Bitcoin e o seu impacto climático
O facto de esta criptomoeda depender maioritariamente de equipamento informático baseado em países com geração elétrica muito dependente de combustíveis fósseis, como a China ou a Rússia, sugere que o seu impacto climático é substancial.
A subida vertiginosa do preço da Bitcoin no final do ano passado e início deste ano, e o crescente interesse de investidores institucionais em criptomoedas, convidam-nos a refletir sobre a sustentabilidade ambiental deste tipo de ativo digital.
A forma como as transações de Bitcoin são registadas, e a forma como novas unidades são geradas, é extremamente dispendiosa do ponto de vista energético. A integridade do próprio sistema depende do chamado mecanismo de consenso de Prova de Trabalho (Proof of Work) que se baseia na resolução de problemas matemáticos extremamente complexos, recorrendo a recursos informáticos com enorme capacidade de processamento.
A estimativa do valor exato do consumo elétrico associado ao funcionamento da Bitcoin como investimento ou sistema de pagamentos foi já objeto de vários estudos científicos. Alguns estudos apontam valores comparáveis ao consumo elétrico de um país europeu de dimensão média, como a Áustria ou a Holanda. Num passo seguinte, vários estudos tentaram também estimar a pegada climática da Bitcoin associando consumo elétrico a emissões de gases com efeito de estufa. Independentemente de algumas divergências nos pressupostos e resultados quantitativos destes estudos, o facto de esta criptomoeda depender maioritariamente de equipamento informático baseado em países com geração elétrica muito dependente de combustíveis fósseis, como a China ou a Rússia, sugere que o seu impacto climático é substancial.
Sabemos que a década que agora se inicia será crucial no combate da humanidade contra as alterações climáticas. A alteração dos nossos comportamentos como consumidores será uma peça chave deste esforço, tal como a alteração dos nossos comportamentos como investidores. Investimentos em tecnologias que contribuam para um aumento das emissões de gases com efeitos de estufa devem ser descontinuados e canalizados para alternativas neutras em carbono.
A Bitcoin e a tecnologia blockchain, na qual se baseia, trouxeram inegáveis benefícios ao mundo. A possibilidade de milhões de pessoas, que não têm acesso a serviços bancários, conseguirem transferir dinheiro sem restrições de fronteiras, a baixo preço e de forma segura, será porventura um do mais notáveis. Contudo, se a Bitcoin se tornar um instrumento popular entre gestores de ativos profissionais, como é o ouro, ou ganhar escala comparável a outros sistemas de pagamento mundiais, como por exemplo a rede Visa de cartões de crédito, o impacto climático será desastroso. Felizmente, existem várias outras criptomoedas, muitas das quais recorrem a mecanismos de consenso distintos da Prova de Trabalho, que oferecem os mesmos benefícios da Bitcoin, sem os seus nefastos impactos ambientais. A prazo, estas deverão tornar-se a escolha de investidores responsáveis que desejem enriquecer as suas carteiras com esta classe de ativos digitais.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico