PCP. Um congresso em tempos de pandemia: “O país não pára nem pode parar”
Com máscara dentro e fora do pavilhão, os delegados do PCP tentaram evitar ajuntamentos
Dispensadores de gel desinfectante nas entradas, percursos assinalados no chão, medição da temperatura, distanciamento e uso generalizado de máscaras: a organização do XXI do congresso do PCP esforçou-se para passar uma imagem de segurança sanitária.
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A mais de uma hora antes do início dos trabalhos já os delegados chegavam às zonas de estacionamento junto ao Pavilhão Paz e Amizade, em Loures. Vieram de carro (uns com a lotação completa, outros só com dois ocupantes) a conta-gotas e, por isso, não se formaram ajuntamentos perto dos pontos de café, localizados em lados opostos no exterior do pavilhão.
À entrada (eram duas, divididas consoante as zonas de origem no país) do edifício havia dispensadores de gel desinfectante. E quem os estava a receber tinha uma banquinha com um separador de acrílico. Havia a preocupação de não deixar juntar muitos delegados à porta e lá dentro (como cá fora no passeio) foram afixadas setas no chão com indicações sobre o sentido de circulação.
Conscientes da polémica em torno da realização de um congresso num concelho com risco de infecção “muito elevado”, os delegados pareciam ter a resposta na ponta da língua sobre a mensagem que a reunião deve transmitir. “Nem rebeldia nem arrogância mas mesmo em tempos de pandemia temos de falar em liberdade”, justificou Helena Moura, militante do PCP “desde a juventude” e presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas.
No átrio exterior (coberto com uma gigante tenda em plástico), Helena Moura bebia um café num copo descartável e olhava para os seus pares que conversavam em grupo ou aproveitavam para fumar. “O que vê aqui é vida”, diz, citando depois o secretário-geral do partido: “Como diz o nosso camarada Jerónimo, isto não é tempo de morrer, é tempo de viver”.
Porque o “país não pára nem pode parar”, Rosa Guimarães diz ver o congresso do PCP como “uma mensagem de esperança, que não desiste de lutar pelos trabalhadores e contra as desigualdades”. Esta professora, com 51 anos e militante do partido desde meados dos anos 1990, veio de Guimarães e pernoita em casa de amigos – “é mais seguro” - tal como fazem muitos delegados.
À hora de almoço, Rosa Guimarães percorria o caminho indicado para almoçar num pavilhão municipal junto a uma escola e próximo do espaço onde decorria o congresso. Essa foi outra das preocupações da organização: criar dois pontos de serviços de refeição distantes entre si e horários diferenciados para os 600 delegados.
Para Jorge Borlinhas, faz sentido realizar o congresso “numa altura em que o povo está com dificuldades” e quando é preciso “encontrar novas formas de luta”. Este militante, 41 anos, de Avis, considera que a polémica em torno da reunião “foi como todas as outras obra do grande capital”, mas sublinha que os delegados são “metade” do habitual e que não há convidados.
Adiar o congresso para outra data por causa da pandemia não parece ser uma opção. “Não sabemos daqui a dois meses a situação em que estamos”, refere Francisco Jesus, presidente da Câmara de Sesimbra, à chegada para o primeiro de três dias de reunião. Ainda antes de entrar no pavilhão, o autarca faz questão de sublinhar o cumprimento das regras sanitárias: “Podem comprovar que é mais seguro do que estar num restaurante”.
Não foi aos restaurantes locais que a organização recorreu para servir refeições aos delegados. Foi antes improvisado um espaço no exterior com mesas revestidas a plástico e distanciadas para quem preferisse tomar refeições ligeiras. Na banca das senhas de pré-pagamento, Sara Canavezes explica que a ideia foi evitar aglomerações e que a organização foi toda interna do partido: “É tudo prata da casa”.