Eléctrico, diesel ou gasolina? Este simulador faz as contas
Calculadora digital permite comparar custos da compra e do uso de um carro, assim como as emissões de gases, para o tempo de retenção do mesmo, segundo o tipo de cliente, particular ou empresarial.
Sai mais barato um carro eléctrico ou um com motor a gasóleo ou a gasolina? O custo de cada uma destas alternativas é uma das variáveis a ter em conta quando se quer comprar carro. Quantos quilómetros se vai fazer por ano e quantos anos se pretende manter o carro são outras variáveis além do custo, que inclui o preço do carro bem como o do combustível, da manutenção, dos impostos e do seguro. Além disso, há um custo ambiental. Nem todos o levam em conta, mas ele existe e, tendo em conta o peso do transporte na poluição atmosférica e nas emissões de CO2, não se pode continuar a ignorá-lo. Para ajudar a resolver esta equação, um conjunto de entidades portuguesas lança hoje um simulador que faz contas e mostra quanto é que cada opção nos pode custar.
O simulador digital já está disponível na Internet, através do endereço https://mobzero.pt/simulador/. Através desta ferramenta, é possível comparar a compra e a utilização de um veículo 100% eléctrico com as opções de veículos a gasolina ou a gasóleo equivalentes e mais vendidos no mercado português.
Isto significa que, nesta primeira fase, não é possível comparar os híbridos, sejam plug-in ou os ditos convencionais. Essa função fica para a próxima evolução desta ferramenta, explica Paulo Castro, da associação ambientalista Zero, que promove a criação desta calculadora, tendo como parceiros o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEIIA) e as empresas EDP, LeasePlan, a app Miio e os media Wattson e Automagazine Green Future.
A calculadora é gratuita e de acesso ilimitado. Quem pensa comprar carro e quer estudar opções com números, só precisa de escolher a marca e o modelo que tem em vista, estimar os quilómetros anuais que irá percorrer e indicar um conjunto de dados para ajudar à conta. É uma compra privada ou em nome de uma empresa? Por quantos anos pretende manter a viatura? Quer usar dados de consumo oficiais ou reais (no último caso, usa-se uma base de dados internacional)? Tem ou não incentivo estatal à compra de um eléctrico? Vai carregar o veículo eléctrico em casa ou na rua? Com carregador normal ou rápido? Se é em casa, qual a potência contratada e o tipo de tarifa?
Uma vez inseridos estes dados, o simulador faz o resto, apresentando a comparação entre o veículo eléctrico escolhido e os carros a gasóleo e a gasolina, do mesmo segmento e subsegmento mais vendido no mercado nacional no ano ou semestre anterior, esclarece Paulo Castro. Para tal, são usadas as informações da ACAP - Associação Automóvel de Portugal.
Como as contas são feitas em função do perfil do cliente (privado ou empresarial) e leva em conta o tempo de vida do veículo, o resultado final do simulador são os custos totais. Se por vezes o custo de aquisição de um eléctrico ainda é superior ao das opções diesel ou gasolina, a inclusão dos custos ao longo da utilização acabam por mostrar em que é que a opção do eléctrico pode ser benéfica.
O resultado é apresentado sob a forma de uma tabela com três colunas. A primeira é para o eléctrico escolhido, as restantes duas são para as opções equivalentes com motor de combustão interna. Depois, seguem-se 11 linhas que permitem perceber quanto custa a compra de cada um (já com IVA), qual será o incentivo do Estado, quanto se paga de IUC durante os anos em que vamos ter o carro.
Além disso, estima-se os custos de manutenção em cada uma das três opções, os custos de condução (combustível fóssil ou electricidade). Somando tudo, apresenta-se o custo total, indicando em seguida os valores ambientais: total de emissões de CO2 e de NOx.
Finalmente, as últimas três linhas da tabela evidenciam o diferencial de custos económicos e de emissões gasosas e poluentes.
O simulador faz parte de uma iniciativa mais vasta que pretende ajudar a informar o consumidor mas também a esclarecer certas dúvidas que continuam a subsistir sobre a mobilidade eléctrica, que é o cerne do site www.mobzero.pt, onde aquela calculadora foi integrada.
“Os números mostram que, para a grande maioria dos modelos, os veículos 100% eléctricos são mais vantajosos, quer em termos de emissões de gases poluentes, quer em relação aos custos totais de aquisição e utilização, que são comparáveis ou mesmo inferiores aos dos veículos a gasolina e gasóleo”, sublinha Francisco Ferreira, presidente da Zero e professor universitário na área de Ambiente.
Europa ultrapassa China
Esta ferramenta pensada para o mercado nacional chega numa altura em que o mundo continua a viver numa pandemia e que, apesar disso, está a aderir cada vez mais à mobilidade eléctrica.
Segundo os dados globais compilados pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente, “2020 foi o ano do automóvel eléctrico na Europa”.
“Apesar da pandemia de covid-19, a mobilidade eléctrica aumentou em toda a Europa, já que os veículos com uma ligação a uma tomada representaram 10,5% do mercado, em comparação com apenas 3% em 2019. Os veículos eléctricos apenas com bateria (BEV) representaram 5,4% das vendas de automóveis de passageiros na UE 27, enquanto os híbridos plug-in (PHEV) alcançaram 5,1% do mercado”, lê-se no relatório ontem divulgado.
“Mais de um milhão de veículos eléctricos foram registados na União Europeia (UE 27) em 2020 (1.045.000 unidades), o que efectivamente duplicou o número de veículos eléctricos na estrada para mais de dois milhões”, prossegue.
Cerca de metade dos veículos eléctricos era 100% eléctrico a bateria (51,5%), quando em 2019 o valor foi de 62,5%. Isto mostra que houve um recuo, em detrimento dos híbridos.
Os BEV mais vendidos foram o Renault Zoe, Tesla Model 3 e Volkswagen ID.3, enquanto os PHEVs mais vendidos foram o Volkswagen Passat PHEV, Volvo XC40 PHEV e Mercedes A250e.
A adesão europeia impulsionou o continente para um resultado inédito. Com 1,365 milhões de eléctricos vendidos em 2020, a Europa assumiu a liderança global, ultrapassando o maior mercado automóvel do mundo, a China, por 2% (1,337 milhões de eléctricos vendidos).
Isso também fica a dever-se às novas regras de emissões em vigor desde Janeiro de 2020 e com transição para 2021, que limitam as emissões médias de todas as marcas.
Porém, o mercado europeu ainda continua desigual. No ano passado, só na Alemanha foram vendidos mais veículos (395 mil) com uma tomada do que em toda a UE 27 em 2019 (391 mil). Ou seja, o mercado germânico representou sozinho entre um quarto e um terço do mercado da Europa no seu todo. Os maiores mercados de veículos eléctricos, depois da Alemanha, são a França (186 mil), o Reino Unido (175 mil) e a Noruega (106 mil).
Claramente, os veículos eléctricos “resistiram à crise covid-19 muito melhor do que os motores a gasolina e a gasóleo, cujos volumes combinados caíram 36%”, diz aquela federação.