Nova variante pode implicar mais cuidados com máscaras

Estudo divulgado pela Escola Nacional de Saúde Pública revelou que os portugueses utilizaram menos a máscara nas semanas que coincidiram com o Natal e o Ano Novo. Mas variantes mais contagiosas podem exigir cuidados ainda mais redobrados.

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Paulo Pimenta

Numa altura em que o secretário de Estado adjunto e da Saúde considerou já “significativo” o valor da prevalência da variante inglesa do SARS-CoV-2 em Portugal, começam a surgir, também noutros países afectados pela nova estirpe, conselhos no sentido de se redobrar — ainda mais — os cuidados com as máscaras usadas. Escolher máscaras mais protectoras, ter cuidado com as de pano ou até usar mais do que uma máscara em simultâneo, se necessário, são algumas indicações já avançadas.

As autoridades de saúde francesas, por exemplo, já alertaram para o uso das máscaras de pano, algumas das quais feitas em casa, considerando que muitas poderão não oferecer a necessária protecção contra novas variantes mais contagiosas, como (entre outras) a detectada no Reino Unido. Já as máscaras com maior poder de filtragem, como as cirúrgicas, são mais protectoras, de acordo com Daniel Camus, do Conselho Superior de Saúde Pública de França, citado no The Guardian,

Na Alemanha o Governo também está a ponderar tornar obrigatório o uso de máscaras FFP2 em transportes públicos e em lojas para garantir uma maior protecção contra possíveis mutações do vírus, segundo o The Guardian. A medida já está em vigor desde segunda-feira no estado alemão da Baviera, mas a utilização desse tipo de protecção só vai começar a ser controlada pelas autoridades a partir de 24 de Janeiro.

Também num artigo do The New York Times, sobre o que fazer para evitar a nova variante, se destacam os conselhos sobre a importância da qualidade das máscaras usadas. Neste caso, considera uma das especialistas ouvidas, cujo laboratório testou diferentes materiais de máscaras, a máscara de pano certa, usada adequadamente, poderá ter um bom desempenho. As melhores são as que têm três camadas: duas de tecido e um filtro intercalado.

No mesmo artigo, porém, também se refere uma solução alternativa à compra de máscaras novas: usar uma máscara adicional, sempre que a situação o justifique. Por exemplo: colocar uma máscara cirúrgica descartável e cobrindo-a com uma de pano, em situações de maior risco. Já outro especialista sugere o uso de máscaras mais eficazes para situações como andar de metro, ir a uma loja ou ao médico, e as de pano para momentos como, por exemplo, passear o cão.

Numa altura em que o agravamento da situação pandémica em Portugal levou a um novo confinamento – o boletim da Direcção-Geral da Saúde voltou a registar, nesta quarta-feira, novos máximos, com mais 14.647 casos de covid-19 e 219 mortes – várias são as medidas em vigor para travar a transmissão do vírus, desde logo o dever de recolhimento domiciliário. O uso de máscara também sido apontado por todos os especialistas como fundamental.

Porém, um estudo divulgado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Universidade Nova de Lisboa e apresentado na reunião do Infarmed, a 12 de Janeiro, revelou que os portugueses utilizaram menos a máscara nas semanas que coincidiram com o Natal e o Ano Novo. A directora da ENSP, Carla Nunes, observou que “o número de pessoas que reportam utilizar ‘sempre’ a máscara quando saem de casa e estão com outras pessoas que não vivem consigo diminuiu 10,4% nas últimas duas quinzenas”, passando de 86,7% na quinzena de 28 Novembro a 11 de Dezembro para 76,3% na quinzena entre 26 de Dezembro e 8 de Janeiro.

Valor “significativo”

Quanto à prevalência da nova variante no país, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge estima que, desde o início de Dezembro, tenham sido registados em Portugal um total acumulado de cerca de 30 mil casosO estudo indica que foram identificados cerca de 2100 casos positivos com esta variante nas cerca de 27 mil amostras positivas ao SARS-CoV-2 do laboratório Unilabs. Sabendo que este laboratório tem cerca de 7% do total de testes realizados no país, se se extrapolar para 100% dos testes realizados, então obtém-se os 30 mil casos. 

A agência Lusa já tinha dado nota de que a proporção de casos da variante inglesa está a “aumentar significativamente” em Portugal, citando um relatório do Insa, que calcula em 70% a taxa de crescimento entre o início de Dezembro de 2020 e o início deste mês. O relatório avançado pela Rádio Renascença, ainda em pré-publicação e depositado no site virological.org, alerta que, se não se existirem alterações na taxa de aumento da variante detectada no Reino Unido, a proporção dessa variante no total de casos em Portugal poderá atingir 60% na primeira semana de Fevereiro. 

O tema da nova variante britânica já foi também referido pelo primeiro-ministro, na terça-feira, no Parlamento, como factor a considerar na eventual decisão de encerrar ou não escolas, que deverá ser decidido em breve: “Se para a semana soubermos, se amanhã soubermos, se depois de amanhã soubermos, se daqui a 15 dias soubermos, por exemplo, que a estirpe inglesa se tornou dominante no nosso país, muito provavelmente vamos ter de fechar as escolas.”

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