Dia Mundial da Obesidade
A alimentação é feita de paradoxos. Ligamos obesidade a vulnerabilidade. Desnutrição a excesso de peso. Insegurança alimentar a crescimento ponderal. Desperdício alimentar a escassez e dificuldades no acesso. Dietas a restrições. Perdas de peso rápidas a aumentos yo-yo. Carga emocional a moda.
A obesidade é multifactorial. O seu combate deverá ser integral. Diagnosticamo-la apenas com duas medições (estatura e peso), enquanto traçamos o mapa da história clínica. Assinalamos os marcos do caminho de um (des)balanço calórico, registando as pistas de natureza familiar, social e pessoal. As categorizações levam-nos a relacioná-la com dados socioeconómicos, permitindo tirar fotografias sanitárias. No geral, somos bons em diagnósticos. E ávidos por etiquetar.
Ao mesmo tempo, sabemos demasiado bem que cada pessoa tem a sua vivência e que a obesidade é mais complexa do que categórica. Mais profunda do que leviana. Mais dolorosa do que pesada. Sabemos bem quão exigente é revertê-la.
Pesa a massa corporal, a sensação física, a gestão alimentar, os custos. Mas tudo isso dói mais do que pesa. Dói e pesa.
A alimentação é feita de paradoxos. Ligamos obesidade a vulnerabilidade. Desnutrição a excesso de peso. Insegurança alimentar a crescimento ponderal. Desperdício alimentar a escassez e dificuldades no acesso. Dietas a restrições. Perdas de peso rápidas a aumentos yo-yo. Carga emocional a moda. Super alimentos a desvinculação territorial e identitária.
Somos paradoxalmente necessitados e resistentes de, e a, medidas enraizadas, estratégias integradas, profundidade, harmonização e simplicidade. A ir à raiz da questão. Precisamos e resistimos à mudança de hábitos e estilo de vida. Precisamos de ajuda profissional, não só especializada como também integrada (e apostarmos numa formação profissional, investigação e prática clínica, cada vez mais nesse sentido).
Olhar, actuar e intervir de forma integral exige assumir que é a despensa de casa que tem que mudar, mas também a disposição e conteúdo do que encontramos nos supermercados. Que são os menus do que encomendamos, do que compramos, mas também do que pensamos e cozinhamos, que têm que mudar. É o ordenamento territorial das cidades e são as políticas a nível nacional. Os programas educativos, os horários laborais, a paisagem. É o ambiente alimentar, a convivência social, a relação connosco próprios que têm que ser trabalhados. A responsabilidade individual assumida, o dever cívico respondido e o poder de catalisar mudanças pelas exigências como consumidores, cumpridos. A melhoria pessoal como decisão e a liberdade interior como motor. O exemplo e a história de todos os que diariamente assumem o seu processo de mudança de hábitos e estilo de vida e que revertem a obesidade (ou qualquer outra necessidade), como inspiração.