Portas diz que Costa preferiu “ser simpático a ser cauteloso” em relação ao Natal
Antigo líder do CDS-PP acusou o primeiro-ministro de ter um raciocínio “político” e não “técnico” para não implementar restrições à circulação entre concelhos no Natal, nem indicar um número limite de pessoas nos convívios da época festiva. E advertiu para o risco de uma “factura grave em Janeiro”.
O antigo vice-primeiro-ministro Paulo Portas afirmou, este domingo, que António Costa preferiu “ser simpático a ser cauteloso” ao aliviar a restrição de deslocações no período do Natal e ao não indicar um número de referência para as reuniões familiares.
No sábado, o primeiro-ministro anunciou que a circulação entre concelhos só será proibida entre 31 de Dezembro e 4 de Janeiro, e não no Natal, e que os restaurantes podem servir ceias de Natal e Ano Novo até à 1 hora da manhã e almoços até às 15h30. E não indicou qualquer limite ao número de pessoas que podem reunir-se em casa para os almoços e jantares de Natal.
“Pode ser que o primeiro-ministro, quando pensou no que fazer em relação ao Natal e ao fim do ano, tenha, num certo sentido, preferido ser simpático a ser cauteloso”, afirmou Portas no habitual espaço de comentário na TVI, considerando que o Governo seguiu “um racional político muito mais do que técnico” na tomada da decisão.
“Vamos ter um mês de Dezembro com quatro feriados, quatro pontes, quatro tolerâncias de ponto. Vamos ter menos testes, menos testes significa ter menos contágios, números mais bonitos – graças a Deus, se corresponder à realidade – e depois em Janeiro já temos a vacina. Nada disto é exactamente assim, embora isto seja um racional político muito mais do que técnico”, disse o antigo líder do CDS-PP.
“Ele tinha muito mais opções do que aquelas que enunciou. A ideia de que se pode circular livremente, incluindo em zonas de alto risco, é simpático, é porventura o que as pessoas querem ouvir, mas as pessoas também sabem que há um risco de isso não corresponder ao bem comum. Se as pessoas não tiverem um comportamento responsável, nós pagaremos uma factura grave em Janeiro”, advertiu.
Portas considerou ainda “inexplicável que o primeiro-ministro não tenha tido um número de referência para as chamadas reuniões familiares de Natal”.
“Todos os governos praticamente da Europa o estão a fazer”, contrapôs, referindo, entre outros, os casos da Alemanha, que impõe um limite de 10 pessoas, e de Espanha, que indicou um limite de seis pessoas. “A norma na Europa é dar um referencial do número de pessoas. Ninguém está à espera que isso vai ser verificado coercivamente, mas é uma indicação para às pessoas”, disse.
Citando dados apresentados pelo professor Henrique Barros na reunião do Infarmed de 19 de Novembro, Portas indicou que o risco de transmissão da covid-19 é “gerível” numa reunião de até quatro pessoas. “Tenhamos a noção de que ter demasiado gente junta na Consoada, ou no almoço de dia 25, ou no dia 31, ou no dia 1, é um risco”, advertiu, afirmando que “a sociedade portuguesa tem de ser um pouco mais responsável do que as autoridades de saúde”.