Santana pensa regressar ao PSD e até liderar uma candidatura autárquica
Numa grande entrevista ao Sol, o antigo líder dos sociais-democratas diz que se se candidatar é para ganhar e reafirma o seu gosto pelo trabalho autárquico. Quanto a presidenciais, o seu voto vai para Marcelo Rebelo de Sousa.
Pedro Santana Lopes parece estar a preparar o seu regresso ao PSD. O antigo presidente social-democrata assume que o seu projecto político para o Aliança “falhou”, mas deixa claro que pretende ter uma intervenção política enquanto puder.
Numa grande entrevista este sábado ao semanário Sol, Pedro Santana Lopes não fecha a porta a uma eventual candidatura autárquica, que não passará por Lisboa. “Se me candidatar é para ganhar “, diz o antigo primeiro-ministro, reafirmando, sem cinismos, que “gosta muito” do trabalho autárquico.
“Não quero ter nenhuma derrota eleitoral. Se me candidatar é para ganhar. Não podemos negar quem somos e eu adoro o combate, adoro causas, gosto de mudar as coisas. Já tive muitos combates, muita luta, algumas injustiças. Não gosto de ser cínico, e assumo que gosto muito desse trabalho. Sempre disse que o trabalho que mais gostei foi o trabalho autárquico, mais do que ter sido primeiro-ministro. Acho que é fascinante, mas vamos a ver”, afirma o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que afasta uma candidatura à Câmara de Lisboa. Quanto a Sintra, responde: “É um concelho que conheço muito bem”.
“Se lhe contasse o número de câmaras para as quais tenho recebido convites de candidaturas por parte de entidades partidárias, calcula qual é? Não ia acredita”, declara Santana na entrevista, considerando “interessante” que continuem a acreditar e a pensar no seu nome para liderar candidaturas autárquicas, quando há um ano e meio teve “um rotundo fracasso eleitoral” Ainda a propósito de candidaturas, revela que “no outro dia” foi convidado para se candidatar a uma capital de distrito do Norte que tem sido tradicionalmente do PS.
O antigo presidente da Câmara de Lisboa sublinha que a sua posição em relação a todas as câmaras é sempre a mesma: “Neste momento não penso nisso. Hoje em dia sou advogado, tenho o meu escritório. Deus me dê vida e saúde para atravessar esta pandemia”.
Sobre o seu eventual regresso ao PSD, Santana é muto contido - até porque ainda é militante do Aliança -, mas partilha que tem recebido das pessoas do PSD dos mais variados níveis, muitas provas, muitas atitudes que o sensibilizam. “Desde militantes do PSD até aos mais variados níveis de responsabilidade”, conta, elogiando o presidente do PSD, Rui Rio, com quem esteve recentemente num jantar e que deu origem a muitas especulações. “Tem tido atitudes que muito me sensibilizam”, declara.
O fundador do Aliança, cuja liderança deixou há meses não se alarga nas respostas que dá em relação ao partido em que ainda milita. “Acho que a Aliança tem de fazer opções num processo de decisão interna que ainda não está concluído. A minha intervenção política no Aliança terminou. Foi um projecto que falhou, falhou e logo na noite das eleições legislativas, assumo isso”, assume, observando que “quase todos aqueles que fundaram o Aliança já sairiam, mas entendo que tenho o dever de ter um espaço preocupação na maneira de fazer as coisas”. Conta ainda que “o processo de decisão para aquilo que será o futuro do Aliança não está concluído. Foi um tempo que terminou e o Aliança está a decidir se quer continuar, o caminho que quer fazer ou se não o quer fazer”. É um processo de decisão interno que está em curso”.
Sobre a sua eventual saída do Aliança, Santana Lopes não se detém em pormenores, afirmando que não pretende falar do assunto. "Acho que as pessoas já entenderam qual é a orientação do caminho que estou a seguir, mas não quero falar disso”, reiterou.
Sobre as presidenciais elogia Marcelo Rebelo de Sousa, mas não concorda com tudo o que o Presidente da República defende. Questionado se já decidiu em quem vai votar nas eleições presidenciais, Santana Lopes adianta que vai votar em Marcelo, uma decisão que tomou há poucos dias, segundo relata na entrevista. “Ficou claro nos debates que é um candidato à parte. Marcelo tem grandes qualidades e prestou grandes serviços ao país como Presidente da República. Isso não significa que concorde com todas as suas opções e até tenho uma questão que me coloca algumas reservas”, partilhou.
“Entendo que o Presidente da República não deve dizer que não quer pôr as suas convicções pessoais à frente das responsabilidades do seu cargo, nomeadamente em matérias fracturantes. Não estou de acordo e espero que no segundo mandato o actual Presidente actue de um modo diferente. Não tenho a certeza de que seja este seu pensamento permanente. Li declarações dele a dizer isto e não estou de acordo. O sistema que nós temos, ao dar o direito de veto ao Presidente da República, dá-lhe também o direito de decidir segundo as suas convicções. Mas Portugal precisa de um Presidente com as qualidades que manifestamente Marcelo Rebelo de Sousa tem. É muito importante que Marcelo ganhe confortavelmente à primeira volta”.
Apesar de o seu voto ir para o candidato-Presidente, Santana mostra-se surpreendido com a performance eleitoral de Tiago Mayan Gonçalves. “Confesso que o candidato da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, me surpreendeu muito positivamente. É um homem de ideias claras e com a cabeça arrumada. Foi talvez a mensagem mais fresca, mais nova, que ouvi nesta campanha. É desconhecido de muitas pessoas, mas revelou ser um valor a ter em conta. Mas não concorre propriamente a Presidente da República”.