Covid-19: pandemia obriga a uma redução acentuada do pessoal e das actividades dos museus em todo o mundo
Conselho Internacional dos Museus volta a expor, em números, o impacto da covid-19 em centenas de museus espalhados pelo mundo. Novo relatório foi divulgado esta segunda-feira.
Os museus não fugiram, como não poderiam fugir, aos efeitos dramáticos da pandemia. Depois de um primeiro relatório em Maio, que dava conta de que cerca de 95% dos museus que responderam ao inquérito se encontravam fechados, o Conselho Internacional de Museus (ICOM), o braço da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura) para o sector, vem agora divulgar os resultados de uma nova análise ao impacto da covid-19 nestas instituições que fazem parte da espinha dorsal do meio cultural de qualquer país.
O novo documento mostra que, tendo de lidar com uma perda substancial dos seus recursos financeiros, os museus se viram obrigados a reduzir as suas actividades e a dispensar funcionários.
Dos 900 museus e funcionários de cinco continentes que entre 7 de Setembro e 18 de Outubro responderam a este segundo inquérito do ICOM — que ainda não reflecte, note-se, o impacto dos novos encerramentos e dos horários reduzidos ditados pela segunda vaga da própria pandemia — 16% declararam ter despedido, pelo menos, um quarto do pessoal entre Fevereiro e Setembro de 2020.
Os trabalhadores permanentes são alvo de dispensa em 30,9% dos museus, número que sobe para 46,1% quando os visados são os colaboradores temporários.
Estes valores são particularmente graves para 10,6% das instituições, em que os trabalhadores dispensados representam mais de metade do efectivo, sendo a América do Norte a campeã dos despedimentos, com mais do dobro dos executados na Europa, um factor a que não deverá ser alheia, estimamos, a disparidade das leis laborais. Enquanto nos Estados Unidos 52% dos museus garantem que vão despedir funcionários, na Europa esse valor desce para 25,2%.
Entre os trabalhadores independentes que responderam ao inquérito, 10,7% dizem ter sido dispensados e 16% não viram os seus contratos renovados. Não é, por isso, inusitado que 27,5% estejam a planear uma mudança radical de carreira.
Financiamento público e privado
De acordo com este estudo, o modelo de gestão de museus que melhor tem vindo a resistir à crise provocada pela covid-19 é o que tem como principal financiador o Estado — 68,5% dos museus inquiridos estão nesta situação, ao passo que 33,8% confiam essencialmente em receitas próprias, que caíram a pique com a brutal quebra no número de visitantes.
Os museus norte-americanos, cujo modelo assenta no sector privado e na sua capacidade de o cativar, estão, por isso, entre os mais afectados.
Os museus públicos, garante o ICOM, reduziram menos o seu plano de actividades e dispensaram menos pessoas mas, ainda assim, a situação é preocupante. No plano geral, a redução do número de exposições ronda os 62% e a de outros programas é de 67,4%.
Naturalmente, as expectativas quanto à quebra de receitas são tudo menos animadoras: 49,6% dos inquiridos pensam que o seu museu perderá, no mínimo, um quarto quando comparados os números de 2020 com os de 2019 e 32% estimam uma redução de mais de metade.
Uma vez mais, conclui o ICOM, é urgente que os decisores políticos libertem fundos para apoiar os museus e os seus funcionários, “para que eles consigam sobreviver à crise e dar continuidade à sua missão vital de serviço público”.
Reconhecendo que a recuperação desta crise será demorada e complexa, este órgão de representação da comunidade internacional de museus lembra: “Os museus, como protagonistas-chave do desenvolvimento e como lugares incomparáveis onde as pessoas se podem encontrar e aprender, terão um papel importante na reconstrução das economias locais e na reparação do tecido social.”
Para Luís Raposo, arqueólogo e presidente do ICOM-Europa, o que este novo estudo vem mostrar é que “aumentou muito o grau de preocupação em relação ao futuro dos museus”. Teme-se, explica, que a capacidade de contratação dos funcionários necessários diminua, sobretudo nos museus privados e associativos, mas também nos públicos, “que em Portugal não têm, sequer, quadros de pessoal próprios”. Com menos pessoas, o trabalho de salvaguarda, estudo e divulgação das colecções não poderá ser, naturalmente, o mesmo.
A quebra nos planos de actividades — exposições e programas educativos, essenciais à formação de novos públicos — é outra das preocupações.
O PÚBLICO não conseguiu apurar que museus em Portugal terão respondido ao inquérito.