Sindicato de bombeiros pede “clarificação” a Medina sobre vacinação do comando

Estrutura sindical considera que houve “quebra de lealdade institucional”. Plano de vacinação dos bombeiros não punha comandantes no topo das prioridades.

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Francisco Romao Pereira

Foi pela comunicação social que o Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais (SNBP) ficou a saber que o ex-vereador da Protecção Civil de Lisboa e dois comandantes do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) tinham sido vacinados contra a covid-19 com sobras dos lares. Como essa vacinação foi feita contrariando as regras internas do RSB e não foi mencionada numa reunião com o sindicato, este considera que houve “quebra de lealdade institucional” e pediu uma reunião de urgência a Fernando Medina.

“Queremos uma clarificação. Deve haver alguma dignidade neste processo”, diz o presidente do SNBP, Fernando Curto, ao PÚBLICO. Esta segunda-feira seguiram pedidos de reunião ao presidente da câmara, ao novo vereador Miguel Gaspar e aos grupos políticos municipais.

Num comunicado de imprensa conjunto com a Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais, a estrutura sindical relata que a 1 de Fevereiro houve uma reunião em que estiveram presentes, entre outros, o vice-presidente da Câmara de Lisboa, o ex-vereador Carlos Castro e o comandante do RSB, Tiago Lopes. “Lamentamos que, em momento algum, quer o comandante, quer o vereador, tenham admitido que já tinham sido vacinados no dia 18 de Janeiro e que havia sobras dos lares que poderiam ter sido ministradas aos bombeiros desde essa altura”, pode ler-se.

“Estávamos a discutir o plano de vacinação e o sr. vereador e os comandantes já tinham tomado a vacina”, insurge-se Fernando Curto, acrescentando que “o regimento vive uma situação complicada”, não só por causa da pandemia, e que “a desmotivação é total” entre bombeiros.

Como o PÚBLICO noticiou na semana passada, a vacinação de altos cargos do município causou mal-estar nos serviços, particularmente entre bombeiros e trabalhadores da Higiene Urbana, que à data do episódio não tinham recebido ainda qualquer vacina.

Uma ordem de serviço do RSB de 8 de Fevereiro, a que o PÚBLICO e o Observador tiveram acesso, revela que o comando do RSB estava incluído nos grupos prioritários de vacinação, mas só depois de várias outras equipas, consideradas mais expostas ao risco de contaminação e disseminação do coronavírus.

A 18 de Janeiro, diz o comunicado do sindicato, “o RSB vivia um dos piores dias da pandemia, com um elevado número de bombeiros em isolamento (68) e contagiados com covid-19 (38), num total de 106 efectivos inoperacionais”. “Como é possível admitir que a vacinação no RSB só tenha começado a 12 de Fevereiro, quase um mês depois de se terem verificado sobras de vacinas de vários lares”, questiona o documento.

Na nota em que deu conta da demissão de Carlos Castro, Fernando Medina frisou que mantinha a confiança no comandante do RSB, no comandante da Polícia Municipal e na directora municipal de Higiene Urbana, todos vacinados na mesma altura que o ex-vereador. A sua vacinação, dizia a câmara, “decorreu por determinação de superior hierárquico e na convicção do cumprimento de todas as normas.”

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