Secretário de Estado da Saúde não se compromete com prazos para identificar origem do surto de legionella

António Lacerda Sales, em visita à região do Porto, disse que investigação ao surto ainda está “numa fase inicial”, admitindo que é preciso “acelerar” o processo. Número de mortos subiu para sete.

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Anna Costa

O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, não arrisca apontar uma data em que se saiba qual a origem do surto de legionella no Norte do país, que já provocou sete mortes. Em declarações aos jornalistas, na manhã desta quarta-feira, o governante precisou que a investigação ao caso está “numa fase inicial” e afirmou, quando questionado sobre uma data para se obter um resultado: “Não me consigo comprometer com o tempo.” A sétima vítima mortal, conhecida esta quarta-feira, é um homem de 74 anos, que estava internado na Unidade de Saúde Local de Matosinhos (Hospital de Pedro Hispano). 

Lacerda Sales falava no âmbito de uma visita à região do Porto, relacionada com o acompanhamento da situação da covid-19. Questionado sobre a doença do legionário que desde o final de Outubro foi identificada em, pelo menos, 64 pessoas, o secretário de Estado adiantou que o surto centrado nos concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim já afectou 53 pessoas.

Contudo, os dados dos hospitais apontam para um número mais elevado do que este, já que, até ao dia de ontem, já tinham sido diagnosticados 36 casos no Pedro Hispano e 25 no Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim e Vila do Conde (CHPVVC). Se somarmos a estes números os seis internados no Centro Hospitalar de S. João (e mesmo não contando com a possibilidade de terem sido feitos outros diagnóstico nesta unidade de saúde), no Porto, o total obtido é já de 67 casos.

As análises para tentar encontrar a origem da bactéria Legionella pneumophila, causadora da doença, ainda estão a ser feitas, disse. “Estamos a recolher análises de água das torres de refrigeração de vários espaços, não só fábricas, e também das águas de consumo e das secreções de diferentes doentes, para verificarmos se as estirpes são as mesmas ou não”.

Este trabalho é acompanhado de processos de tratamento dos espaços avaliados, acrescentou, salientando que tão importante como conhecer a origem do surto é “identificar e tratar os doentes”. E questionado sobre o número de mortes, que subiu para sete, Lacerda Sales admitiu que é necessário “acelerar” a investigação ao caso, sem se comprometer com prazos. 

O secretário de Estado afirmou que, neste como noutros surtos, é preciso uma atenção redobrada das comunidades, mas com limites. “Não podemos viver debaixo do medo desses surtos”, disse.

Os últimos dados relacionados com o surto de legionella davam conta de sete mortos e 40 pessoas internadas, algumas das quais em cuidados intensivos. O Hospital de Pedro Hispano, em Matosinhos, tinha o maior número de internados (18, dois dos quais tiveram, entretanto, alta) e também de vítimas mortais (cinco), enquanto no CHPVVC estavam internadas 16 pessoas (mais três do que ontem) e havia dois mortos a registar. No Centro Hospitalar de S. João, no Porto, registavam-se seis internamentos (dois nos cuidados intensivos) e nenhuma vítima mortal. Os óbitos foram registados em pessoas com idades compreendidas entre os 74 e 92 anos.

A doença do legionário não se transmite de pessoa para pessoa e contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminadas (aerossóis) que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares. Os casos mais agudos apresentam sintomas similares aos de uma pneumonia grave, incluindo febre alta, falta de ar ou dores musculares — que podem ser confundidos com os da covid-19. Um surto de uma doença respiratória como esta (em que os casos mais graves podem precisar também de ventiladores), em pleno aumento de casos da covid-19, causa ainda mais pressão sobre os hospitais.

O surto mais grave de legionella dos últimos anos aconteceu em 2014, em Vila Franca de Xira, causou 12 mortos e mais de 400 infecções e teve origem em duas empresas da região, a Adubos de Portugal e a General Electric.

Notícia actualizada com o número de casos internados e de vítimas mortais.

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