Manifesto critica linha de metro ligeiro no Jamor
Intenção anunciada pelas câmaras de Lisboa e Oeiras é contestada pela associação Vamos Salvar o Jamor, que lhe chama “aberração”, “ideia peregrina” e “decisão ligeira”.
A futura linha de metro ligeiro entre Alcântara e a Cruz Quebrada ainda não saiu da estação da promessa mas o traçado anunciado já é motivo de preocupação. A associação Vamos Salvar o Jamor acaba de lançar um manifesto em que apelida de “aberração” a intenção de pôr a linha a passar pelo meio do Centro Desportivo Nacional do Jamor (CDNJ) e em que pede ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças que obriguem as entidades envolvidas a rever o projecto.
A Linha Intermodal Sustentável (Lios) foi anunciada oficialmente em Julho de 2020 e deverá ligar Alcântara ao Jamor via Restelo e Miraflores. A solução está a ser trabalhada entre as câmaras de Lisboa e Oeiras pelo menos desde 2018. Ao projecto juntou-se depois a Câmara de Loures, cujo território também terá um troço de linha, até Sacavém. O investimento estimado das três autarquias, que assinaram protocolos com o Metro de Lisboa e a Carris, é de 490 milhões de euros e deverá contar com fundos europeus.
De acordo com o traçado divulgado no Verão, a Lios vai atravessar uma parte de Monsanto nas traseiras do Hospital de S. Francisco Xavier e entrará no concelho de Oeiras em Miraflores, subindo a Alameda Fernão Lopes e a Av. José Gomes Ferreira até perto da Piscina Municipal de Linda-a-Velha. Aí deverá subir atravessando um jardim, uma zona residencial e empresarial e um vasto terreno onde existem antigas instalações militares. A linha prosseguirá pela Av. Duque de Loulé e entrará nas matas do Jamor junto ao actual Parque Aventura, continuando até aos courts de ténis e à piscina por uma estrada que está fechada ao tráfego automóvel há anos. Prevê-se aí uma bifurcação que ligará à estação ferroviária da Cruz Quebrada, ao futuro empreendimento Porto Cruz e à raquete do Jamor, onde terminará a linha de eléctrico 15.
Os subscritores do manifesto opõem-se a este trajecto. “Não faz sentido trazer para o interior do CDNJ transportes colectivos pesados. É uma aberração. Descaracteriza um parque urbano com tipologias únicas. É uma ideia peregrina, uma decisão ligeira assente na ignorância”, lê-se no documento a que o PÚBLICO teve acesso. “É uma ‘solução’ que coloca em risco uma zona de mata, dedicada ao lazer, ao desporto e ao convívio das famílias com a natureza. Compromete a segurança dos utentes. Coloca em perigo quem anda a pé ou de bicicleta e inviabiliza a utilização recreativa de uma parte significativa da mata.”
Entre os signatários do texto encontram-se os antigos atletas olímpicos Aurora Cunha, Carlos Lopes, Domingo Castro e José Jesus Carvalho, bem como dois ex-directores do CDNJ (Mário Vital Melo e Carlos Paula Cardoso), o actual e um ex-presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (Jorge António Campos Vieira e Fernando Mota), os ambientalistas Eugénio Sequeira, Nuno Gomes Oliveira e Paulo Pimenta da Castro, os professores universitários Luísa Schmidt, Filipe Duarte Santos e Viriato Soromenho-Marques, entre outros.
A Lios é vista por Fernando Medina e Isaltino Morais como uma solução estruturante para uma zona carenciada de transportes públicos e como uma forma de reduzir o uso do automóvel particular. Miraflores e Linda-a-Velha são zonas de Oeiras com elevada concentração de empresas, enquanto o Pólo Universitário da Ajuda e o Hospital de S. Francisco Xavier são equipamentos lisboetas deficitários em transportes.
“Este é mais um caso em que o ‘discurso verde’ dos responsáveis políticos contrasta frontalmente com as suas acções”, argumenta o manifesto. “Para além da agressão ambiental, a Lios é uma solução cara, quando existem alternativas mais baratas e que servem mais pessoas, assentes nas infra-estruturas rodoviárias já existentes”, lê-se.
O manifesto será entregue ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças nos próximos dias. Depois disso, uma petição para levar o assunto à Assembleia da República ficará também disponível.