Desenho das redes sociais fomenta partilhas de conteúdos falsos

Os hábitos de partilha nas redes sociais podem ser modificados através de lembretes sobre a veracidade dos conteúdos, conclui o trabalho de investigação.

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Phil Noble/reuters

Um estudo que contou com académicos do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, concluiu que a maioria das pessoas que partilha notícias falsas nas redes sociais o faz sem intenção, sendo fomentado pela arquitectura das plataformas.

“Um novo estudo em co-autoria de académicos do MIT conclui que as pessoas que partilham notícias falsas online o fazem não intencionalmente, e que os seus hábitos de partilha podem ser modificados através de lembretes acerca de veracidade”, pode ler-se no resumo do estudo publicado esta quarta-feira na revista Nature.

Segundo o estudo, intitulado “Mudar a atenção para a veracidade pode reduzir a desinformação online”, “quando esses lembretes são apresentados, isso pode aumentar o fosso entre a percentagem de conteúdos noticiosos verdadeiros e falsos que as pessoas partilham online”.

Para um dos investigadores envolvidos no estudo, Ziv Epstein, “o actual desenho das redes sociais, que pode priorizar o engajamento e a captação de utilizadores à veracidade, desequilibra” o esforço que as pessoas fazem para não partilhar conteúdos falsos.

Outro dos investigadores envolvidos, David Rand, diz esperar que o estudo “possa ajudar a inspirar as plataformas a desenvolver esse tipo de intervenções”, podendo não só captar a atenção dos utilizadores mas “fazer coisas proactivas para direccionar o foco dos utilizadores para a veracidade”.

No estudo, cerca de 50% dos utilizadores partilharam uma série de notícias falsas “devido a falta de atenção relacionada com a forma precipitada como as pessoas usam as redes sociais”, 33% “estavam enganadas acerca da veracidade das notícias que viram e partilharam porque pensaram (erradamente) que eram verdade”, e cerca de 16% partilharam conteúdos falsos propositadamente.

O estudo consiste em várias experiências que abrangeram mais de 5000 participantes, bem como trabalho de campo conduzido no Twitter.

Na primeira fase, 1075 pessoas consideraram partilhar notícias que eram falsas mas alinhadas com as suas convicções 37,4% das vezes, mesmo que tenham considerado os títulos verdadeiros apenas 18,2% das vezes.

Numa segunda fase do estudo, com 1507 participantes, metade foi convidada a avaliar a veracidade de um conteúdo aleatório não enviesado.

Da metade que não fez essa avaliação, os participantes disseram que seria provável partilharem 33% de conteúdos verdadeiros e 28% de falsos, ao passo que dos que fizeram a avaliação, 34% disse que partilharia conteúdos verdadeiros e 22% conteúdos falsos.

No Twitter, foram criadas contas falsas e enviadas mensagens para 5379 utilizadores que partilhavam habitualmente links para sites de desinformação, que após serem alertados para a veracidade dos conteúdos passaram a partilhar conteúdos de sites noticiosos de qualidade.

Numa última fase, 710 inquiridos foram obrigados a avaliar a veracidade dos conteúdos apresentados, e a percentagem de conteúdos falsos partilhados passou de 30% para 15% face ao anteriormente verificado. “Devido à descida desse número em metade, os investigadores puderam concluir que 50% dos participantes que anteriormente partilharam notícias falsas fizeram-no por simples falta de atenção à veracidade”, de acordo com o estudo.