O teletrabalho não foi um problema para a geração Z — mas o futuro é, diz estudo
Estudo diz que a maioria da geração Z e dos millennials deixaram de considerar a proximidade com o local de trabalho relevante. Ao contrário, os baby boomers passaram a valorizá-la mais. O maior receio é o do futuro: a incerteza poderá significar menos vontade de arriscar a nível profissional.
“De entre as quatro gerações que actualmente coexistem no mercado de trabalho — baby boomers, geração X, millennials e geração Z — são os primeiros que se mostram mais impactados pelos desafios impostos pela pandemia”, conclui um estudo da consultora EY, divulgado esta quinta-feira, 3 de Dezembro. Entre outros factores de mudança provocados pela pandemia, os trabalhadores seniores, com uma média de idades de 60 anos, são os passaram a dar mais importância ao local de trabalho, por exemplo.
O estudo Motivação de Geração em Geração arrancou no início de 2020, com um questionário a 1300 trabalhadores, com o propósito de perceber quais os factores que mais impactam a motivação de cada faixa etária no mercado laboral e voltou depois a ser realizado, em Maio, um novo inquérito para aferir sobre os efeitos da pandemia de covid-19. Em estudo estão quatro gerações de trabalhadores, divididas em baby boomers (nascidos entre 1946 e 1960), geração X (entre 1961 e 1979), millennials (entre 1980 e 1995) e geração Z (nascidos a partir 1996).
Segundo o documento, “são os trabalhadores baby boomers, com uma média de idade de 60 anos, quem mais sente os efeitos do actual contexto”. “O impacto é mais expressivo na importância que atribuem hoje ao espaço físico de trabalho: se, antes, era a geração que menos importância atribuía ao local de trabalho, é agora aquela que mais o privilegia”, continua o estudo.
As gerações mais novas foram as que melhor lidaram com o teletrabalho. “Antes da pandemia, mais de metade dos participantes millennials (nascidos entre 1980 e 1995) e da geração Z (nascidos a partir 1996) consideravam esta proximidade [com o local de trabalho] relevante; agora, apenas um terço”, lê-se no documento. Todas as gerações auscultadas atribuem agora maior importância à inovação tecnológica da empresa para a qual trabalham.
O documento indica ainda que os baby boomers “passaram a colocar mais peso em temas como o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, priorizando a necessidade de serem informados sobre a estratégia da empresa” bem como a “valorizar mais a autonomia na função desempenhada”. De acordo com o estudo, a obrigatoriedade do teletrabalho “veio também trazer maior dinâmica à forma como as gerações valorizam a proximidade entre o local de trabalho e o local de residência”.
Por outro lado, antes da pandemia, eram as gerações mais jovens quem mais ponderava sair da empresa no próximo ano, enquanto que actualmente “são os baby boomers quem mais equaciona essa possibilidade”, diz o estudo. “O clima de incerteza sobre o futuro da economia e do mercado de trabalho originou um recuo das gerações mais jovens, em particular da geração Z, que é, agora, aquela que menos poderá abraçar um novo desafio profissional nos tempos mais próximos”, aponta Anabela Silva, responsável pela área de People Advisory Services da EY.
A primeira fase do estudo (antes da pandemia) concluiu que, apesar das diferenças, as quatro gerações “estão alinhadas em reconhecer a relevância positiva que o bom ambiente de trabalho, a boa relação com as chefias e a colaboração entre colegas tem para a sua motivação”. As conclusões mostram também que, independentemente da geração, “pessoas com filhos valorizam a autonomia, enquanto quem não tem filhos privilegia a oportunidade de crescimento”. “Curiosamente, são as gerações seniores aquelas que mais dão valor à inovação tecnológica nas empresas” e, ao contrário do esperado, “não são as gerações mais jovens que valorizam o papel social e ambiental das empresas, mas sim as mais experientes”, conclui ainda o estudo.