Consultas relacionadas com a covid nos centros de saúde descem a pique num mês

Entre 15 e 21 de Fevereiro realizaram-se 50 mil consultas relacionadas com covid, quando entre 25 a 31 de Janeiro eram 200 mil. Descida poderá permitir mais um passo em frente na recuperação das consultas presenciais nos centros de saúde, já que estas foram as mais penalizadas pela pandemia.

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Os centros de saúde estão a realizar um quarto das consultas relacionadas com a covid-19 quando comparado com as que estavam a fazer há um mês. De acordo com o boletim da vigilância da gripe, divulgado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), na semana 7 do ano entre 15 e 21 de Fevereiro realizaram-se 50 mil consultas, quando na semana 4 — 25 a 31 de Janeiro esse número estava nos 200 mil. Esta descida, de 75%, poderá permitir mais um passo em frente na recuperação das consultas presenciais, as mais penalizadas com a pandemia.

A tendência decrescente de consultas relacionadas a covid-19 em cuidados de saúde primários, nas quais estão incluídas as consultas para vigilância, registou-se em todas as regiões de saúde e grupos etários. Nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte as consultas rondaram as 20 mil, no Centro cerca de 10 mil e no Alentejo e Algarve cerca de 2500. Quanto às faixas etárias, é nos 20-49 anos que mais consultas se realizaram (25 mil), seguida da 50-69 anos (15 mil). Na faixa dos zero aos 19 anos realizaram-se 5000 e nas mais velhas (a partir dos 70 anos) não chegou a esse valor.

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De acordo com os dados do Portal do SNS, analisados pelo PÚBLICO, em Janeiro deste ano realizou-se um total de 3,3 milhões de consultas nos centros de saúde, o número mais alto de que há registo neste portal. Contudo, esse acréscimo foi conseguido à conta das consultas não presenciais. Aliás, o ano passado trouxe uma inversão do que era a prática habitual e o arranque deste ano volta a confirmá-lo.

Em Janeiro, 69,2% das consultas realizadas foram não presenciais ou seja, em cada dez consultas sete foram neste formato representando as consultas presenciais 30,5%. Há um ano, 68,2% das consultas eram presenciais e 31,1% não presenciais. No que diz respeito às consultas no domicílio, a variação não foi grande: 0,4% em Janeiro deste ano por comparação com 0,7% em Janeiro de 2020.

Em números absolutos, realizaram-se em Janeiro deste ano cerca de um milhão de consultas presenciais (menos 888 mil do que no período homólogo) e 2,3 milhões de consultas não presenciais (mais 1,4 milhões que no período homólogo). Nas consultas ao domicílio, registaram-se 11.865 este ano, quando no período homólogo foram 19.091.

Em relação a Dezembro, fizeram-se mais consultas presenciais mas é preciso não esquecer que aquele é um mês em que tendencialmente a procura de cuidados desce por causa dos feriados e das festas. Já comparando com Novembro, o número de consultas presenciais de Janeiro ainda é inferior à registada naquele mês.

Uma folga para responder a outros doentes

Mas o decréscimo nas consultas por covid pode significar uma folga preciosa. “Isto funciona um pouco como um harmónio. Se estamos no atendimento covid, nas visitas aos lares, não estamos a fazer outras tarefas. Este alívio permite-nos usar esse tempo nos doentes sem covid, marcando consultas presenciais. Não será uma recuperação, mas retomar um pouco a actuação junto dos grupos de risco e dos mais vulneráveis: grávidas, crianças, nos diabéticos, hipertensos, nos rastreios”, diz Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).

A continuidade da descida de casos de covid e a vacinação são dois pontos fundamentais para uma aproximação à normalidade do funcionamento dos centros de saúde. Mas “é difícil prever quantos meses” poderão ser precisos para se chegar aí. “A médio prazo não será igual ao que era. Dificilmente vamos juntar tantos utentes numa sala de espera enquanto a pandemia estiver em curso e continuamos a ter pessoas com receio de ir aos centros de saúde nesta fase”, diz Nuno Jacinto.

Esta nova realidade também permitiu perceber que “para algumas situações as consultas não presenciais são uma boa resposta” e, por isso, o número passará a ser maior do que era na fase pré-pandemia. “Mas nunca nesta proporção. Temos de garantir um número adequado de consultas presenciais para dar resposta a quem precisa e para fazer vigilância”, afirma.

Rui Nogueira, médico de família em Coimbra e ex-presidente da APMGF, lembra que “mais de 95% dos doentes com covid são seguidos nos centros de saúde”. “Em três semanas — de 5 a 23 de Janeiro — passámos de 80 mil casos de doentes com covid para 160 mil”, diz, referindo o “trabalho excepcional” que as equipas de saúde fizeram ao contactar os doentes, “por todos os meios possíveis”, num ano tão exigente.

Nesta fase, estão a recuperar o contacto com os doentes de maior risco, no caso aqueles que sofrem de diabetes e hipertensão. “A primeira preocupação é ver estes doentes que têm consultas e exames em atraso e fazer a revisão da medicação”, diz. Apesar de todo o esforço, “falta recuperar as doenças mentais e os doentes oncológicos que não foram diagnosticados”. A infecção obriga a um menor número de pessoas juntas, o que tem efeito na capacidade de resposta. Mas a manter-se uma situação epidemiológica favorável, a juntar à vacinação, Rui Nogueira acredita que “em Abril poderemos estar numa situação próxima do normal”.

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