Só dois em cada dez portugueses consideram fácil o acesso a cuidados de saúde no SNS
Excluindo a covid-19, cancro é a doença que mais preocupa os portugueses. Tempos de espera são o maior obstáculo no acesso aos cuidados de saúde para o tratamento da doença.
Apenas 22% dos portugueses consideraram que o acesso aos cuidados de saúde, no geral, em centros de saúde é fácil e 23% tiveram a mesma opinião em relação aos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Esta é uma das conclusões do estudo “Cancro: O que pensam os Portugueses”, que é apresentado esta quarta-feira e que mostra que, sem contar com a covid-19, é o cancro a doença que mais preocupa as pessoas. Mais de metade dos inquiridos consideraram que é preciso mais investimento nesta área e que os tempos de espera são o maior obstáculo no acesso aos cuidados de saúde para o tratamento de cancro.
O estudo, realizado pela Gfk Metris e apresentado pela APIFARMA – Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, recolheu informação de 1001 entrevistas feitas por telefone entre 27 de Outubro e 11 de Novembro. Responderam ao inquérito pessoas com 18 ou mais anos e os dados foram ponderados para o universo da população em estudo, 8.251.000 indivíduos. O objectivo foi perceber a importância que os portugueses dão à doença oncológica e qual a percepção que têm da resposta que o sistema de saúde dá.
Quanto à facilidade de acesso a cuidados de saúde no geral no SNS, a nota não é muito positiva, com 32% a considerarem que o acesso a cuidados nos centros de saúde é difícil e 24% a dizerem o mesmo em relação aos hospitais. Assim como também não foi positiva a avaliação que fizeram sobre a prioridade que consideram que o Governo dá à saúde: apenas 33% dos inquiridos consideraram ser uma prioridade.
Se, para 97% das pessoas, a saúde é muito importante, quando se fala das doenças que mais preocupam – excluindo a covid-19 –, é o cancro que está no topo da lista (75%). Os principais motivos são a elevada taxa de mortalidade e terem ou já terem tido casos na família. Quando novamente questionados sobre se consideram que a doença oncológica é uma prioridade do Governo em relação a outras doenças, quatro em cada dez consideraram que sim. No caso dos doentes oncológicos a percentagem aumentou, com 56% a considerá-lo.
Quanto aos obstáculos no acesso a cuidados de saúde para o tratamento do cancro, 44% consideraram que o principal é o tempo de espera. Seguiram-se a dificuldade em fazer um diagnóstico rápido/precoce (15%) e a distância/deslocações para fazer o tratamento. Questionados sobre se a disponibilidade e qualidade dos serviços de saúde que um doente com cancro recebe é igual de hospital para hospital, ou varia muito dependendo do hospital a que recorrem, 30% dos portugueses consideraram que “há grandes diferenças com elevado impacto” e 29% referiram que “há algumas diferenças com algum impacto”.
Financiamento insuficientes
O estudo faz também uma comparação entre público e privado, sendo que cerca de seis em cada dez portugueses consideraram ser mais fácil, para um doente oncológico, aceder a cuidados de saúde no privado. Apontaram como uma das principais diferenças a maior rapidez no atendimento.
Relativamente à qualidade global do serviço prestado em caso de cancro, a diferença entre público e privado é mínima: 37% avaliaram o público com boa qualidade e 40% fizeram o mesmo em relação ao privado. Mas quando se trata de doentes oncológicos a diferença é maior: 65% avaliaram o público com boa qualidade e 28% a deram essa classificação ao privado.
No que respeita ao investimento na área oncológica, 11% classificaram-no como justo enquanto 68% dos inquiridos consideraram que é insuficiente. Para os portugueses é preciso haver modernização das instalações, mais acesso aos tratamentos mais modernos, maior quantidade de profissionais de saúde, mais acesso a cuidados paliativos, uma redução dos tempos de espera e mais apoios financeiros a doentes com cancro e aos seus cuidadores. Quanto a estes últimos, o desgaste psicológico foi a principal dificuldade apontada. E a quase totalidade (98%) disse não ter recebido nenhum apoio da segurança social.