Covid-19: Venda de bilhetes para espectáculos com quebras superiores a 80% desde Março

Ticket Line e BlueTicket dizem que estes números “dramáticos e preocupantes” podem agravar-se quando se fizer o balanço final deste ano pandémico.

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Nuno Ferreira Santos

Duas das principais plataformas de venda de bilhetes para espectáculos em Portugal registaram quebras superiores a 80 por cento nas suas vendas, devido à pandemia de covid-19, e uma perda de facturação entre 78% e 90%.

“Números dramáticos e preocupantes”, disseram à agência Lusa responsáveis da Ticket Line, a primeira operadora de bilhética a surgir em Portugal, que soma 21 anos de actividade, e da BlueTicket, com uma plataforma de eTicketing que remonta a 2008.

Entre Março deste ano, quando foi declarado o primeiro estado de emergência, em Portugal, e o passado mês de Novembro, a Ticket Line obteve uma receita de bilheteira de 5,312 milhões de euros, o que equivale a uma quebra de 90%, em relação aos 50,690 milhões de euros, obtidos em igual período de 2019.

Quanto ao total de bilhetes vendidos entre Março e Novembro deste ano, atingiram a casa de 643 mil, enquanto no mesmo período do ano passado foram vendidos mais de 3,964 milhões, o que representa uma quebra de 84%.

Incluindo os primeiros dois meses e meio do ano, ainda sem impacto da pandemia, as perdas em relação ao ano passado mantêm uma ordem de grandeza superior a 70%.

De Janeiro a Novembro deste ano, a Ticket Line registou uma receita de bilheteira de 14,975 milhões de euros, contra os 58,958 milhões de euros no mesmo período de 2019, o que representa uma quebra de 71%, segundo os dados disponibilizados.

No mesmo período, a empresa vendeu quase de 1,311 milhões de bilhetes, enquanto na mesma janela temporal de 2019 vendera mais de 4,476 milhões, o que equivale a uma diminuição de 71%.

Por sua vez, a Blue Ticket refere que entre Março e Novembro deste ano, os meses marcados pela pandemia, registou uma quebra de 82% na venda de bilhetes face a igual período de 2019. Nestes meses totalizou 1,092 milhões de bilhetes vendidos, enquanto em 2019 a soma atingira as 5,997 milhões de unidades.

Sem referir montantes de facturação, a Blue Ticket afirma, porém, ter registado uma quebra de 78% entre Março e Novembro deste ano.

Já a Ticket Line, por seu lado, refere que nesse período os seus serviços responderam “a mais 146 mil emails de clientes”, para “trocas e devoluções de milhares de bilhetes”. “Abrimos e cancelámos eventos e trocámos sessões num total de 7500”, garante a empresa.

Os novos fins-de-semana de restrições trouxeram também novos desafios, segundo a operadora, representando “mais de mil eventos sujeitos a alterações, absolutamente personalizadas, consoante o concelho onde se realizavam”.

A Ticket Line alerta ainda para a inevitabilidade de a diferença abissal de números vir a ser “ainda maior” em Dezembro.

Há “muitos espectáculos que não vão acontecer e alguns dos que transitaram para 2021 já estão a ser cancelados e a originar mais devoluções e, por consequência, redução de volume de vendas”, adiantam os responsáveis da operadora.

Além da diminuição de receitas e do total de ingressos vendidos, a empresa mostra-se ainda preocupada com “a queda do preço médio” dos ingressos, “na ordem dos 23%”, o que “desvaloriza cada projecto”, “na maioria, de artistas portugueses”.

Consciente das “dificuldades”, e manifestando que sempre “tem estado ao lado de todos, o que pretende continuar a fazer”, a Ticket Line mostra-se, porém, preocupada por ser uma empresa privada, “que tem a cargo três dezenas de funcionários a quem tem de continuar a garantir postos e condições de trabalho”.

A empresa diz ainda “estar a um passo de atingir as datas-limite para reagendamento de eventos adiados”, devido às medidas de contenção da pandemia do novo coronavírus, mostrando-se “ansiosa” por novas decisões.

“O anúncio do Presidente da República de uma terceira vaga no início de 2021 veio reforçar, ainda mais, as dúvidas e os receios”, afirmam os responsáveis da Ticket Line, alegando que “muitos dos espectáculos adiados foram reagendados para 2021”. “E a eles juntam-se aqueles que foram vendidos com lotação completa para estas datas, e que correm profundos riscos de não poder acontecer”, acrescentam.

“Os nossos artistas não têm agenda para o próximo ano e os artistas internacionais, com quem as entidades promotoras têm salas esgotadas em regime de lotação completa, apresentam agora solicitações de reagendamento para o ano de 2022”, referem os operadores, ao mesmo tempo que questionam “o que fazer?”. “Voltar a adiar? Cancelar?”, perguntam, sublinhando que “a destruição de valor é absurda, e atingiu quebras muito superiores a qualquer outro sector económico”.

A Lusa também contactou a plataforma BOL – Bilheteira Online, “marca, domínio e software” da Etnaga, empresa com “mais de 25 anos de experiência” em tecnologias de informação, mas ainda não obteve resposta.