Terminou a contagem: conheça os candidatos na corrida a Belém
Na lista há uma recandidatura (a de Marcelo Rebelo de Sousa) e dois repetentes (Marisa Matias e Vitorino Silva). Os candidatos devem agora dar conta do que pretendem gastar na campanha até segunda-feira.
Está fechada a lista de candidatos à Presidência da República: Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, Marisa Matias, João Ferreira, Tiago Mayan Gonçalves, André Ventura e Vitorino Silva (conhecido como Tino de Rans) apresentaram a sua candidatura na corrida a Belém publicamente (mas pode haver mais dois candidatos). De acordo com a agência Lusa, o Tribunal Constitucional recebeu a documentação de nove cidadãos, mas apenas os dois não estão referenciados (um deles será Eduardo Baptista, que se dirigiu ao tribunal para formalizar a candidatura na quarta-feira). Na lista, há um Presidente em funções que se recandidata e mais dois repetentes.
Só na segunda-feira é que o Palácio Ratton revelará quais os candidatos nos quais os portugueses poderão votar a 24 de Janeiro, naquelas que serão as primeiras eleições nacionais durante a pandemia covid-19 (sendo que os juízes têm até 4 de Janeiro para verificar a admissibilidade das candidaturas, nomeadamente o número de assinaturas).
Inicialmente, apresentaram-se à corrida dez pré-candidatos (o mesmo número que em 2016), mas apenas nove terão conseguido reunir as condições exigidas para formalizar a sua candidatura à Presidência da República. Tiago Mayan Gonçalves, apoiado pela Iniciativa Liberal, foi um dos últimos a entregar as 7500 assinaturas de eleitores exigidas para formalizar a candidatura junto do Tribunal Constitucional, meia hora antes do fim do prazo (que terminou às 16h desta quinta-feira).
A recolha de assinaturas em contexto pandémico foi uma dificuldade assinalada por todos os candidatos e até o actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ficou aquém das assinaturas recolhidas em 2015. Este ano, Marcelo entregou 12.747 assinaturas no Tribunal Constitucional, menos do que as 15 mil de há cinco anos, “mas foi o que foi possível”, resumiu.
Quem são os candidatos a Belém já conhecidos?
Marcelo Rebelo de Sousa
O actual Presidente da República manteve o suspense até ao limite, mas a decisão de se recandidatar à Presidência da República não foi recebida com surpresa. Marcelo assume-se como independente, mas tem o apoio do PSD e do CDS. E o apoio não é só à direita: além de ter sido o primeiro-ministro socialista a dar a Marcelo o primeiro “empurrão” ao segundo mandato presidencial, o PS decidiu optar pela liberdade de voto, apesar de ter uma militante e ex-deputada na corrida a Belém. Com 72 anos, Marcelo Rebelo de Sousa é desde 9 de Março de 2016 Presidente da República. Formado em Direito, é professor catedrático de direito jubilado na Universidade de Lisboa (local onde em 2016 declarou vitória na primeira volta das eleições presidenciais) e antigo presidente do PSD. Marcelo ganhou espaço mediático como comentador político televisivo e quis ser conhecido como “o Presidente dos afectos”. O seu mandato ficou marcado pela tragédia dos incêndios de Pedrógão Grande, que resultou na morte de 66 pessoas.
Ana Gomes
A ex-eurodeputada socialista (de 2004 a 2019) apresentou oficialmente a sua candidatura a 8 de Setembro, sem o apoio do PS (que meses mais tarde decidiria dar liberdade de voto aos militantes). Entretanto, reuniu já o apoio de alguns socialistas e de dois partidos: o Livre e o PAN. Com 66 anos, Ana Gomes tem uma extensa experiência diplomática, tendo servido nas missões junto da ONU em Genebra e Nova Iorque e nas embaixadas em Tóquio e Londres, e acompanhado o processo de independência de Timor-Leste. É licenciada em Direito e os corredores de Belém não lhe são alheios: foi assessora diplomática do ex-Presidente da República Ramalho Eanes.
Marisa Matias
A eurodeputada do Bloco de Esquerda candidatou-se pela primeira vez em 2016, tendo ficado em terceiro lugar, com 10,12% dos votos (o melhor resultado de sempre de um candidato apoiado pelos bloquistas). Foi também a mulher mais votada de sempre numas eleições presidenciais. Com 44 anos, Marisa Matias é formada em Sociologia e afirma-se como “a voz da esquerda” destas eleições. É eurodeputada desde 2009 e membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda e da sua Comissão Política. Foi vice-presidente do Partido da Esquerda Europeia, em 2010 e reeleita em 2013.
João Ferreira
Eurodeputado do PCP desde Junho de 2009, João Ferreira é um dos principais rostos do partido e um dos nomes apontados para a eventual sucessão a Jerónimo de Sousa na liderança dos comunistas. É ainda, simultaneamente, vereador do PCP na Câmara Municipal de Lisboa desde Outubro de 2013. O anterior candidato comunista, Edgar Silva, conquistou apenas 183 mil votos, ficando em quinto lugar na corrida a Belém em 2016. Com 41 anos, João Ferreira é licenciado em Biologia e membro do Comité Central do PCP, da direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP e da Direcção do Sector Intelectual de Lisboa do PCP. Em Bruxelas, é vice-presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL) do Parlamento Europeu.
Tiago Mayan Gonçalves
É o primeiro candidato que a Iniciativa Liberal (IL) apresenta a umas eleições presidenciais. Com 43 anos, o advogado natural do Porto quer ser o candidato “cidadão”. É um dos candidatos com menos experiência política, tendo integrado a a campanha de Rui Moreira à presidência da Câmara do Porto. Quer responder ao fosso ideológico entre a recandidatura do Marcelo Rebelo de Sousa e a candidatura do líder do Chega, André Ventura. Actualmente, Tiago Mayan Gonçalves preside ao conselho de jurisdição da IL. Passou pela ELSA (The European Law Students Association) e pela Refood e é membro suplente da Assembleia da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde pelo movimento “Porto, o Nosso Partido” de Rui Moreira.
André Ventura
Deputado desde 2019 na Assembleia da República, o líder e deputado único do Chega anunciou a sua candidatura ainda em Fevereiro, quatro meses depois de ter sido eleito para o Parlamento. À data, prometeu que não iria suspender o seu mandato de deputado “até que a lei o permita”, mas esta semana pediu a suspensão do seu mandato como deputado à Assembleia da República a partir de dia 1 de Janeiro e até dia 24 — que pode ser prolongada automaticamente até 14 de Fevereiro, caso haja segunda volta nas eleições — para que possa fazer campanha. Ventura é doutorado em Direito Público, ganhou mediatismo em 2017, enquanto ainda era deputado pelo PSD, e como comentador de futebol (foi até assessor do Presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira).
Vitorino Silva
Conhecido como “Tino de Rans”, o presidente do partido RIR (Reagir, Incluir, Reciclar) tem 49 anos. Calceteiro de profissão, Vitorino Silva foi também autarca socialista, tendo liderado em 1993 a freguesia de Rans, e quer ser “a voz do povo”. “Pensam que sou um português de segunda, mas também não quero ser português de domingo. Não quero que haja portugueses de primeira e de segunda”, declarou no momento em que entregou “mais de nove mil assinaturas”. “Deviam arranjar um sistema que as pessoas que querem ser candidatas não tenham de sofrer. É muito duro. Mas quero agradecer aos portugueses: há cinco anos tive mais dificuldades. Há cinco anos, em cada dez, assinavam duas pessoas. Agora, em cada dez, assinaram nove. As pessoas perceberam que a minha luta é séria”, disse o candidato que em 2016 conseguiu 152 mil votos (3,28%), ficando atrás de Edgar Silva, candidato apoiado pelo PCP, que conquistou apenas mais 30 mil votos (3,95% dos votos totais).
Menos candidaturas
Pelo caminho ficaram vários candidatos, ou por não terem conseguido o apoio necessário, ou por se terem desmobilizado. Foi o caso de Orlando Cruz, militante do CDS, que tencionava candidatar-se pela quarta vez. O militante centrista pediu o apoio ao seu partido e ao Aliança, mas não conseguiu nenhum dos dois. Enquanto o conselho nacional do CDS aprovou o apoio à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa (apesar das fortes críticas por parte de antigos e actuais destacados dirigentes como João Almeida, Nuno Melo e Telmo Correia), o partido Aliança, fundado pelo antigo social-democrata Pedro Santana Lopes, decidiu não apoiar nenhum candidato.
Por sua vez, Bruno Fialho, líder do Partido Democrático Republicano (PDR), acabou por desistir da corrida a 12 de Dezembro. O pré-candidato, que ficou também conhecido pelo seu papel de mediador nas negociações entre o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), garantiu que tinha as 7500 assinaturas necessárias recolhidas, mas que o impacto da sua candidatura nos cofres do Estado em contexto de crise económica provocada pela pandemia o fez desistir.
Agora, além das assinaturas, os candidatos devem entregar os seus orçamentos de campanha à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos até a próxima segunda-feira, dia 28. Até à data, já são conhecidos os três orçamentos. João Ferreira é, até agora, o candidato que planeia gastar mais dinheiro: 450 mil euros. A estimativa foi revelada esta tarde de quinta-feira, numa nota oficial do partido. Segue-se o líder do Chega conta gastar 160 mil euros em campanha. Já Ana Gomes pretende gastar 50 mil euros em campanha. Já o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, espera gastar 40 mil euros. O actual Presidente da República orçamentou a sua campanha em 25 mil euros.
Será também na segunda-feira que o presidente do Tribunal Constitucional irá sortear a ordem pela qual as candidaturas surgirão nos boletins de voto, que depois é afixada em edital à porta do tribunal. com Lusa