Putin promete represálias aos comentários de Biden e a tensão aumenta entre Rússia e EUA

“[Biden] mostrou claramente que não querer investir nas relações com o nosso país. Agiremos a partir disso”, declarou o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov.

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Vladimir Putin riposta às declarações de Joe Biden, depois do país ter sido acusado de interferir nas eleições americanas de 2020 ALEXEI DRUZHININ / SPUTNIK / KREMLIN POOL / LUSA

A tensão entre os EUA e a Rússia tem vindo a escalar depois de o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter descrito Vladimir Putin como “assassino”, numa entrevista à estação televisiva ABC News. Em resposta às declarações, o Presidente russo ripostou que é preciso um assassino para reconhecer outro, também em entrevista numa estação televisiva russa, nesta quinta-feira. E prometeu represálias se não forem apresentadas desculpas.

A declaração de Biden foi feita quando, a dada altura na entrevista, foi questionado sobre se pensava que Putin era “um assassino”: “Penso que sim.” 

Putin respondeu que “vemos nas outras pessoas as nossas próprias características e acreditamos que elas são como nós – e como consequência avaliamos as suas atitudes”. 

“Recordo-me de na minha infância, quando discutíamos uns com os outros no pátio da escola, costumávamos dizer: se chamas nomes a alguém, esse é, na verdade, o teu nome”, disse Putin. “Quando caracterizamos alguém, ou até outros Estados, outros povos, é como se nos olhássemos ao espelho”, declarou o chefe de Estado russo. 

Putin desejou a Biden boa saúde, o que, esclareceu, foi dito “sem ironia”. O Kremlin, explica o New York Times, tem feito insinuações de que o Presidente dos EUA pode não estar bem de saúde.

As entrevistas seguiram-se às sanções impostas por Washington a Moscovo devido ao envenenamento do opositor de Vladimir Putin, Alexei Navalny, alegadamente por agentes dos serviços secretos russos, e à possível interferência russa nas eleições americanas de 2020. O Kremlin nega ambas as acusações.

Num relatório dos serviços secretos americanos, publicado na terça-feira, a Rússia é acusada de difundir “alegações enganosas e não fundamentadas” sobre Biden, numa tentativa de descredibilizar o então candidato à Casa Branca. Joe Biden afirmou que o Presidente russo “pagará o preço” em breve pela interferência nas eleições, mediada pelos aliados de Trump. 

Parte da tensão provocada pela entrevista de Biden ficou logo clara quando o Governo russo chamou o embaixador nos Estados Unidos para Moscovo, numa acção rara, avisando para a possibilidade de “deterioração irreversível das relações” entre os dois países, logo após as declarações do Presidente americano. 

“Estes são comentários maus do Presidente dos EUA. Ele mostrou claramente que não querer investir nas relações com o nosso país. Agiremos a partir disso”, declarou o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov.

Várias figuras da política russa reagiram aos comentários de Biden. Para Andrei Turchak, político do partido Rússia Unida, a entrevista de Joe Biden confirmou o “triunfo da insanidade política dos EUA” e a “demência causada pela idade no seu líder”. Já Vyacheslav Volodin, presidente do Parlamento russo, considerou que o “histérico” Presidente americano “insultou os cidadãos” do país.

Porém, no que concerne à posição americana, Biden já tinha deixado claro que iria ser mais rígido do que a administração de Trump. Aliás, tem sido exercida pressão sobre o líder russo em relação à perseguição e detenção de Navalny e aos ciberataques contra as agências governamentais americanas.

“A Rússia vai ser responsabilizada pelas suas acções”, confirmou Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.

As relações diplomáticas entre os dois países encontram-se de novo “num estado frágil”, segundo a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, culpando Washington pelo “beco sem saída” onde têm estado nos últimos anos.

O New York Times aponta que muitas vezes alturas de repressão interna são acompanhadas por uma escalada de tensão da Rússia com o Ocidente. O Kremlin alega que os EUA apoiam políticos da oposição para enfraquecer Putin.

Esta semana, aponta o diário norte-americano, o regulador russo de Internet anunciou que estava a preparar-se para bloquear totalmente o acesso à rede social Twitter no país, depois de na semana ter levado a cabo restrições no acesso.

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