Um templo para uma rainha, sarcófagos e um papiro com três mil anos descobertos no Egipto
Resultado das escavações que estão a ser realizadas em Saqqara, a sul do Cairo, um sítio arqueológico onde o arqueólogo Zahi Hawass acredita que “há ainda 70% por explorar”.
A expectativa tinha já sido criada em meados de Novembro do ano passado, quando o ministro do Turismo e das Antiguidades do Egipto, Khaled El-Anany, ao anunciar a descoberta de uma centena de sarcófagos praticamente intactos com 2500 anos, antecipou que Saqqara, a necrópole da antiga cidade de Mênfis, tinha “ainda muito a revelar”, referindo-se ao trabalho que vinha sendo realizado nesse sítio 30 quilómetros a sul do Cairo pela equipa do famoso e controverso arqueólogo Zahi Hawass. A confirmação chegou este domingo. Depois de um comunicado do ministério na véspera ter convocado a comunicação social, o antigo secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades (ao tempo do Presidente Mubarak) revelou as novas e surpreendentes descobertas feitas por ele e pela sua equipa em Saqqara, um sítio classificado como Património da Humanidade.
Hawass identificou, a mais de uma dezena de metros de profundidade, vários poços funerários, centenas de ataúdes e múmias, um número assinalável de esculturas representando divindades diversas, estelas, brinquedos, maquetas de barcos e máscaras mortuárias… E um papiro com mais de quatro metros de comprimento e um metro de largura, tendo inscrito o texto do capítulo 17 do Livro dos Mortos, o que remete estas descobertas para o início do primeiro milénio a.C.
“Estes achados poderão reescrever a história da região, especialmente durante as dinastias XVIII e XIX do Império Novo, durante as quais o faraó Teti foi adorado e inúmeras personagens foram sepultadas em volta da sua pirâmide”, disse Zahi Hawass, citado pela AFP, no encontro com os jornalistas. E sublinhou a sua convicção de que “há ainda 70% por explorar” deste sítio arqueológico, que está entre os mais estudados pelos arqueólogos nas últimas décadas, e onde desde Setembro de 2020 já foram encontradas centenas de sarcófagos, muitos deles ainda selados e incólumes.
O papiro atrás referido tem ainda a particularidade de identificar o seu proprietário: Pw-Kha-Ef, um nome que surge igualmente inscrito num ataúde antropomórfico de madeira e em quatro estátuas funerárias.
As principais descobertas agora reveladas foram realizadas no templo funerário da rainha Nearit, mulher de Teti, o primeiro faraó da VI Dinastia do Império Antigo. À sua volta, foram também descobertos dezenas de poços funerários recheados de ataúdes, estátuas de deuses como Osíris e Ptah-Sokar-Osíris, e também as marcas da existência de várias oficinas dedicadas ao fabrico de objectos funerários e utensílios usados para a mumificação dos cadáveres.
Segundo o relato do jornalista do El País, foi ainda referenciada a descoberta de uma luxuosa capela, do tempo do Império Novo (com cerca de 3000 anos), a 24 metros de profundidade.
Entre o muito que há ainda por descobrir, Hawass – que actualmente dirige uma missão arqueológica egípcia em cooperação com o Ministério do Turismo e das Antiguidades e com a Biblioteca de Alexandria – espera encontrar câmaras funerárias e outras estruturas ainda não saqueadas.
As actuais e futuras descobertas em Saqqara irão enriquecer o acervo do Grande Museu Egípcio em construção no planalto de Guiza, onde se encontram as mais famosas pirâmides do Egipto e a Esfinge, e cuja inauguração, tantas vezes adiada, está anunciada para o corrente ano. Com o novo museu o Governo do país espera melhorar o fluxo de turismo, que foi fortemente afectado pela pandemia.
Enquanto se espera pela abertura do museu, os interessados na arqueologia e na história do Egipto poderão recorrer ao site Google Arts & Culture, que acaba de criar uma plataforma específica sobre os tesouros desse passado mítico e fantástico, “das múmias às mesquitas”.