Covid-19: Hospitais de Londres, do Sudeste de Inglaterra e do País de Gales “em ruptura”

Governo de Boris Johnson enfrenta revolta de professores e directores contra recomeço das aulas em Inglaterra, depois de ser forçado a adiar a reabertura de escolas primárias de Londres. Reino Unido já vacinou mais de um milhão de pessoas.

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As unidades de cuidados intensivos dos hospitais públicos de Londres já estão acima das suas capacidades FACUNDO ARRIZABALAGA/EPA

Com a taxa de capacidade nas unidades de cuidados intensivos em Londres a chegar aos 114% e os hospitais do País de Gales “em ruptura”, Andrew Goddard, presidente do Royal College of Physicians (equivalente à Ordem dos Médicos), avisou este sábado que a nova variante do coronavírus “se está a espalhar” por todo o Reino Unido e que o “pessoal hospitalar” tem de se preparar para “mais e mais casos”. Isto quando mais de um milhão de pessoas já tomou a primeira dose da vacina da Pfizer/ BioNTech e o país inicia na segunda-feira a administração da segunda vacina aprovada, da Oxford/AstraZeneca.

“Todos os hospitais que não tiveram ainda as grandes pressões que há no Sudeste, em Londres e no sul do País Gales, devem saber que vai na sua direcção”, afirmou Goddard à BBC.

O Reino Unido registou este sábado um novo recorde de infecções por covid-19, com 57,725 novos casos, o maior número num só dia e o quinto consecutivo acima dos 50 mil. Os dados, que ainda não incluem a Escócia, dão ainda conta de mais 445 mortes, num total de 74,570.

De acordo com as estatísticas mais recentes, de 28 de Dezembro, há 23,823 pessoas internadas com covid em todo o país, um número já bastante superior ao verificado no pico da Primavera, a 12 de Abril, com 21,683 hospitalizações.

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“O Natal vai ser um grande impacto, a nova variante também vai ter um grande impacto, sabemos que é mais infecciosa, mais transmissível, penso que os grandes números que temos visto no Sudeste, em Londres, no Sul de Gales, se vão reflectir no próximo mês, dois meses, no resto do país”, afirmou Goddard, no programa BBC Breakfast da emissora pública britânica.

As unidades de cuidados intensivos em Londres e na região do Sudeste, em redor da capital, já ultrapassaram a sua capacidade a 29 de Dezembro, com taxas de ocupação a chegar aos 113% e 114%, indicam dados do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), publicados na  Health Services Journal.

Foram estas informações que levaram o Governo a activar no último dia do ano o gigantesco hospital de campanha montado em Abril num centro de exposições em Londres, com uma capacidade equivalente a dez hospitais convencionais (4000 camas).

Em Londres e no Sudeste de Inglaterra, a pressão nos hospitais tem sido tão grande que já há pacientes a serem transferidos para outras zonas do país, diz o jornal The Guardian.

No País de Gales, “os hospitais estão completamente em ruptura”, afirma Ami Jones, consultora de cuidados intensivos, ouvida pela BBC. “Não temos o apoio que tivemos na primeira vaga”, sublinha, acrescentando que um quarto do seu pessoal está de baixa por doença ou em auto-isolamento.

Com tantos avisos, há responsáveis de outras zonas que querem ver o Governo a agir já. Dominic Harrison, director de saúde pública da região de Blackburn e Darwen, no Noroeste de Inglaterra, pede uma decisão sobre um novo confinamento “durante a próxima semana”. Isto em vez de esperar que a região chegue ao estado de Londres e do Sudeste “e decidir demasiado tarde, que tem sido demasiadas vezes o nosso padrão de resposta”.

Desde quarta-feira que o Governo voltou a impor confinamentos em parte de Inglaterra, enquanto as autoridades da Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte reimpuseram medidas para limitar os contactos.

Diferentes estudos dos últimos dias confirmam que a nova variante do coronavírus SARS-CoV-2 identificada em Inglaterra uns dias antes do Natal é mais contagiosa – um relatório de cientistas do Imperial College de Londres estima que esta variante, que surgiu no Sudeste de Inglaterra, triplicou as infecções em Inglaterra ao longo de Novembro, ao mesmo tempo que o número de novos casos causados pela variante anterior diminuía em um terço.

Como outros estudos, conclui que a nova variante começou por se espalhar mais rapidamente entre pessoas com menos de 20 anos, mas nota que rapidamente se espalhou por outros grupos. “Os dados iniciais foram recolhidos durante uma fase do confinamento de Novembro em que as escolas estavam abertas e as actividades da população adulta eram mais limitadas”, diz Axel Gandy, especialista em Estatística do Imperial College e co-autor do trabalho.

"Inevitável” manter escolas encerradas

A possibilidade de esta variante ser mais contagiosa entre crianças e jovens é um dos argumentos esgrimidos pelos sindicatos de professores e directores que tentam forçar o Governo de Boris Jonhson a manter todas as escolas em Inglaterra encerradas por mais duas semanas. Dois sindicatos iniciaram uma acção legal contra o Ministério da Educação e exigem até ao fim do dia de segunda-feira dados científicos que sugiram que é seguro recomeçar as aulas.

Estas pressões, exacerbadas pelo apelo aos professores para não irem trabalhar, surgem quando o Governo já se viu obrigado a recuar na decisão de reabrir parte das escolas primárias de Londres.

O ministro, Gavin Williamson, queria manter liceus e universidades encerrados nas duas primeiras semanas de Janeiro, assim como as escolas primárias nas zonas mais atingidas pelo vírus em Londres e no Sul de Inglaterra. Mas face aos protestos das autoridades locais da cidade, aceitou que todas as escolas primárias da capital permaneçam encerradas, num total de um milhão de alunos.

Independentemente das exigências dos sindicatos, disse ao Financial Times a epidemiologista clínico Deepti Gurdasani, “é inevitável” manter as escolas fechadas para conter a nova variante.

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