AstraZeneca anuncia aumento de produção fora da União Europeia para evitar incumprimento

Fabricante adianta que cadeia de abastecimento está a ser alargada, mantendo objectivo de entregar 180 milhões de doses no segundo semestre. Informação sobre incumprimento no contrato foi adiantada por responsável europeu, que falou com a agência Reuters sob anonimato.

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LUSA/CIRO FUSCO

Do total de vacinas contratualizadas com a União Europeia para o segundo quadrimestre com a AstraZeneca, apenas devem chegar aos países menos de metade. A Reuters cita um responsável da União Europeia, que pediu para manter o anonimato. A agência de notícias diz que esta fonte participa activamente nas reuniões internas com a fabricante, garantindo que esta quebra na entrega das vacinas foi avançada pela própria empresa num destes encontros. Por sua vez, a fabricante admite as dificuldades de produção, mas garante que através da produção de vacinas fora da União Europeia, será possível atingir a meta de doses acordada.

A AstraZeneca “está a trabalhar para aumentar a produtividade na sua cadeia de abastecimento na UE” e usará “a sua capacidade global para garantir a entrega de 180 milhões de doses à UE no segundo semestre do ano”, disse à Agência France-Presse (AFP) um porta-voz do grupo sueco. “Cerca de metade do volume esperado deve vir da cadeia de abastecimento da UE” e o resto virá da rede internacional da empresa, afirmou o porta-voz.

O PÚBLICO enviou um pedido de esclarecimento para o Ministério da Saúde e para a Direcção-Geral de Saúde (DGS), de modo a perceber o número de doses que Portugal receberá após este ajuste, bem como se esta quebra na distribuição terá efeito na meta de vacinação traçada no país, comum a todos os territórios da União Europeia. Até ao momento, ainda não foi possível obter uma reacção junto das entidades competentes. 

De acordo com as contas feitas pela Reuters, devem chegar 130 milhões de doses até ao final de Junho, um valor bem abaixo das 300 milhões de vacinas contratualizadas com a fabricante. No segundo quadrimestre, a União Europeia esperava receber 180 milhões de doses desta vacina. A União Europeia traçou o objectivo de vacinar 70% da população adulta até ao Verão, meta que pode ser colocada em risco se existir uma quebra substancial na distribuição de vacinas

A Irlanda já tomou em conta esta alteração aos números, ajustando esta terça-feira a previsão da vacinação contra a covid-19. Esta informação foi avançada pelo primeiro-ministro irlandês Micheál Martin, que tinha avançado o objectivo de vacinar entre 50 e 60% da população adulta se todas as vacinas chegassem a tempo. 

“Porque estamos a trabalhar afincadamente para aumentar a nossa produção na cadeia de fornecimento da União Europeia, e fazer tudo para aproveitar a nossa cadeia de distribuição global, temos esperança de que conseguiremos trazer as nossas entregas para um valor mais próximo do acordo de compra”, adiantou um porta-voz à Reuters, recusando-se a avançar números concretos.

O responsável europeu que falou à Reuters sob anonimato confirmou à agência de notícias que a Astrazeneca prevê entregar, até Abril, 40 milhões de doses, novamente menos de metade do valor previsto – que se fixava nas 90 milhões de doses.

O primeiro-ministro, António Costa, já tinha abordado uma quebra na distribuição de vacinas há praticamente duas semanas. Em conferência de imprensa, o governante adiantou que estava contratualizada a entrega de 4,4 milhões de vacinas contra o novo coronavírus no primeiro trimestre, mas que Portugal só receberia 1.980.000 nesse período. Como são necessárias duas doses de cada uma das três vacinas actualmente autorizadas (a da BioNTech/Pfizer, a da Moderna e a da AstraZeneca/Oxford), esse valor só permitirá vacinar por completo um milhão de pessoas.

A vacina da AstraZeneca e da Oxford recebeu aprovação da Agência Europeia do Medicamente no final de Janeiro. Os ensaios clínicos mostraram um eficácia a variar entre os 62% e os 90%, dependendo do regime de dosagem utilizado.

Notícia actualizada às 15:09 do dia 24 de Fevereiro: Acrescentada reacção da AstraZeneca à notícia que apontava um incumprimento na entrega do número de doses acordadas para a União Europeia