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Para desconfinar, Portugal tem que chegar aos números do início de Outubro

Metas traçadas pelo Presidente da República apontam para uma média de novos casos diários abaixo dos dois mil, menos de 1250 internados, menos de 200 camas ocupadas em cuidados intensivos e uma taxa de incidência da covid-19 próxima dos níveis europeus.

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Pedro Nunes/Reuters

Se forem seguidas as metas traçadas pelo Presidente da República, Portugal apenas poderá desconfinar quando chegar aos números de casos diários de infecção pelo novo coronavírus, internamentos em enfermaria e cuidados intensivos e à taxa de incidência que registava no início de Outubro de 2020.

Os critérios foram delineados por Marcelo Rebelo de Sousa quando falou ao país há duas semanas: “Temos, até à Páscoa, de descer os infectados para menos de dois mil, para que os internamentos e os cuidados intensivos desçam dos mais de cinco mil e mais de 800 agora para perto de um quarto desses valores e descer também a propagação do vírus para números europeus.”

Significa isto que:

  • os novos casos diários têm que permanecer abaixo dos dois mil;
  • os internamentos abaixo de 1250;
  • os pacientes com covid-19 em unidades de cuidados intensivos abaixo de 200;
  • a taxa de incidência da doença na população ronde a média europeia.

Se recuarmos nos boletins da Direcção-Geral da Saúde, concluímos que é preciso recuar até aos primeiros dias do mês de Outubro para obter estes números. A partir do dia 14 de Outubro, o número de novas infecções ultrapassou a fasquia das duas mil.

Na última reunião de especialistas no Infarmed, esta segunda-feira, Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), explicou que, em termos de ocupação em unidades de cuidados intensivos por doentes com covid-19, Portugal está “numa fase de decréscimo do número de camas, mas ainda com valores bastante elevados”. Segundo o especialista, só no final de Março deveremos ter menos de 200 camas ocupadas em unidades de cuidados intensivos — uma das metas traçadas por Marcelo Rebelo de Sousa para o desconfinamento.

Por outro lado, uma estimativa da Faculdade de Gestão de Informação da Universidade Nova (Nova IMS) e da COTEC Portugal, divulgada esta sexta-feira, indica que Portugal poderá cumprir os critérios para o desconfinamento a meio de Março.

Incidência volta a aproximar-se da média europeia

Em Outubro, a taxa de incidência da covid-19 em Portugal a 14 dias estava também próxima dos níveis europeus: em território português variava, à data, entre os 1000 e os 1400 casos por milhão de habitantes, enquanto a média europeia apresentava-se entre os 1100 e os 1700, segundo a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Os níveis de incidência da covid-19 em Portugal e na Europa mantiveram-se próximos até ao início de Novembro, altura em que o país se começou a afastar da média europeia. Só agora nos últimos dias de Fevereiro, passados mais de três meses, a taxa de incidência da covid-19 por milhão de habitantes em Portugal se voltou a aproximar dos níveis europeus.

Nesta semana, Portugal deixou, aliás, de estar entre as regiões europeias de risco muito elevado, tendo passado do oitavo para o 20.º país com maior taxa de incidência de covid-19 (por cem mil habitantes) na Europa, segundo os dados divulgados esta quinta-feira pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças.

Média diária de novos casos foi a mais baixa desde Outubro

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam ainda que a média diária de novos casos de contágio pelo novo coronavírus desceu esta semana para níveis que não se viam desde Outubro. No boletim de informação estatística sobre a pandemia divulgado esta sexta-feira, o INE indica que na quarta-feira a média de novos casos diários (calculada com base nos sete dias anteriores) era de 1274, “o valor mais baixo desde o dia 13 de Outubro de 2020”.

Depois do pico atingido a 27 de Janeiro, dia em que a média de novos casos diários a sete dias chegou aos 12.891, começou uma “diminuição acentuada do número de novos casos confirmados”, revela o INE.

Nesta sexta-feira, foram reportados mais 1027 novos casos de infecção pelo novo coronavírus e 58 mortes em Portugal, de acordo com os últimos dados divulgados pela Direcção-Geral da Saúde (referentes a quinta-feira). O número de internados com covid-19 nos hospitais portugueses voltou a descer, tendo-se registado menos 209 pessoas hospitalizadas, num total de 2404. Há 14 dias consecutivos que o número de internados em cuidados intensivos também vem a baixar, contabilizando-se menos 14 doentes nos cuidados intensivos, num total de 522. Há actualmente 72.037 casos activos e 714.493 pessoas já recuperaram da doença em Portugal.

Rt abaixo de 1,1

Além dos critérios apresentados por Marcelo Rebelo de Sousa, há outros indicadores cuja importância os especialistas destacam para a análise da evolução da pandemia de covid-19 e a implementação de medidas. Um deles é o Rt, ou seja, o número médio de pessoas que cada infectado contagia.

Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, apresentou esta quarta-feira, na Assembleia da República, uma proposta de cinco níveis de risco que podem servir de guia para o início de um confinamento ou desconfinamento, a partir de quatro indicadores:

  • um Rt abaixo de 1,1;
  • uma média de incidência a sete dias abaixo de 3000 novos casos;
  • percentagem de testes positivos (positividade) abaixo de 7,5%;
  • e um limite de 242 camas em cuidados intensivos e de 1300 em enfermaria.

Quanto ao Rt, os dados mostram que este se manteve abaixo de 1,1 desde o final de Março até ao final de Agosto, altura em que registou um aumento. Em Outubro, este indicador manteve-se acima deste limite de 1,1, tendo descido para menos de 1 durante parte de Novembro e Dezembro. A partir do final de Janeiro, o Rt diminuiu acentuadamente e chegou mesmo a atingir, já em meados de Fevereiro, o valor mais baixo de sempre: 0,6.

Segundo dados divulgados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), referentes ao período entre 17 e 21 de Fevereiro, o Rt em Portugal é de 0,68. “Os resultados indicam uma tendência decrescente de novos casos ao nível nacional em todas a regiões do país”, refere o INSA no relatório.

Os dados revelam ainda que o Rt encontra-se abaixo de 1 em todas as regiões do país, apontando para um índice de transmissibilidade de 0,65 no Alentejo e no Norte, de 0,66 na região Centro, de 0,68 na região de Lisboa e Vale do Tejo, de 0,70 na região do Algarve, de 0,80 nos Açores e de 0,95 na Madeira.

A taxa de positividade da covid-19 tem vindo a diminuir nos últimos dias, mantendo-se actualmente próxima de 5%, de acordo com dados de terça-feira divulgados por Carlos Antunes. As recomendações internacionais apontam para uma percentagem de testes positivos entre os 5% e os 10% e, idealmente, abaixo de 5%. Conforme noticiou o PÚBLICO, o número de testes de diagnóstico à covid-19 realizados em Portugal também diminuiu durante o mês de Fevereiro, o que está relacionado com o confinamento e a redução dos contactos sociais.

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