Trabalhadores protestam contra plano de reestruturação da TAP
O plano vai ser entregue na quinta-feira em Bruxelas e está, entretanto, a ser apresentando aos partidos.
Dezenas de trabalhadores da TAP concentraram-se nesta quarta-feira junto às instalações da companhia, em Lisboa, para mostrar o seu descontentamento com um plano de reestruturação que “faz cortes cegos" e alertar que a empresa não conseguirá aproveitar a retoma.
Ao som de palavras de ordem como “Somos TAP, somos Portugal”, “Queremos trabalhar” ou “O que é que nós queremos? Transparência”, os manifestantes exigem respostas, acentuando que por trás do número de despedimentos apontado no plano de reestruturação, estão trabalhadores.
Esta concentração foi promovida pelo movimento “os números da TAP têm um rosto”, que se assume apartidária e sem ligação aos sindicatos que representam os trabalhadores da companhia aérea e segue-se à que na semana passada foi realizada em frente à Assembleia da República.
O plano de restruturação da TAP vai ser entregue na quinta-feira em Bruxelas, sendo que entre hoje e quinta-feira o Governo reúne-se à porta fechada com os vários partidos com assento parlamentar para dar conta do conteúdo do documento.
A entrega do plano nesta quinta-feira acontece, assim, no último dia do prazo para tal.
Esta concentração teve lugar depois de uma reunião online da administração da TAP com os trabalhadores e visa, como sublinhou Elsa Fragata, mostrar que os “números de despedimentos [que constam do plano] têm rosto”.
“E esse rosto somos nós os trabalhadores da companhia”, declarou.
Considerando que o plano “faz um corte cego” à TAP, Elsa Fragata referiu que com este protesto, os trabalhadores - que optaram por se manifestar em conjunto e sem indicação do tipo de função que têm na empresa - querem também salientar a sua preocupação com o facto de a TAP ficar sem condições para dar resposta à retoma apontada para o sector da aviação.
Questionada sobre se vê como uma forma de desresponsabilização a intenção do Governo em levar o plano a votação no parlamento, Elsa Fragata considerou que o plano entrou no “jogo político”, mas referiu que mais relevante era “partilhar o discurso” do ministro de Economia e das Finanças francês que, numa recente passagem por Portugal, “disse que o apoio à Air France é uma questão de soberania”.
"A importância da TAP para o nosso país devia ser vista da mesma maneira", assinalou a trabalhadora.
Bruno Almeida, outro dos manifestantes, considerou, por seu lado, que o documento que esta quinta-feira o Governo entrega em Bruxelas vai ainda ser alvo de negociação durante as próximas semanas, pelo que é necessário “sensibilizar o Governo para que, junto da Comissão Europeia, tente mitigar e minimizar a violência deste plano para a TAP”.
O trabalhador disse ainda que “o mais importante a reter” da reunião de hoje da administração com os trabalhadores foi de que “as negociações não estão fechadas”.
A apresentação do plano de reestruturação da TAP à Comissão Europeia até quinta-feira é uma exigência de Bruxelas, pela concessão de um empréstimo do Estado de até 1.200 milhões de euros, para fazer face às dificuldades da companhia, decorrentes do impacto da pandemia de covid-19 no sector da aviação.
O plano prevê o despedimento de 500 pilotos, 750 tripulantes de cabine e 750 trabalhadores de terra, a redução de 25% da massa salarial do grupo e do número de aviões que compõem a frota da companhia, divulgaram os sindicatos que os representam.
O Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil (SPAC) e o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) apelaram ao Governo que negoceie com Bruxelas o adiamento da apresentação do plano de reestruturação da TAP, denunciando que este está baseado em previsões de mercado “completamente desatualizadas”.
O grupo parlamentar do PSD informou segunda-feira que foi informado pelo Governo da intenção do executivo de levar o plano de reestruturação da TAP a debate na Assembleia da República.