“As multidões são irracionais, irresponsáveis” – Itália, Países Baixos e Inglaterra fecham para Natal e Ano Novo
Países Baixos anunciam confinamento mais estrito que o primeiro. Itália (que passou a barreira dos 65 mil mortos), várias regiões de Inglaterra e Alemanha apertam regras. Também na Suécia vai haver recomendações mais fortes.
Vários países europeus estão a decidir mais restrições para a época do Natal e do final do ano, depois de medidas anteriores não terem conseguido fazer baixar os casos de infecção pelo coronavírus que provoca a covid-19 e após um aumento de casos que poderão estar ligados a celebrações ou compras de Natal. Estes países vão desde Itália, o primeiro país a sofrer com a pandemia na Europa, à Suécia, que sempre se tem destacado por uma abordagem que já foi chamada como “confinamento suave”, baseada em recomendações.
O primeiro a fazer esta segunda-feira um anúncio de medidas já esperadas foi o ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock: Londres e partes de Essex e Hertfordshire vão passar para o nível 3 de restrições, o mais alto.
Restaurantes e pubs vão estar fechados, funcionando apenas com entregas para fora, e só serão permitidos encontros entre pessoas que não sejam do mesmo agregado a familiar ou “bolha de apoio” (que prestem cuidados a dependentes, por exemplo) ao ar livre e em locais públicos.
São também desaconselhadas viagens de quem esteja em zonas fora deste escalão para as zonas de nível 3, disse Hancock em resposta a uma pergunta sobre quem quisesse ir fazer compras de Natal à londrina Oxford Street. As medidas entram em vigor já na quarta-feira.
Em Haia, o primeiro-ministro Mark Rutte fez uma rara comunicação para anunciar o segundo confinamento dos Países Baixos: pelo menos durante cinco semanas vão fechar todas as escolas e lojas não essenciais.
Isto quer dizer que o segundo confinamento é ainda mais estrito do que o primeiro, em que as escolas permaneceram abertas.
Os encontros, mesmo que seja em casa, não podem incluir mais de duas pessoas fora do agregado. Apenas há uma excepção no Natal, em que cada casa pode receber três adultos.
O número de infecções nos Países Baixos tinha baixado depois do encerramento de bares e restaurantes em meados de Outubro. Mas começou a subir de novo, especialmente nos últimos dias, quando houve enormes aumentos (8.500 novos casos no domingo, dez mil na véspera), que se pensa estarem relacionados com a celebração do Sinterklaas (São Nicolau), quando tradicionalmente se trocam presentes.
“Quanto menos contactos tivermos, melhor”, disse Rutte. “Temos de fazer todos os possíveis para chegar a uma situação melhor. E sim, vai ficar melhor.”
Fora, havia manifestações contra o confinamento.
Em Itália, as autoridades estavam a assustar-se não só com os números mas também com a dimensão de ajuntamentos nas ruas de várias cidades para as compras de Natal. E deparavam-se com números assustadores. O país ficou no domingo no lugar do Reino Unido como o de maior número de mortes de covid-19 na Europa, e esta segunda-feira ultrapassou o total de mais de 65 mil mortos.
Enquanto isso, no fim-de-semana, muitas pessoas foram fazer compras de Natal. O que levou o ministro para as questões regionais, Francesco Boccia, a queixar-se ao diário La Repubblica: “As multidões são injustificáveis, irracionais, irresponsáveis.”
Por tudo isto, aguardava-se a qualquer momento o anúncio de que todo o país seria colocado na “zona vermelha” e em confinamento desde a véspera de Natal até 2 de Janeiro para evitar um previsto aumento de infecções durante os festejos. Antes o Governo já tinha anunciado algumas restrições, como o não haver missa do galo, mas as novas irão ainda mais além.
“Esperamos ter muito em breve novas medidas para impedir uma terceira vaga”, disse o ministro da Saúde, Roberto Speranza, à emissora pública RAI. Ainda estava a decorrer uma reunião entre peritos que aconselham o Governo, explicou.
Assim como em Itália e nos Países Baixos, na Alemanha o confinamento suave não resultou, e a chanceler, Angela Merkel, também referiu as compras de Natal como um factor para o aumento de contactos e de transmissão quando anunciou, no domingo, o novo confinamento. Este entra em vigor esta quarta-feira e mantém-se, em princípio, até 10 de Janeiro.
Vão fechar todas as lojas não essenciais, escolas, creches (os pais podem tirar férias pagas), e no final do ano não se poderá lançar foguetes e fogo de artifício – é uma tradição antiga embora cada vez mais contestada pela poluição e perigo (hospitais de grandes cidades a reforçam os serviços de cirurgia oftalmológica para os feridos do que podem ser autênticas batalhas campais em certas zonas).
Nos dias 24 a 26 de Dezembro há uma pequena flexibilização da regra que impede encontros de mais de cinco pessoas de dois agregados familiares diferentes para os dias entre 24 e 26 de Dezembro, uma regra que não inclui menores de 14 anos, para que possa haver pequenas reuniões familiares. Mas serão sempre pequenas: apenas de mais quatro pessoas fora do próprio domicílio, desde que sejam, também, familiares próximos.
Enquanto isso, o país-excepção da Europa, a Suécia, onde a estratégia tem disso de fazer recomendações e impor muito poucas restrições, o primeiro-ministro, Stefan Lövfen, anunciou as recomendações para o Natal e fim de ano: o contacto com pessoas que não pertençam ao mesmo agregado deve ser limitado a pessoas que pertençam a uma “bolha social” (pessoas que têm contacto próximo regular) e nunca com mais um total de oito pessoas.
Os encontros devem realizar-se, sempre que possível, ao ar livre, disse Lövfen. Deve ser evitado o uso de transportes públicos, assim como idas às compras.
As recomendações são feitas quando o aumento de números de infecções e doentes está a pôr o sistema de saúde sob pressão, de modo a que “o limite a partir do qual doentes recebem cuidados intensivos foi agora aumentado”, segundo o jornal Aftonbladet. Os efeitos sentem-se também no adiamento de cirurgias, com 75% das cirurgias pediátricas programadas a ter de ser canceladas.
Depois de relatos de que a Suécia poderia estar prestes a pedir ajuda aos vizinhos para os doentes em cuidados intensivos, a Finlândia e a Noruega garantiram que dariam apoio se o Governo sueco fizesse um pedido.