Chef Ljubomir acusado de dar álcool a polícia para furar confinamento
Cozinheiro está acusado pelo DCIAP de corrupção activa, crime cuja moldura penal vai até aos cinco anos de cadeia. Foi apanhado em escutas num processo de tráfico de droga com o qual nada tem a ver.
Data do dia em que iniciou uma semana de greve de fome, 27 de Novembro passado, a acusação por corrupção activa do Ministério Público contra o chef Ljubomir Stanisic. Segundo o Departamento Central de Investigação e Acção Penal, o cozinheiro que tem liderado os protestos dos donos dos restaurantes por causa dos prejuízos motivados pela pandemia violou, em Abril passado, as regras do confinamento graças à ajuda de um polícia a quem ofereceu duas garrafas de vinho e uma terceira de conhaque ou rum.
Também terá pedido o mesmo tipo de favor para um amigo, mas as autoridades ignoram se o artista terá também beneficiado do mesmo tipo de prerrogativas. O crime de corrupção activa é punível com até cinco anos de cadeia, sendo que a infracção às normas do confinamento durante o estado de emergência decretado pelo Presidente da República valeram ainda ao cozinheiro ter sido acusado por outro delito, o de desobediência. Contactado pelo PÚBLICO, Ljubomir Stanisic escusou-se a explicar o que se passou, alegando estar ainda debilitado com os efeitos da greve de fome que fez juntamente com outros representantes de restaurantes e bares, em tendas montadas defronte da Assembleia da República. Adiantou, mesmo assim, que não se sente culpado de coisa nenhuma e que o agente da PSP em causa não é seu amigo.
O chef mora em Lisboa mas queria ir passar a Páscoa com a família à zona de Grândola, onde tem também casa. Temendo ser apanhado pelas autoridades num fim-de-semana em que devia ficar em casa devido ao confinamento, recorreu ao irmão de um amigo seu, o polícia Nuno Marino, para atravessar a ponte 25 de Abril, local onde costumam ser montadas operações stop nestas ocasiões, descreve o despacho de acusação. A 3 de Abril passado atravessou a ponte no seu carro, enquanto o agente da PSP seguia à sua frente noutro veículo, para abrir caminho. Mas afinal nem tinha sido preciso: não havia operação policial nenhuma montada no local.
Em troca da ajuda, ofereceu uma gratificação a Nuno Marino: duas garrafas de vinho e uma de rum ou conhaque. “Aquilo é, mano é tão bom, não dá ressaca no dia seguinte”, gabava Ljubomir Stanisic ao telefone. O que não podia adivinhar é que o seu interlocutor estava sob escuta por ser suspeito de tráfico de estupefacientes, num processo que nada tinha a ver consigo.
Dias depois foi apanhado outra vez a pedir-lhe outro favor do mesmo género, mas desta vez para um dos seus melhores amigos, que queria que fosse ter com ele ao monte no Alentejo. Também lhe terá solicitado que acedesse à base de dados da PSP para descobrir a identidade dos titulares de determinados números de telefone: “Verifica-me isso (...) são os números de telefone dum amigo meu, só para tar a ver se está activo ou não”. O outro disse-lhe que o iria fazer.