“Não somos força de apoio ao PS”, garante Jerónimo de Sousa nos 100 anos do PCP - e quer mais “luta”
Comunistas comemoraram o centenário um pouco por todo o país e juntaram cerca de 700 apoiantes no Rossio, em Lisboa. Cem jovens da JCP desfilaram durante duas horas por locais emblemáticos da Baixa lisboeta. Líder pede “intensificação da luta”.
Jerónimo de Sousa defendeu este sábado que os graves problemas não se resolvem “dando retoques no mesmo fracassado modelo” que tem sido aplicado no país e que o levou ao “retrocesso e ao atraso” e deixou dois avisos: o PCP não é “força de apoio ao PS” e é preciso “intensificar e alargar a luta”.
No discurso que assinalou os cem anos do partido, num evento que levou à placa central do Rossio pelo menos 700 apoiantes, o líder comunista falou da história do PCP, reafirmou a pertença à teoria marxista-leninista, analisou a actualidade política, fez um balanço da situação “grave” que o país atravessa e não poupou nas críticas à direita nem ao PS, metendo-o no mesmo saco de PSD e CDS, e acusando-se de não ter soluções para o país – nem o plano de resiliência será grande ajuda.
“O PS no essencial não mudou e PSD e CDS e seus sucedâneos querem o regresso a um passado que o povo condenou”, vincou Jerónimo de Sousa, que garantiu a seguir: “Não somos força de apoio ao PS, nem instrumento ao serviço dos projectos reaccionários do PSD, CDS e seus sucedâneos. Somos a força da alternativa patriótica e de esquerda e que está na luta pela sua concretização!”
Jerónimo de Sousa defendeu também a necessidade de aumentar a contestação, vincando que a situação actual do país “reclama a intensificação e alargamento da luta, de todas as lutas, pequenas e grandes, da classe operária, dos trabalhadores” em torno da CGTP.
O secretário-geral comunista acusou a direita de ter um plano para “impor um brutal retrocesso da vida dos portugueses”. Esse projecto das "forças reaccionárias” - PSD, CDS, Chega e IL, os “novos pontas de lança do grande capital” - visa a “subversão da Constituição e a revisão das leis eleitorais que o PSD já prepara para formar maiorias eleitorais artificiais”, ao mesmo tempo que dão força à “suspeição generalizada sobre a política e o regime democrático”, fomentam “medos irracionais, tensões racistas, xenófobas e homofóbicas” e uma “suposta cruzada contra a corrupção que esconde as suas causa e absolve os verdadeiros corruptos”.
No início da sua intervenção, o secretário-geral apontara as razões para o partido ter conseguido um percurso de cem anos de “intervenção marcante e decisiva”, mesmo atravessando “tempestades” e uma “feroz ditadura fascista” de quase 50 anos: por ter uma natureza de “partido da classe operária”, por assentar na “teoria revolucionária do marxismo-leninismo”, ter um “projecto construído a partir da realidade portuguesa”. E ainda por ter beneficiado da “dedicação e o trabalho” de muitos combatentes de várias gerações, “de onde sobressai essa figura ímpar, o camarada Álvaro Cunhal”, sublinhou Jerónimo de Sousa.
Antes dos discursos no Rossio, um grupo de pouco mais de cem jovens da JCP andou a percorrer durante duas horas alguns pontos da Baixa de Lisboa que são emblemáticos para o PCP, num desfile intitulado “100 jovens em desfile. Passos pela história do PCP, o socialismo no horizonte!”. Arrancaram da Rua do Arsenal onde trabalhava Bento Gonçalves, o segundo secretário-geral da história comunista e que morreu no Tarrafal, passaram pelo número 225 de Rua da Madalena, onde o partido foi fundado a 6 de Março de 1921, seguiram para a Rua António Maria Cardoso, para uma homenagem a quem sofreu às mãos da polícia política; e depois para o Largo do Carmo, local simbólico do 25 de Abril.