“Único e extraordinário”. Assim definia o novo Barca-Velha, o de 2011, o seu enólogo, Luís Sottomayor, aquando do lançamento da produção em Setembro passado. “Chegou o leão”, dizia o responsável por este mítico vinho português da Casa Ferreirinha (Sogrape).
Como sempre, a chegada da nova colheita foi recebida com aplausos e devoção, mesmo não sendo um vinho acessível a todas as carteiras. Mas, pouco depois, a espera levou um banho de água fria. A Sogrape anunciou ser necessário um rearrolhamento e adiou a chegada ao mercado do vinho, que nem tem preço de venda ao público definido pela empresa: serão as garrafeiras e restaurantes a estabelecer o valor. Como exemplo, o de 2008 (o anterior) encontra-se actualmente à venda online em redor dos 700 euros. Outro bom exemplo: há pouco, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, podia beber-se o de 2000 a copo, mais especificamente a 145 euros o copo.
“Dez anos após uma colheita excepcional no Douro, a equipa de enologia da Casa Ferreirinha dá finalmente luz verde para em Abril se iniciar a comercialização de Barca-Velha 2011”, acaba de anunciar oficialmente a Sogrape.
A empresa sublinha que o adiamento foi “medida de precaução”, sublinhando que tal aconteceu “como recomendam as boas práticas enológicas após um rearrolhamento”. Na altura, a notícia foi recebida entre a surpresa e alguma chacota. Mas também houve quem aplaudisse a “transparência” da decisão, como Pedro Garcias (colaborador da Fugas e produtor de vinho). “A administração da Sogrape podia ter escondido internamente o problema e preservar dessa forma o prestígio crescente do Barca Velha. Mas optou, como devia, pela transparência e, apesar das perdas reputacionais momentâneas, a sua coragem merece ser enaltecida”, comentou Garcias.
Luís Sottomayor garante que o “seu” vinho, “depois do rearrolhamento efectuado em Setembro”, tem “demonstrado uma excelente evolução, estando já a revelar em pleno o seu bouquet”.
Esta é a vigésima colheita daquele que há muito é um dos mais marcantes vinhos de Portugal, uma obra-prima cuja história remonta a 1952, quando Fernando Nicolau de Almeida “decidiu criar” um “tinto do Douro assente na mesma filosofia de qualidade e de guarda dos Portos Vintage”.
“Entre todos os Barca-Velha, e por todos os episódios que o seu lançamento encerra, 2011 é o maior símbolo de uma busca apaixonada pela perfeição”, assegura Fernando Cunha Guedes, o presidente da Sogrape.
Ou, como remata Luís Sottomayor, bem citado em comunicado: “O vinho é que manda!”.
E como é este Barca-Velha? Quatro especialistas deram a sua opinião na Fugas e, apesar de algumas variações, o aplauso é unânime: “Mais clássico, mais Barca Velha”, opinou Manuel Carvalho, enquanto Pedro Garcias, embora considerando-o um “grande vinho”, até confesse preferir o de 2008. “Quem dera bebê-lo já depois dos 20 anos!”, atirava José Augusto Moreira, enquanto Edgardo Pacheco declarava ver nele quase um poema, resumindo: “O Douro todo numa garrafa.”