Câmara de Lisboa acciona plano de apoio aos sem-abrigo devido ao frio
Município vai criar espaço de acolhimento onde serão servidas refeições quentes no Mercado de Santa Clara.
O cenário é em tudo semelhante ao de anos anteriores: sempre que a temperatura baixa e os valores de temperatura mínima variem entre um e três graus Celsius durante mais de dois dias, a Câmara de Lisboa acciona o plano de contingência para a vaga de frio, destinado às pessoas que pernoitam na rua, sem um tecto onde se abrigarem.
Na prática, é adaptada uma estrutura (um pavilhão, por exemplo) para que quem está sem-abrigo possa tomar um banho, comer uma refeição quente e ter acompanhamento social. Face às baixas temperaturas que se prevêem para os próximos dias, o município accionou este plano ao final da tarde desta terça-feira e abriu o Mercado do Campo de Santa Clara, na freguesia de São Vicente, para receber esta população.
Há uma estrutura montada para que quem ali chegue passe por uma triagem médica, onde é medida a febre e feito um pequeno inquérito para avaliar possíveis sintomas. Depois, podem fazer uma refeição quente ali mesmo e, quem assim quiser, é encaminhado para passar a noite nos quatros centros de acolhimento de emergência da autarquia — criados devido à pandemia — que tiverem vagas, para alojamentos de instituições da rede social de Lisboa ou para o Pavilhão Municipal Manuel Castelbranco, na Graça, que este ano terá capacidade para acolher 40 pessoas durante estes dias de frio mais intenso.
No Mercado de Santa Clara estão equipas do serviço municipal de Protecção Civil, do pelouro dos Direitos Sociais, da Cruz Vermelha, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e de instituições da rede de apoio social da cidade para sinalizar e encaminhar as pessoas em situação de sem-abrigo que ali acorrerem.
Na prática, explicou o vereador da Protecção Civil, Carlos Castro, as equipas de rua estão desde segunda-feira a informar quem ali pernoita que nos próximos dias podem recorrer àquele espaço para, pelo menos, terem acesso a uma refeição quente e agasalhos.
Estas equipas vão também fazer as rondas habituais pela cidade, passando por pontos onde a população se pode concentrar para depois ser transportada para o mercado: junto ao átrio principal da estação de Santa Apolónia, no Rossio, na Praça Duque de Saldanha, junto ao Pingo Doce de Alcântara, na estação de metro do Intendente e na entrada principal do Centro Comercial Vasco da Gama.
Como é habitual, também as estações de metro do Rossio, Santa Apolónia e Oriente vão permanecer abertas durante a madrugada para que quem está na rua possa passar a noite mais abrigado.
Segundo a última contagem feita pela Câmara de Lisboa e pela Santa Casa da Misericórdia nos meses de Outubro e Novembro, foram parar às ruas de Lisboa mais 140 pessoas nos últimos 12 meses, lembrou o vereador dos Direitos Sociais, Manuel Grilo.
No total, estão identificadas 356 pessoas em situação de sem-abrigo e sem tecto — um número que não inclui as pessoas que estão alojadas nos centros de acolhimento de emergência, em albergues ou noutros locais de acolhimento. Os centros criados pelo município como resposta de emergência à situação pandémica permanecem abertos, com capacidade para, no seu conjunto, acolherem 220 pessoas. Por norma, estão sempre lotados.
Resposta ao frio pode durar mais de uma semana
Esta resposta de contingência do frio, disse Carlos Castro, poderá estender-se por “oito, nove dias”, face à descida acentuada da temperatura prevista para os próximos dias. No entanto, tal será diariamente avaliado.
A Protecção Civil emitiu esta terça-feira um aviso à população devido à previsão de frio, chuva e vento, recomendando à população que tome medidas de prevenção e dê especial atenção ao uso de equipamentos de combustão.
O aviso à população da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) tem por base informação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que prevê para terça e quarta-feira tempo frio, com temperaturas mínimas a variar entre os -4ºC e os 8ºC e as máximas entre os 5ºC e os 17ºC, e vento que pode ser forte nas terras altas.
A ANEPC destaca também a necessidade de especial atenção aos grupos populacionais mais vulneráveis, crianças, idosos e pessoas portadoras de patologias crónicas e população sem-abrigo.
Face à situação meteorológica, a ANEPC recorda que o eventual impacto destes efeitos pode ser minimizado, sobretudo através da adopção de comportamentos adequados, pelo que, e em particular nas zonas historicamente mais vulneráveis, recomenda a observação e divulgação das principais medidas de autoprotecção para estas situações.
Nesse sentido, aconselha que se evite a exposição prolongada ao frio e às mudanças bruscas de temperatura, a manter o corpo quente, através do uso de várias camadas de roupa, folgada e adaptada à temperatura ambiente, proteger as extremidades do corpo (usando luvas, gorro, meias quentes e cachecol) e calçado quente e antiderrapante e ingestão de sopas e bebidas quentes, evitando o álcool que proporciona uma falsa sensação de calor. com Lusa