Marchas de milhares em Bagdad, um ano depois do assassínio de Soleimani

Teerão avisa Trump para não cair “na armadilha” de agentes israelitas que estariam a planear ataques contra americanos no Iraque para forçar os Estados Unidos a agir contra o Irão. Soleimani foi assassinado há um ano.

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Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se na Praça Tahir, em Bagdad KHALID AL-MOUSILY/Reuters
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A concentração no centro de Bagdad é uma de várias para assinalar o aniversário do ataque AHMED JALIL/EPA
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O aniversário da morte de Soleimani começou a ser evocado numa marca nocturna no lugar do ataque MURTAJA LATEEF/EPA

Um ano após o ataque ordenado pelo Presidente Donald Trump, para matar o poderoso general iraniano Qassem Soleimani e o comandante iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, e com as tensões entre o Irão e os Estados Unidos de novo a subir, dezenas de milhares de iraquianos manifestaram-se este domingo na Praça Tahir de Bagdad agitando bandeiras do Iraque e entoando slogans anti-americanos.

Esta é uma das várias manifestações previstas ao longo do dia – de madrugada, já milhares marcharam na auto-estrada que leva ao aeroporto, onde os dois homens foram mortos por drones. À luz das velas, descreve a AFP, mulheres, homens e crianças vestidos de negro saudaram os seus “mártires” e gritaram contra o “Grande Satã”. Tanto no aeroporto como na Tahir ouviram-se pedidos de vingança.

A concentração da Tahrir, para “denunciar o ocupante americano”, foi marcada pelo colectivo de milícias de que Muhandis era vice-comandante, as Forças de Mobilização Popular, que o Irão treina e apoia. Soleimani, comandante da Força al-Quds, unidade de elite dos Guardas da Revolução, era há mais de 20 anos responsável pela política iraniana na região. Um símbolo da resistência do Irão aos EUA, respondia directamente ao ayatollah Ali Khamenei e era considerado o segundo homem mais importante do regime.

Quando foi assassinado, muitos temeram uma guerra aberta entre Washington e Teerão. A resposta iraniana acabou por se fazer contra os interesses americanos no Iraque, precisamente através das milícias iraquianas leais ao Irão – que recomeçaram recentemente os seus ataques com rockets contra bases americanas.

Nos últimos dias, vários dirigentes iranianos têm acusado a Casa Branca de estar a tentar provocar um conflito. A semana passada, o Pentágono enviou dois bombardeiros B-52 com capacidade nuclear para o Médio Oriente, num aviso contra ataques que visem as tropas americanas. No dia seguinte, o Irão condenou “o aventureirismo militar” dos EUA no Golfo Pérsico e no Mar de Omã, numa carta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas onde denunciava ainda “informações falsas, acusações infundadas e retórica ameaçadora” contra Teerão.

Entretanto, os bombardeiros e o porta-aviões Nimitz já abandonaram a região. No sentido contrário, o Irão anunciou que vai voltar a enriquecer urânio a 20%, em mais uma violação do acordo internacional sobre o programa nuclear do país, que Trump abandonou unilateralmente em 2018.

Sábado, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, escreveu no Twitter que “informações do Iraque indicam que agentes provocadores israelitas preparam ataques contra os americanos” para deixar “Trump num impasse com um casus belli fabricado” e avisa o ainda Presidente dos EUA para “ter cuidado com a armadilha”.

A verdade é que com a tomada de posse de Joe Biden marcada para 20 de Janeiro a aproximar-se, Trump está sob pressão de Israel e da Arábia Saudita para agir em relação ao Irão, diz à Al-Jazeera  Danny Postel, especialista em política externa dos EUA e do Irão e vice-director de Estudos Internacionais da Universidade de Northwestern.

“Trump é um animal muito ferido e muito encurralado num cenário de fim de jogo”, diz Postel. “Tem algumas semanas e sabemos que é capaz de comportamentos extremamente erráticos.”

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