Há um português (e muita pandemia) entre os nomeados aos prémios World Press Photo 2021
Nuno André Ferreira, da Agência Lusa, concorre na categoria de Notícias Locais com uma fotografia intitulada Fogo na Floresta. Os vencedores serão conhecidos no dia 15 de Abril.
Entre os seis finalistas nomeados ao prémio da Fotografia do Ano da 64.ª edição do concurso da World Press Photo está a fotógrafa norte-americana Evelyn Hockstein, com uma fotografia intitulada Debate sobre o Memorial da Emancipação, que representa Abraham Lincoln a desagrilhoar um escravo. Mostra, de um lado, Anais, de 26 anos, a defender a retirada do Memorial da Emancipação; à sua direita, um homem que deseja mantê-lo. Captada a 25 de Junho de 2020 no Lincoln Park, em Washington, esta imagem representa para o júri do prémio o que está hoje em discussão, na América e no mundo, com o movimento Black Lives Matter.
A fotografia de Evelyn Hockstein está também nomeada na categoria de Notícias Locais, em que concorre com Nuno André Ferreira, da Agência Lusa. Em Fogo na Floresta, tirada em Setembro de 2020 numa aldeia do concelho de Oliveira de Frades, uma criança olha para nós dentro de um carro, com um violento incêndio em pano de fundo. Nessa tarde tinha morrido um bombeiro.
“Escolhi aquela fotografia, porque há um contraste entre a ternura de uma criança e o incêndio, que é uma coisa tão má. E vemos ali uma criança dentro do carro, que parece que está imune àquilo tudo, porque também ela não percebe o que se passa à volta dela”, explica o fotojornalista, em declarações à Lusa. Nascido em 1979, Nuno André Ferreira vive em Viseu e trabalha com a agência Lusa desde 2009; em 2019, venceu por unanimidade o Prémio Rei de Espanha de Jornalismo, com a fotografia O Nosso Presidente Marcelo, publicada a 19 de Outubro de 2017. A terceira candidata a esta categoria de Notícias Locais é a bielorrussa Nadia Buzhan, com uma imagem em que se vê uma mulher com um ramo de flores à espera de alguém que vai sair de um centro de detenção temporária.
Como seria de esperar, a pandemia de covid-19 contamina esta edição da World Press Photo, mas muitos outros tópicos emergem das imagens seleccionadas, e também das candidatas a Fotografia do Ano. Entre outros finalistas ao principal prémio deste concurso, que se realiza desde 1955, está o dinamarquês Mads Nissen, com O Primeiro Abraço, em que se documenta o novo normal do contacto físico mediado por máscaras e outros materiais de protecção: Rosa Luzia Lunardi, de 85 anos, é abraçada pela enfermeira Adriana Silva da Costa Souza, no lar Viva Bem, em São Paulo, Brasil, a 5 Agosto de 2020.
Concorrem na mesma categoria o russo Valery Melnikov, com Deixar a Casa em Nagorno-Karabakh, em que Azat Gevorkyan e Anaik exemplificam quanto uma família pode sofrer com um conflito político (no caso, o interminável diferendo entre o Azerbaijão e a Arménia); o também russo Oleg Ponomarev, com o retrato A Transição: Ignat, sobre a realidade das mudanças de sexo personificada em Ignat, um homem transgénero que sofreu insultos e humilhações na escola, (aqui fotografado com a sua namorada Maria, em São Petersburgo); o espanhol Luis Tato, com Lutar contra a Invasão de Gafanhotos na África Oriental, que nos mostra Henry Lenayasa, no Quénia, a 24 de Abril de 2020 com uma máscara por causa da pandemia de Covid-19 a lutar contra os insectos; e o italiano Lorenzo Tugnoli, com Homem Ferido na Explosão no Porto de Beirute, fotografia captada a 4 de Agosto de 2020.
Já para Reportagem do Ano estão nomeados Aqueles que Ficarem Serão Campeões, do canadiano Chris Donovan, sobre a equipa de basquetebol The Flint Jaguars, concorre na categoria de Desporto; Habibi, que significa “meu amor” em árabe, do italiano Antonio Faccilongo (categoria de Projectos de Longo Curso) retrata histórias de amor no conflito israelo-palestiniano ; e Paraíso Perdido, do russo Valery Melnikov (Notícias) sobre o conflito entre o Azerbaijão e a Arménia.
Num ano sem precedentes, marcado pela pandemia de covid-19 e por protestos e lutas por justiça social em todo o mundo, o júri considerou que os nomeados partilham uma diversidade de interpretações e perspectivas sobre estas e outras questões urgentes, como a crise climática, os direitos das pessoas transgénero e os conflitos territoriais. Uma das fotografias mostra um leão-marinho da Califórnia a brincar com uma máscara perdida dentro de água. Foi tirada por Ralph Pace e está nomeada na categoria de Ambiente. Mas há também uma impressionante imagem de uma pessoa morta, deitada em cima de uma cama de hospital, que foi envolvida em película plastificada da cabeça aos pés por haver suspeitas de que tenha sido vítima de covid-19. A imagem foi captada por Joshua Irwandi, na Indonésia, e está nomeada na categoria de Notícias. Noutra imagem, de Ivan Macias, que concorre na categoria de Retrato, são visíveis no rosto de uma médica mexicana as marcas que os óculos e as máscaras de protecção lhe deixaram no final do seu turno numa unidade hospitalar da Cidade do México.
Rodrigo Orrantia, um dos membros do júri, diz ainda que os fotógrafos, principalmente os fotojornalistas e os jornalistas multimédia, estão a descobrir novas maneiras de contar uma história visualmente.
Para esta edição estão nomeados 45 fotógrafos, de 28 países (Argentina, Arménia, Austrália, Bangladesh, Bielorrússia, Brasil, Canadá, Dinamarca, França, Grécia, Índia, Indonésia, Itália, Irão, Irlanda, México, Myanmar, Peru, Filipinas, Polónia, Portugal, Rússia, Eslovénia, Espanha, Suécia, Suíça, Países Baixos e Estados Unidos da América). Os dois prémios principais têm o valor de 5 mil euros cada um.
Ao World Press Photo 2021 concorreram 4315 fotógrafos, de 130 países, num total de 74.470 imagens.