A China quer usar aulas de educação física para tornar os rapazes mais “masculinos”

A proposta relançou um debate antigo no país, entre aqueles que apelam a mais diversidade e os que defendem uma sociedade “mais máscula”.

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LUSA/STR

Um plano na China para levar os jovens homens a praticar mais desporto, como forma de os tornar mais “másculos”, relançou um debate entre aqueles que apelam a mais diversidade e os que defendem uma sociedade “mais masculina”.

O Ministério da Educação disse que tem como objectivo aumentar o número de professores de educação física e renovar as aulas de ginástica para impulsionar a “masculinidade” dos estudantes.

O plano surge em resposta a uma proposta, apresentada em Maio de 2020, por um membro da Conferência Política Consultiva Popular da China, um órgão consultivo do Governo, onde pedia ajuda para os rapazes que se tornaram demasiado delicados, tímidos e efeminados depois de terem sido escolarizados principalmente por professoras, disse o ministério.

Uma hashtag sobre o plano do ministério reuniu 1,5 mil milhões de opiniões na rede social Weibo, até quarta-feira, 3 de Fevereiro. “É difícil imaginar que rapazes efeminados possam defender o seu país quando uma invasão exterior se aproximar”, disse um dos utilizadores.

Como a maioria das nações asiáticas, a China tem uma inclinação tradicional para filhos e décadas da política de filho único levaram ao que algumas pessoas vêem como uma tendência para os pais protegerem em demasia os filhos. Mas a ideia de fazer com que os rapazes “endureçam através da actividade física” tem vindo a ganhar apoio nos últimos anos.

Alguns pais de meios mais privilegiados, preocupados por os seus filhos serem demasiado frágeis, estão a enviá-los para campos de treino privados que prometem transformá-los em homens “reais” através de exercícios inspirados no exército.

A investigadora feminista Li Jun disse que o plano do ministério reflectia as atitudes estereotipadas em relação ao género.“A proposta representa alguns estereótipos na China sobre a masculinidade, que é contra a igualdade e diversidade de género, uma vez que considera ser efeminado como algo negativo e perigoso, e considera a masculinidade como sendo útil à nação chinesa”, disse Li à Reuters.

Yang Li, 25 anos, um responsável de marketing a viver em Pequim, alertou para um possível aumento dos casos de bullying. Yang disse que já foi repreendido por um professor por andar no recreio da escola como um modelo anda numa passerelle.

Os meios de comunicação estatais, numa tentativa de acalmar o debate, publicaram esta semana relatórios a mostrar que certos comportamentos e características não deveriam ser associados a nenhum dos géneros.

A agência noticiosa Xinhua, citando especialistas, disse que a construção da “masculinidade” não deveria ter a ênfase das diferenças de género, mas sim sobre o desenvolvimento de um físico saudável e força interior.