É a maior colecção de fotografias térmicas de elefantes em todo o mundo: mais de 30 mil. Os ângulos são variados, bem como as distâncias e as actividades que os animais se encontram a realizar, mas o objectivo é um só: permitir a coexistência de elefantes e humanos em áreas rurais, de forma a preservar as espécies que se encontram ameaçadas.
A Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) iniciou o projecto HEAT (Human-Elephant Alert Technologies) há dois anos, em resposta ao aumento da pressão exercida pelo crescimento da população humana, “que tem destruído o habitat natural do elefante asiático e africano e enclausurado os animais em áreas cada vez mais pequenas, forçando-os a um maior contacto com as pessoas”, explica Tina Campanella, assessora de imprensa da ZSL, ao P3.
As câmaras do projecto captaram a assinatura térmica de dezenas de elefantes presentes nos zoos de Whipsnade e Colchester, em Inglaterra, de forma a criarem uma base de dados, que, por sua vez, vai permitir a criação de uma tecnologia que identifica elefantes e humanos, a qualquer hora do dia, num raio máximo de 30 metros. Quando estiverem implementadas em África e na Ásia, as câmaras vão detectar aproximações entre estes animais e pessoas, o que leva o HEAT a enviar um alerta às populações que vivem perto da área de risco ou a equipas especializadas, prontas a intervir.
“Os elefantes são espécies icónicas e são muito importantes para a ecologia e economia de vários países, por isso é necessário conservá-los. No entanto, se fores um agricultor que trabalha perto de parques nacionais ou áreas protegidas, viver com elefantes vem com um preço muito alto a pagar”, afirma Kate Evans, da organização não-governamental Elephants for Africa, à BBC. Só na Índia, são registadas cerca de 400 mortes de humanos e 100 de elefantes, por ano, devido a conflitos derivados da destruição de plantações e casas por estes animais.
O próximo passo do projecto compreende a construção de câmaras-protótipo, ao mesmo tempo que a equipa do HEAT “colabora com outras equipas em África e na Ásia para perceberem como podem optimizar o processo, de forma a constituírem uma mais-valia para as comunidades e animais selvagens da área”, de acordo com Tina Campanella. Os primeiros testes de campo devem iniciar-se no final de 2021 ou início de 2022, dependendo das limitações impostas pela pandemia.
No entanto, o projecto pode vir a ser ameaçado pela falta de fundos destes zoos, situação que a covid-19 veio agravar. A assessora de imprensa da ZSL afirma que, “em 2020, a empresa perdeu 20 milhões de libras [aproximadamente, 23 milhões de euros] devido ao fecho dos zoos de Londres e Whipsnade e à limitação estrita de visitantes, quando ainda estavam abertos”. Já este ano, e a contar que o encerramento seja revertido, a ZSL estima perdas de 6 milhões de libras.
Texto editado por Amanda Ribeiro