Germano de Sousa: “A avalanche de casos positivos é tão grande que não se é capaz de dar seguimento”
“Testar é muito importante, mas é preciso seguir, seguir e seguir os resultados dos testes”, defende Germano de Sousa – algo que não está a ser feito a tempo. Com as novas variantes, torna-se ainda mais importante conseguir acompanhar os casos positivos e os seus contactos próximos, argumenta o médico patologista, dono da cadeia de laboratórios com o seu nome. Com o número de testes a chegar ao marco do milhão, o médico de 78 anos diz que Portugal está no pódio por maus motivos e que é imperioso travar os contágios. “Não sei quanto tempo aguentaremos...”
Dos sete milhões de testes rápidos e moleculares feitos em Portugal, um milhão foi feito nos laboratórios Germano de Sousa. “Estou no olho do furacão”, descreve o médico patologista, que diz não ter tido mãos a medir desde o início da pandemia do coronavírus que causa a covid-19. Ao início, foi difícil – faltava material, havia muito trabalho e muitas perguntas sem resposta.
José Germano de Sousa nasceu nos Açores, estudou em Coimbra e foi alferes médico durante a Guerra Colonial, em Angola, antes de decidir lançar, há 46 anos, a cadeia de laboratórios com o seu nome, que chega agora a grande parte do país. Começou porque era mal pago enquanto médico e porque queria “melhorar um pouco o rendimento familiar”. Continuou pelo dever, por gostar do que faz, e “a vida compensou”. Chegou a bastonário da Ordem dos Médicos, cargo que desempenhou entre 1999 e 2004.
Agora, com o número de infecções a chegar a valores “astronómicos” e com as novas variantes em jogo, é preciso reforçar a capacidade de identificar pessoas com covid-19 e de rastrear os seus contactos próximos, para cortar as cadeias de contágio. “Ainda recentemente, com esta terceira vaga, tive um período em que eu não sabia como resolver o que me entrava pela casa dentro”, diz, preocupado com os próximos tempos. Acredita que “sem o sector privado não era possível fazer frente ao que se está a passar”.
Testar, testar, testar tem sido apontado como algo crucial para combater a pandemia. Portugal testa muito e testa bem?
Testamos muito. Não seremos o país que mais testa, há países na Ásia que testam mais do que nós. O problema é que testar, testar, testar é muito importante, mas é preciso seguir, seguir, seguir os resultados dos testes. Na realidade, parece-me – é apenas uma impressão pelo que me vem chegando de muitos lados – que, após um resultado dado positivo por técnicas de alta qualidade, não o conseguem... e eu percebo, não sei sequer como é que eles conseguem chegar a tanto. Os meus colegas da saúde pública e outros que estão dedicados a isso não são suficientes, muitas vezes, para acompanharem os contactos que esses ‘positivos’ têm ou tiveram. Isso é fundamental: que os testes sejam feitos, mas que sejam acompanhados, com todo um rastreio adequado.
Até porque o tempo de incubação deste vírus é longo...
O vírus tem um tempo de incubação que vai do momento zero até aos dois, três ou quatro dias em que ainda não é detectável, mas normalmente pelo terceiro dia já é detectável num teste molecular PCR. A partir desse momento em que é detectável, em princípio, está a contagiar, sempre a contagiar. Quando detectamos um ‘positivo’, faz todo o sentido não só confinar o próprio indivíduo como verificar quais foram os contactos mais próximos para que também eles sejam confinados ou testados. Com estas novas estirpes, mais urgente se torna, pois é maior a infecciosidade das mesmas e a capacidade de transmissão é mais rápida.
Portugal devia melhorar esta capacidade de seguimento dos casos positivos?
Nenhum país tem organizado sistematicamente uma força de intervenção para uma pandemia tão grande quanto gostaria e quanto necessitava. Tiro o meu chapéu aos meus colegas da saúde pública e também aos meus colegas da medicina geral e familiar que os estão a ajudar nisso e outras pessoas que não são médicos e que fazem parte das equipas de rastreio e acompanhamento. Agora, é óbvio que parece ainda ser deficiente e que a avalanche de positivos é tão grande que não se é capaz atempadamente de dar seguimento ao conhecimento que lhes damos através dos testes. Fazem o seu melhor, estamos todos a fazer o nosso melhor nesta desgraça.
Imaginou que poderíamos chegar ao número de mortes, internamentos e infecções de Janeiro?
Se há coisa que a gente nunca gosta de prever – sequer falar – é mortes. O que lhe posso dizer é que, em parte do livro de que fui um dos autores, que se chamava Pensar o Futuro, eu previa que isto se iria arrastar até fins de Setembro. Mesmo com vacinas: Setembro, Outubro deste ano. E que, naturalmente, iríamos ter as consequências disso.
Mantém essa previsão?
Há aqui dois aspectos importantes. Obviamente que a vacina é fundamental, obviamente que, se formos todos vacinados e conseguirmos até Setembro atingir os 75% [de pessoas imunizadas], e espero que sim, ficaremos com alguma imunidade de grupo e isso proteger-nos-á bastante a todos. Mas é preciso ter noção de que este coronavírus vai andar entre nós como todos os coronavírus que têm vindo a aparecer desde os anos 60. Constipamo-nos com o mesmo coronavírus no Inverno que na Primavera seguinte nos constipa também. Felizmente que esses são benignos, mas não nos deram imunidade. Esta imunidade que é dada pela vacina não se sabe durante quanto tempo dura. Na melhor das hipóteses, um ano.
Como a da gripe...
Como é evidente. Depois há as variantes – até agora há dias, o doutor [Anthony] Fauci dizia que a vacina deve ser suficiente contra a variante da África do Sul. No entanto, apareceu há menos de um mês e ainda estamos a debater do ponto de vista teórico se vamos ter ou não imunidade e ainda não há, na prática, conhecimento suficiente sobre isso. Temos de ser vacinados todos e se pudesse ser já, era já. Infelizmente, ainda não estamos, nomeadamente os profissionais de saúde que ainda não estão vacinados. Há profissionais do Serviço Nacional de Saúde que já estão vacinados, mas no sector privado, liberal e social das misericórdias não estão e só agora é que começam a estar. Todos os nossos laboratórios – que têm contratos com o SNS não apenas para covid – têm sido essenciais porque representamos 43 ou 44% dos testes. No caso do meu laboratório, só há 15 dias é que soubemos que íamos ser vacinados, pediram-nos a lista dos médicos, biólogos, técnicos que trabalham connosco que estão no dia-a-dia a receber doentes, a fazer zaragatoas, nós que trabalhamos depois nas bancadas no próprio laboratório, manipulando o vírus.
Não sabe ainda?
Já lá vão mais de 15 dias e ainda não recebemos a confirmação do dia em que seremos vacinados. Ninguém sabe. Eu percebo que há dificuldades, que há problemas de entrega de vacinas, que os fornecedores atrasaram ou não entregam o número de vacinas que têm, mas a verdade é que deveríamos ser nós – todos os profissionais de saúde – que estão na linha da frente. Inicialmente só se pensou no Serviço Nacional de Saúde e não se pensou no sistema nacional de saúde. E nós hoje somos essenciais, como são os hospitais privados. Ainda há dias vi relatos de hospitais privados que estão de dia para dia a receber doentes que o SNS lhes manda. Eu gostaria de chamar a atenção de que estamos todos a combater o mesmo. Pelo facto de sermos privados ou de sermos do serviço social das misericórdias, não deixamos de ser profissionais de saúde.
Concorda então com as críticas que têm sido feitas pelo bastonário da Ordem dos Médicos, que diz que os profissionais do privado têm de ser vacinados quanto antes?
Completamente. É que não são só os laboratórios: os médicos que têm consultório aberto para receber doentes de outra ordem nunca sabem se quem entra está ou não com covid, se é assintomático. Era da mais elementar justiça que esses médicos sejam também vacinados. Estamos dependentes das decisões políticas.
Sem os privados, o Estado não teria conseguido dar resposta à pandemia?
Pelo menos sem os laboratórios privados, convencionados, não teria feito metade dos testes que já fez. E isso seria terrível. Então ao início... não havia nenhuma estrutura, praticamente, que fizesse testes (tirando o Insa e um ou outro hospital). Nós é que avançámos. Fiz de tudo para criar estruturas, na altura caríssimas, que nos permitiram começar a combater tudo isto. O SNS, sem os privados, não conseguia. Aliás, é bom ver que até os próprios hospitais privados se puseram desde o início à disposição. É pena que há pessoas que só têm essa mentalidade, são cegas ideologicamente. Hoje a realidade foi como o azeite, veio ao de cima. Por outro lado, assisti a coisas que me parecem um bocado ridículas, quando alguns políticos falam em requisitar.
Opõe-se à requisição civil?
As pessoas não têm ideia do que é uma requisição. É pressupor que o sector privado ou social deixa de ser gerido por quem sabe o que é que está a fazer naquele hospital ou naquela unidade e entrega a gestão a alguém que é nomeado pelo poder para ingerir. E não conhece bem, não faz ideia como é que tudo funciona. A ideia da requisição é uma ideia mirabolante, muito própria dos regimes ditatoriais, mas ineficaz na realidade.
Sente que o SNS tem aproveitado todas as potencialidades do sector privado no combate à covid-19?
Neste momento, terá de ir provavelmente mais além. Ainda há capacidade. O sector privado tem coisas reservadas para outras áreas que não sejam de covid. As doenças continuam e continuam a matar. Os privados também aceitam essas doenças e continuam a tratar essas doenças. Não podem pôr todas as suas camas, senão morríamos todos. Tal como o Estado não põe o IPO ao serviço da covid, tem de o reservar para os cancros.
Em que é que falhámos para sermos dos piores países do mundo em termos de infecções e mortes por covid-19?
É evidente que é muito fácil fazer diagnósticos, mas tenho de me pôr no lugar da pessoa que é criticada. É uma situação nova. A necessidade de jogar entre a economia e a saúde pode ter levado a erros que condicionaram esta desgraça em que vivemos. Talvez tenha sido mesmo o abrandar de todas as medidas de confinamento antes e durante o período natalício, deveria ter-se mantido uma grande rigidez nas medidas de contenção e de fecho de determinadas estruturas. A outra, para mim, foram as escolas: nunca se deveria ter aberto as escolas do modo que se abriu. Foram as duas coisas que me parece que poderiam ter sido evitadas.
Quando é que percebeu que isto seria, provavelmente, o maior teste ao seu laboratório? Lembra-se do dia?
Mais ou menos logo a seguir à primeira vaga. Reflecti muito sobre isso, falando com vários colegas. Percebemos que é algo que iria modificar muito o nosso país e que tinha de me preparar para o futuro porque íamos ser requisitados duramente. Imediatamente comecei, com muita dificuldade. Não tem ideia do que foram as dificuldades de início, chegavam a desaparecer encomendas feitas e já pagas em Amesterdão, toda a gente queria os poucos reagentes que havia então, todos os dias tínhamos de andar a correr todos os representantes em Portugal a ver se conseguiam mais. Até que precocemente consegui um contacto com um grupo alemão e, a partir daí, foi um suspiro de alívio.
A gente prepara-se para o futuro, cada vez mais. Ainda recentemente, com esta terceira vaga, tive um período em que eu não sabia como resolver o que me entrava pela casa adentro. Mais uma vez, conseguimos. Foi difícil. Temos laboratórios altamente especializados com gente altamente especializada e trabalhamos todos os dias, 24 horas por dia. Não fechamos, ao domingo é que só aceitamos urgências, temos de ter o domingo não só para descanso, mas para dar vazão ao que vai ficando. Para a semana que vem ou daqui a duas semanas, vamos chegar a um milhão de testes realizados. Temos de contratar mais técnicos – que não os há, porque entretanto o Estado também começou a contratar, nós não temos. Nesse aspecto, também temos colaborado para diminuir o desemprego bastante.
Qual foi a maior fragilidade que a pandemia expôs?
Não há nenhum serviço de saúde que esteja preparado para este tipo de pandemia. Obviamente que grande parte da nossa resposta foi devida à dedicação extrema dos profissionais de saúde, em especial os que estão nos cuidados intensivos, nas enfermarias, que aguentaram e têm aguentado o impensável. Como nós também, não me quero estar a pôr em bicos de pés, mas tudo isso foi feito, 24 horas por dia. Apesar de tudo, o SNS esteve à altura. Nós aguentámos e estamos a aguentar, mas não sei quanto tempo aguentaremos. Mais ainda se isto chegar aos 17 mil ou 18 mil casos por dia. Esperemos que não. Nesse aspecto, não tenho crítica às estruturas. Não posso dizer que estávamos impreparados. Quem está preparado para uma coisa destas?
De qualquer forma, esta pandemia pôs em evidência a importância da saúde e da ciência na vida de todos nós...
Um dos aspectos felizes desta pandemia foi a resposta não só que a ciência deu, mas a capacidade que houve dos cientistas de todo o mundo se unirem e rapidamente comunicarem. Esse efeito da pandemia é algo que tem de ser preservado, louvado e servir para o futuro para tudo. Este mundo não pode ser um mundo de guerra, tem de ser um mundo de paz. A ciência deu o primeiro passo, era bom que os políticos olhassem bem de perto para aquilo que os cientistas e os médicos fizeram.
Os seus filhos são também patologistas clínicos e fazem parte da rede de laboratórios...
Fizeram carreira hospitalar até que um dia perceberam que podiam vir trabalhar comigo. Eu disse: “É já!” Sozinho, já não tenho capacidade. Nós três todos os dias trabalhamos de manhã à noite. Nove, dez, 11 horas. E trabalhamos sobretudo na especialidade que escolhemos, trabalhamos naquilo de que gostamos.
Estava há pouco a falar na Guerra Colonial. A sua filha nasceu precisamente em Angola, foi quem fez o parto...
Eu era alferes médico – tinha acabado de chegar – no Luso, que hoje é a Luena, que fica no caminho-de-ferro de Benguela. A minha mulher resolveu, grávida de seis meses, aparecer-me. Eu pensei: “Tu és maluca!...” Chega a altura do parto, fins de Dezembro. Éramos 11 médicos num hospital na primeira linha da frente, não havia nenhum obstetra, como é óbvio, havia cirurgiões, ortopedistas, nós que éramos menos diferenciados. A única pessoa dali dos militares que soubesse um pouco mais de partos era eu porque me tinha licenciado em Coimbra quando só nos deixavam sair médicos se tivéssemos feito pelo menos um dado número de partos, se tivéssemos metido não sei quantas ventosas e não sei quantos ferros. Tinha alguma prática, mas contei que uma velha parteira que vivia lá ajudasse. A senhora tinha ido de férias de Natal. E eu pensei: “Bom...” E tirei a minha filha e depois foram quase 12 horas porque a minha mulher era primípara e os primeiros partos são sempre extremamente demorados e lá fiz o parto. Com nervos enormes. Mas correu tudo bem, hoje é uma bonita rapariga – mulher, aliás – que é também médica.
Tendo exercido a profissão durante a Guerra Colonial, há agora quem compare esta situação de pandemia com um cenário bélico, como medicina de guerra. São cenários diferentes ou há realmente paralelismos?
Sinceramente, isto não é medicina de guerra. Quando muito, é medicina de catástrofe. Na medicina de guerra… Eu lembro-me: uma vez chegaram 19 feridos por causa de minas, nós tínhamos de resolver aquilo tudo ali. Começávamos a trabalhar às 7h e chegávamos a estar até às 7h [do dia seguinte] a trabalhar constantemente com os meios na altura que eram muito menores, não tínhamos nada que se parecesse com os métodos actuais. Havia períodos mais fáceis. Não era uma guerra, era mais uma guerra de guerrilha, não era uma guerra clássica. Não faço ideia como é que na II Guerra Mundial isto se passou, tenho lido muita coisa. Prática, não tenho. Havia períodos de descanso em que havia um ataque, minas, uma pressão brutal. Mas havia dias em que era o dia-a-dia da vida de um médico: consultas, cirurgias normais, programadas, que era o que se fazia. Por outro lado, éramos o tapa-tudo. Desde tratar criancinhas, de ser pediatra. Meu Deus, nunca vi tantas criancinhas com febre palúdica, com paludismo, não tínhamos os meios que tínhamos então para resolver esses assuntos... Os miúdos com as barrigas muito inchadas... Era desesperante. Até termos de fazer autópsias. Nós tínhamos comboio, aquele maldito comboio que nos ligava a todos naquela linha de caminho-de-ferro de Benguela onde estava. Só que punham minas no comboio, era atacado. Foi numa dessas viagens, que tinha de fazer uma autópsia a um miúdo que tinha sido morto num pequeno aldeamento por uma bala disparada por um soldado, em que houve um ataque e morreram ao meu lado não sei quantas pessoas. Os médicos estavam sempre na berlinda, eram ao mesmo tempo médicos e viam-se metidos numa guerra na qual não era o seu papel intervir. Se começasse a contar estas histórias, ficava aqui o dia inteiro.
Em relação à lei da eutanásia que foi aprovada, considera que é equilibrada, mesmo sendo contra a sua prática?
Eu e os meus colegas bastonários todos somos contra. Em relação à lei que foi aprovada na Assembleia da República, obviamente sou contra, acho que ninguém tem o direito de tirar a vida a outra, mesmo sob o pretexto da piedade e da misericórdia – e muito menos um médico. Repare: um médico eutanasiar alguém é sempre negar um dos pilares essenciais da profissão. Para o médico, a vida é intocável, é inviolável; tal qual como o segredo profissional, é outro pilar fundamental da nossa profissão. Uma lei que permite que um médico o faça é abrir a porta a algo impensável, que até agora era impensável para a classe médica. Tenho receio, sinceramente. Porque tenho verificado noutros países em que a lei o permitiu que haja um degradar, um deslizar da lei. Neste momento, em tempos de morte, falar em eutanásia é algo... Fui contra a eutanásia, temos todas as razões – que tenho e mantenho-as – para ser contra a eutanásia. Não são razões religiosas, são razões éticas, razões morais, razões deontológicas. Qualquer lei que permita a eutanásia é uma lei com a qual eu não posso concordar.
Qual seria a alternativa?
Nós, neste momento, só temos 20% dos cuidados paliativos de que precisávamos. Nós precisamos de cuidados paliativos em todos os hospitais do SNS e nos hospitais privados, que, aliás, já os há. Os senhores deputados deviam ter feito um esforço muito grande nesse aspecto – não os vi fazer, devo dizer. Ninguém se preocupou com os cuidados paliativos. Deviam ter arranjado dinheiro, estudos. As dores conseguem ser mitigadas, consegue-se dar um fim digno à pessoa. Não percebo porquê esta necessidade. A eutanásia é algo que vem desestruturar os laços que unem uma sociedade e a nossa visão do que deve ser uma sociedade. Acho que foi um mau passo. Isto não é criar um imposto para o plástico. Os direitos fundamentais não se discutem. Se querem tanto a eutanásia, por que é que têm de ser os médicos a fazê-la? Não nos venham pôr isso nas mãos, que nós não queremos nem vamos aceitar.
Uma última questão: como podemos impedir uma nova pandemia?
Isto deu-nos um treino importante. Percebemos um pouco como nos organizar contra uma pandemia deste tipo. A história da medicina também vale a pena ser olhada de perto. Há 100 anos, tivemos a pneumónica. Tirámos algum ensinamento disso? Na altura, também se usava máscaras, também se fez distanciamento social, embora os meios ao dispor para o tratamento hospitalar fossem muito deficientes em relação ao que temos hoje. Tirámos alguma experiência? Eu diria que não. Para lhe responder: estamos prontos para a próxima pandemia? Tudo depende de quando vem a próxima pandemia. Se for daqui a dois ou quatro anos, estaremos mais preparados. Se for daqui a 20 anos, já ninguém se lembra...