Marcelo sobre eventual segundo mandato: “A predisposição é ser o mesmo”
Num debate em tom cordial, João Ferreira tentou colar Presidente a políticas de direita.
Um debate entre um candidato-Presidente que assume vir da “direita” e um candidato presidencial dirigente do PCP podia ser um momento de exibir divergências. No cordato frente-a-frente desta segunda-feira à noite na TVI, João Ferreira ainda tentou colar Marcelo Rebelo de Sousa a políticas de direita, mas deparou-se com um candidato muito concordante com as preocupações sociais e constitucionais. À pergunta sobre como vai ser Marcelo num segundo mandato, se for eleito, o Presidente compromete-se em repetir a estabilidade.
O candidato apoiado pelo PCP acusou Marcelo Rebelo de Sousa de convergir com as “posições dos partidos mais à direita” ao promulgar diplomas como os relacionados com bancos de horas e o alargamento do período experimental dos jovens à procura do primeiro emprego ou a abster-se de dar um “sinal” aos micro e pequenos empresários. Marcelo concordou com a necessidade de se “olhar para a matéria laboral” e defendeu medidas concretas: “Os pequenos e médios empresários precisam de uma ajuda directa do Estado, e não apenas de financiamento e de moratórias. Devia-se pensar em alongar o período de pagamento, seis meses ou um ano é curto, mas sim durante três ou quatro anos, para o pequeno empresário ter fôlego”. E, aproveitou a pergunta sobre o perfil do próximo chefe de Estado, para colar João Ferreira ao PCP: “É preciso que não seja um presidente de facção, dirigente de partido”.
Sem esquecer as suas raízes políticas, Marcelo Rebelo de Sousa traçou o seu retrato. “Eu venho da direita, coabitei com um Governo de esquerda. Não fiz questão de impor a direita no poder”, disse, lembrando que promulgou a lei da reposição das 35 horas semanais e que foi criticado pelo seu antecessor [Cavaco Silva]”.
João Ferreira confrontou ainda o Presidente sobre a decisão de dar luz verde ao salário mínimo de 635 euros. Lembrando que esse valor “fica aquém do defendido pelo PCP”, Marcelo Rebelo de Sousa justifica que a “hotelaria esteve parada”. “Não é ideal mas é possível”, refere, aproveitando para recordar que essa tem sido a atitude da bancada comunista ao suportar o Governo do PS: “Se há partido que percebe isso muito bem é o PCP, viabilizou cinco orçamentos, três da autoria do presidente do Eurogrupo [Mário Centeno], dizendo que não concordava com tudo o que lá estava mas que tinha conquistas sociais”.
O primeiro mandato do Presidente já tinha rondado o debate. Logo nas primeiras perguntas, o moderador quis saber se podemos esperar um Presidente da República muito diferente nos próximos quatro anos, caso seja eleito. Lembrando que foi “factor de estabilidade” e que contribuiu para evitar crises e para “superar crises”, Marcelo assumiu que “a predisposição é de ser o mesmo”. Voltou a defender que a legislatura “tem de ir até ao fim” e que “tem de estar no poder um partido de esquerda”, que a “direita tem direito a organizar-se e ser forte para concorrer às legislativas de 2023”.
Relativamente ao caso com a nomeação do procurador João Guerra para a Procuradoria Europeia, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu os acontecimentos desta segunda-feira para concluir que foi informado de que o primeiro-ministro mantém a confiança na ministra da Justiça. Mas com um pormenor: a carta de justificação da nomeação do procurador continha “informações falsas”, e não “lapsos” como refere a linguagem do Ministério da Justiça.
João Ferreira considerou que o caso é uma “trapalhada” e que exigia um pedido de esclarecimento do Presidente da República ao Governo.