Covid-19, o 8 e o 80 de Portugal
Todos nós sabemos como chegámos até aqui e a que se devem os resultados que o país se pode orgulhar de apresentar.
Foi o medo exagerado das consequências da covid-19 que fez com que Portugal tivesse passado quase incólume na primeira vaga. Precisamente há um mês, Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, dizia no PÚBLICO que esse medo teria de voltar: “Nós estamos a caminhar para o caos, deixámos de controlar o sistema. O sistema é que nos está a controlar a nós.” Todos nós sabemos como chegámos até aqui e a que se devem os resultados que o país se pode orgulhar de apresentar. Somos capazes do 8 e do 80. É triste, mas é verdade: “O medo é uma forma de prevenção.”
Portugal tem agora o índice de contágio mais baixo desde o início da pandemia e o mais baixo da Europa. A incidência da covid-19 está a descer em todas as faixas etárias, mais particularmente na faixa acima dos 80 anos, na qual o vírus tem sido mais mortal. O número de novos casos é o mais baixo desde o início de Outubro e o número de mortos continua a descer de forma consolidada.
A “variante de Manaus” está circunscrita e a do Reino Unido não se propagou como se temia. Há novas estratégias para os testes e para a vacinação e a previsão de que se possa antecipar para meados do Verão a imunidade de grupo em 70%. Sem as medidas mais gravosas de confinamento estaríamos num caos permanente de ambulâncias estacionadas às portas dos hospitais e sem horizonte de voltar a controlar o sistema.
A pergunta que se impõe agora é a de saber quando é que poderemos desconfinar e como é que o deveremos fazer. A primeira tentação a evitar é a incoerência da comunicação, anunciando hoje o que se contradiz amanhã, criando e defraudando expectativas. A segunda tentação a evitar é a imprevidência que nos trouxe até aqui. O Governo não vai querer repetir o relaxamento do Natal e não vai querer voltar a apresentar Portugal como o pior país do mundo no número de mortes e de novos casos. O desconfinamento terá de ser prudente e gradual, à semelhança do que alguns países europeus se preparam para fazer, para evitar que a Páscoa seja o novo Natal.
Neste esforço combinado de resistência à pandemia, falta que o Estado intervenha a montante de forma mais concludente nos apoios que presta a quem sofre as consequências devastadoras da perda de rendimentos e que disponibiliza às empresas asfixiadas por meses de inactividade. Se antes tínhamos perdido o medo e o controlo, o que importa agora é ganhar a confiança e manter o controlo sobre o vírus, a doença e a vida.