São Pedro de Rio Seco, o princípio de Eduardo Lourenço
Portugal não estava “à vista” na aldeia beirã onde um dos ensaístas que melhor pensou a identidade nacional nasceu em 1923. Quase um século depois, continua a não estar. Desertificado, reduzido a 181 habitantes, um terço dos quais acima dos 65 anos, permanece um lugar “pouco visto e pouco sabido dos olhos do mundo”.
Fim de Outono na aldeia e nem um som, por enquanto. Um burro pasta, preso a uma corda longa que lhe dá a ilusão de liberdade. Está perto dos cruzeiros de pedra. Em contraluz, são três cruzes negras desenhadas num céu a anunciar chuva. Nas hortas à volta, as couves portuguesas têm o tamanho de arbustos; no caule grosso, as marcas das folhas que se vão retirando desde a parte de baixo, para o caldo verde, para a sopa, fixam-nas cada vez mais à terra, contra os ventos. Não há ninguém, e o cinzento da pedra torna o frio ainda mais áspero.
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