universidade de Oxford, depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) ter atestado a segurança e eficácia da vacina, cuja administração tinha sido suspensa em vários países europeus. 

Ainda antes desta interrupção - que foi decretada em Portugal na segunda-feira -, os profissionais no terreno já estavam a ser confrontados com recusas de algumas pessoas que queriam ser imunizadas com as outras vacinas disponíveis, como a da Pfizer e a da Moderna. “Explicamos que vão ter que ficar à espera ou a aguardar que mude a regra da atribuição. Já tivemos médicos e médicos dentistas, por exemplo, a recusar-se, mas a regra é simples: não dá para escolher. Seria ingerível. Se as pessoas não aceitam a regra, e têm esse direito, vão ter que esperar. Serão vacinadas no Verão ou depois do Verão”, explica José Luís Biscaia, director executivo do Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego.

“Já houve rejeições antes e agora deverá haver mais. Mas recusar é impossível à partida. A orientação é: o utente não escolhe a vacina. Não podemos eliminar a pessoa da lista, o que dizemos é que vai ter que esperar, correndo o risco de não ser vacinada”, corrobora Diogo Urjais, presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar.

Anunciada numa conferência de imprensa conjunta da task force, da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e do Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde), a decisão de voltar a utilizar a vacina da AstraZeneca foi tomada após a comunicação da EMA, que continua a considerar que esta é “segura e eficaz”. Mas na conferência de imprensa online de ontem a EMA não conseguiu descartar a possibilidade de que exista uma relação de causa-efeito entre os casos raros de formação de coágulos sanguíneos com diminuição de plaquetas notificados em vários países, que causaram a morte de nove pessoas. 

“A recomendação é para os profissionais de saúde estarem atentos a possíveis efeitos secundários”, acentuou Emer Cooke, directora da EMA, adiantando que vão ser feitos mais estudos enquanto a vacinação continua.  Ainda assim, “as pessoas podem confiar na vacina”, assegurou, sublinhando que estes não são casos “inesperados [...] porque se está vacinar milhões e milhões de pessoas”.

Para o presidente do Infarmed, Rui Ivo, as conclusões do regulador europeu sobre a segurança e eficácia da vacina foram “claras quanto aos dois aspectos principais”. “Os benefícios da vacina superam claramente qualquer risco de reacção adversa. Isso foi muito claro nas conclusões do comité. Também foi referido que a vacina não está associada ao aumento geral do risco de coágulos sanguíneos na sua administração”, enfatizou.

A partir de hoje, adiantou, vão estar disponíveis dois documentos sobre esta vacina, um folheto informativo para os cidadãos e uma informação destinada aos profissionais de saúde. Mas nem Rui Ivo nem a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, afastaram a hipótese de vir a ser alterada a definição dos grupos prioritários para a toma desta vacina. “Temos de esperar que os documentos sejam, de facto, disponibilizados na sua forma final, escrita”, observou Graça Freitas.

Professores vacinados a 27 e 28

Quanto ao atraso provocado por esta interrupção, que afectou “perto de 120 mil pessoas”, o coordenador da task force acredita que será recuperado com celeridade. “Mais uma semana, ou semana e meia, temos o plano recuperado”, disse. Os docentes e não docentes do pré-escolar e primeiro ciclo, cuja vacinação estava inicialmente prevista para este fim-de-semana, começarão a ser inoculados uma semana mais tarde, nos dias 27 e 28 deste mês. No segundo trimestre, a operação vai acelerar, apesar de as entregas da AstraZeneca terem ficado reduzidas a 1,5 milhões dos 4,4 milhões acordados inicialmente.

A vacinação dos professores não significa uma “ultrapassagem" de outros grupos prioritários, como os idosos a partir de 80 anos e os doentes de risco com 50 ou mais anos, garantiu Graça Freitas, que estão a ser inoculados preferencialmente com as vacinas da Pfizer e . “O que foi decidido é que vacinaríamos em paralelo duas linhagens: as pessoas com comorbilidades e, em simultâneo, os professores e os não docentes. As escolas estão a ser o sector que vai desconfinar primeiro e portanto, numa tentativa de protecção ainda maior da comunidade escolar, serão também vacinados professores”, explicou.

Sobre a recusa da vacina da AstraZeneca, num primeiro momento, a directora-geral não respondeu directamente, optando por salientar a segurança e eficácia da vacina. “Quando decidimos pôr uma vacina a circular e a ser administrada, é porque nos dá garantias de que é segura, eficaz e tem qualidade. Se for oferecida uma vacina, seja qual for a marca, deve aceitá-la. O risco de ter doença, doença grave, internamento e indesejavelmente morte, é muito superior”, aconselhou.

Perante a insistência dos jornalistas, Graça Freitas clarificou um pouco melhor esta questão, dando a entender que quem recusar tomar a vacina da AstraZeneca, ou qualquer outra, está a recusar a imunização. “A recusa de uma vacina é recusar proteger-se e recusar proteger-se contra uma doença grave. A alternativa [para quem recusa tomar uma qualquer vacina de qualquer marca] é essas pessoas continuarem vulneráveis e susceptíveis de contraírem uma doença que pode ser grave e que pode ser letal”, afirmou.

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