Produção de azeite e amêndoa em Alqueva sofreu uma quebra na safra de 2020

Nas culturas anuais o investimento é quase exclusivamente português mas nas culturas permanentes os investidores estrangeiros continuam a ter um peso muito significativo.

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Daniel Rocha

O ano de 2020 foi, em termos produtivos, inferior ao de 2019 nas duas maiores culturas de Alqueva - olival e amendoal. No seu conjunto, preencheram 83.587 hectares, cerca de 70% da área inscrita para rega que superou os 102 mil hectares, destaca o Anuário Agrícola de Alqueva (AAA) de 2020 que a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) acaba de publicar.

A Associação de Olivicultores do Sul (Olivum), através da informação inserida no anuário agrícola, admite que as perspectivas de produção em Portugal na campanha olivícola de 2020/2021 apontam para 100 mil toneladas de azeite, um decréscimo de 40 mil toneladas em relação à campanha anterior. A quebra é considerada “normal”, sublinha a Olivum, explicando que a cultura “obedece a uma lógica de safra e contra-safra”. Ou seja, após uma campanha de elevada produção de azeitona e azeite, como foi a de 2019/2020, “é normal” que na campanha seguinte, no caso a actual, haja menos produção.

Os produtores de amêndoa em Alqueva também foram confrontados com um decréscimo de produtividade na “maioria dos pomares” refere o AAA, sublinhando que a redução se deve a um “conjunto de factores”, destacando as “elevadas produtividades de 2019” que vieram reduzir as reservas energéticas para a produção de frutos na Primavera de 2020.

O testemunho da organização “Rota Única Amêndoas”, descrito no AAA, destaca como o tempo húmido promoveu o desenvolvimento de doenças nos frutos que, consequentemente, requereram mais tratamentos fitossanitários. Houve também uma “elevada” perda de árvores devido a doenças radiculares. Acresce a estes condicionalismos a quantidade de frio acumulado, que foi bastante abaixo da média durante o Inverno, período de dormência das árvores, e que é necessário para o correcto desenvolvimento da flor.

Mesmo com as complicações verificadas durante o Inverno e a Primavera, prossegue a organização Rota Única Amêndoas, “a produção geral aumentou, embora os rendimentos por hectare tenham caído”, facto que é devido ao “aumento” da área plantada com amendoal, que no final de 2020 cobria uma área de 15.241 hectares.

À redução de rendimento nos pomares de amêndoa junta-se a queda dos preços para “apenas” 2,70 euros/quilo antes da colheita, embora tenha aumentado para 3,40 euros/quilo em Novembro. Isto representa uma queda de “quase 30% relativamente ao ano de 2019”, salienta a organização do sector.

O preço foi também ele mais baixo que o esperado “devido aos impactos relacionados com o covid-19 ,por força da disrupção de cadeias de fornecimento e retracção do consumo resultante da perspectiva de menores rendimentos, e à grande produção obtida na Califórnia”, conclui o testemunho do sector inserido no anuário agrícola publicado pela EDIA.

42 culturas

O documento sublinha o aumento das áreas regadas em mais 11.437 hectares. Em Alqueva praticam-se neste momento 42 culturas mas duas (olival com 68.346 hectares e amendoal com 15.241 hectares) ocupam cerca de 70% da área inscrita para rega: 102.399 hectares. Acrescentando as culturas de milho (6.233 hectares) e uva (5.755 hectares), a área ocupada sobe para os 80%. A cultura do olival continua a ser a mais importante e correspondi, no final de 2020, a cerca 62 % da área inscrita nos perímetros de rega de Alqueva.

A EDIA diz que se continua a assistir ao “aumento de peso das culturas permanentes, fruto do aumento de importância dos olivais e amendoais” que tiveram um crescimento mais acentuado do que as culturas anuais. Constata-se que, da análise da origem do investimento, enquanto nas culturas anuais “são quase exclusivamente portugueses, nas culturas permanentes os investidores estrangeiros têm um peso muito significativo”, assinala-se no anuário agrícola.

Com a entrada em funcionamento dos perímetros de rega do empreendimento de Alqueva, a área ocupada pela cultura do trigo foi perdendo importância. “Boa parte dos bons solos antes destinados às culturas cerealíferas já estão “ocupados por culturas permanentes como o olival”, factor que contribui muito para a redução das áreas de cereal na região Alentejo e por consequência em Portugal, observa o anuário agrícola, frisando que a “pressão sobre as terras disponíveis é intensa.”

Entretanto, a RPK Biopharma já criou estruturas de apoio para a plantação de 65 hectares de canábis ao ar livre na área do regadio do Alqueva, cultura que surge depois de ter terminado repentinamente a cultura da papoila branca para a produção de ópio medicinal.

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