Acordo de Paris: não celebramos cinco anos de inacção

Estamos a viver num mundo 1,2ºC mais quente. Ouvimos muitas vezes que a nossa casa está a arder. Mas as casas das pessoas nas frentes da crise climática já estão a arder há décadas - e estes fogos continuam a ser alimentados pelos nossos supostos líderes.

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LUSA/STEPHANIE LECOCQ

Este sábado, 12 de Dezembro, o Acordo de Paris faz cinco anos. Neste dia, em 2015, líderes mundiais fizeram um compromisso para com o mundo, para com aqueles nas linhas da frente e para com as futuras gerações: enfrentar a emergência climática e limitar o aumento da temperatura global em menos de dois graus.

Neste momento, estamos a viver num mundo 1,2ºC mais quente. Ouvimos muitas vezes que a nossa casa está a arder. Mas as casas das pessoas nas frentes da crise climática já estão a arder há décadas - e estes fogos continuam a ser alimentados pelos nossos supostos líderes.

Em crise climática de 1,2ºC, o mundo arde, inunda, derrete, espécies estão em extinção, pessoas estão a afogar-se e a morrer de sede. 

Num vídeo do Fridays For Future, ouvimos relatos em primeira mão acerca do caos climático em que já nos encontramos. Nas Filipinas, Mitzi Jonelle Tan teme afogar-se no seu próprio quarto - muitas vezes acorda num quarto inundado e sem electricidade. Com os recentes tufões, pessoas ficaram presas em telhados, com as inundações a chegar aos 12 metros de altura. Destes recentes tufões, um foi o maior do mundo em 2020 e o outro causou mais do que a quantidade mensal de chuva em apenas um dia. Adri Maffioletti, do Brasil, denuncia que a juventude indígena não é ouvida: lutam todos os dias pelos seus territórios e pelo seu futuro, sendo extremamente afectados pela crise que enfrentamos. Na Rússia, Arshak Makichyan e outros activistas viram negado ilegalmente o direito de protestar pela 10.ª semana consecutiva.

Exigimos mudança e responsabilização. Não celebramos cinco anos de inacção, de falsas promessas e de vazios políticos. É inútil pedir aos nossos líderes para honrar o compromisso que fizeram em Paris - que se revela, em si, insuficiente. 

Ouvimos a ciência. E a ciência é clara acerca das consequências de o aquecimento global ultrapassar os dois graus: seria destruir as condições materiais que permitiram a civilização humana, fechando os olhos ao agravamento da injustiça social climática que atinge sobretudo quem mais obstáculos enfrenta. Qualquer medida para limitar o aumento da temperatura global, se não for em menos de 1,5ºC, não serve. Estamos mais e mais perto de pontos de não-retorno desastrosos e irreversíveis. Os 1,5 não são negociáveis.

Mudança sistémica é uma necessidade. O sistema fóssil e extractivista em que vivemos não está estragado, foi construído para ser injusto. É urgente uma transição justa. É urgente uma economia que tenha a vida no centro, ao invés do lucro.

Hoje, não celebramos. Tomamos acção. Na ausência de liderança, fazemos nós um compromisso. Fazemos um compromisso uns para com os outros e para com o planeta - comprometemo-nos a sair às ruas, a gritar, a protestar, a construir campanhas e conexões, a exigir mais e a evoluir para movimentos mais fortes. Depende de nós, das pessoas, de todo o mundo, de todas as gerações, organizar, mobilizar e trazer a mudança que queremos ver no mundo e, com o Acordo de Glasgow, já temos um plano de acção próprio, elaborado pelo Movimento por Justiça Climática.

Esta sexta-feira, 11 de Dezembro, por todo o mundo, o Fridays For Future tem acções inseridas na campanha #FightFor1point5, que lançou o compromisso que pode ser lido e assinado em aqui.

Em Lisboa, o Terreiro do Paço enche-se de luzes e música. Vamos fazer a nossa própria história.

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