Detectados 60 positivos na testagem em massa nas freguesias açorianas sob cordão sanitário
Ponta Garça e Rabo de Peixe, ambas sob cerca sanitária, vão ser alvo de uma testagem em massa até sexta-feira. No primeiro dia foram feitos 1538 testes e identificados 60 casos positivos.
Começou esta terça-feira a operação de testagem em massa nas freguesias açorianas que estão sob cerca sanitária: Ponta Garça e Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel. São as freguesias com mais casos de covid-19 no arquipélago. No primeiro dia da operação, que decorrerá até sexta-feira, foram realizados 1538 testes e identificados 60 casos positivos. Desses, 52 casos positivos foram em Rabo de Peixe (de entre os 1110 testes feitos) e sete foram detectados em Ponta Garça (com 428 testes). A informação foi avançada ao PÚBLICO pelo próprio director regional da Saúde, Berto Cabral, no final do primeiro dia da operação, que começou às 9h e prolongou-se para lá das 18h.
Assim, somando esses números com os do boletim diário desta terça-feira, a vila piscatória de Rabo de Peixe, na costa norte da ilha, regista 385 casos positivos. Já Ponta Garça, a maior freguesia açoriana em extensão, tem 78 infectados.
“O balanço é positivíssimo. As pessoas aderiram, vieram sem problemas, estão a aceitar mais uma vez a realização dos testes e a corresponder a todo o empenho das equipas de saúde que estão no local e que têm sido excepcionais”, afirmou ao PÚBLICO Gustavo Tato Borges, responsável pela comissão de combate à pandemia no arquipélago. Foram destacados mais de 50 profissionais de saúde para a operação de testagem nas duas freguesias.
Esta não é a primeira vez que a região leva a cabo um esforço de testagem em larga escala numa freguesia. A 5 de Dezembro, a vila de Rabo de Peixe também foi alvo de uma testagem em massa – mas aí a operação decorreu noutros moldes. Nessa altura, entendeu-se testar praticamente toda a população da freguesia, realizando-se oito mil testes rápidos em três dias, tendo-se detectado 119 casos positivos.
Agora, a situação é diferente: em vez de testar toda a população de forma generalizada, entendeu-se apenas testar as zonas críticas das freguesias. Nessas zonas, foram identificadas 1000 pessoas para serem testadas em Ponta Garça (freguesia com 3500 habitantes) e 1500 em Rabo de Peixe (de nove mil habitantes). No total, de terça até sexta-feira, serão testadas 2500 pessoas – um número significativo para a região que costumar a realizar cerca de 1200 a 1300 testes à covid-19 diariamente. “Nós fizemos a georreferenciação dos casos positivos, identificámos as zonas de maior incidência de casos desde o inicio do ano e percebemos que havia ali duas regiões em ambas as freguesias que precisavam de atenção”, explica Tato Borges.
Rabo de Peixe: testes em massa outra vez
Se testar em massa uma freguesia específica já não é frequente, menos ainda é efectuar duas operações de testagem na mesma freguesia em pouco mais de um mês. O que correu mal em Rabo de Peixe? O médico especialista em saúde pública aponta três motivos.
O primeiro foi a “mensagem subliminar” passada à população, que, assim que testada pensou que “já poderia estar à vontade”. “É preciso passar uma mensagem dedicada a esta vila de que é preciso manter o cuidado, apesar dos testes. É algo que vamos articular com junta freguesia e Segurança Social para que haja uma mensagem continua da necessidade de manter as medidas”, assinala.
Depois, segundo Tato Borges, foram as festas, com os convívios a tornarem-se ainda mais perigosos numa vila piscatória com elevados índices de pobreza. Em Rabo de Peixe, em “casas pequenas juntam-se duas, três famílias”, pelo que é fácil existirem “mais de 50 pessoas em espaços pequenos”: “Encontrámos até agora famílias inteiras positivas, dai esses números elevados”.
Por último, houve também quem procurasse esconder a doença: “Alguns com medo de não trabalhar ou de lhes serem apontados dedos como potenciadores da doença, esconderam os seus sintomas e acabaram por não recorrer ou recorrer tarde aos serviços de saúde”, conclui. A 6 de Janeiro, Rabo de Peixe tinha 97 infectados, agora são 385.
A região regista actualmente 824 casos positivos: 797 em São Miguel, 23 na Terceira, um no Faial, um no Pico e quatro nas Flores. Desde o início da pandemia, foram detectados 3157 casos de infecção pelo novo coronavírus no arquipélago, verificando-se 23 óbitos e 2270 recuperações.
Artigo corrigido às 15h20 desta quarta-feira com correcção de números enviada pela Direcção Regional de Saúde.