Pfizer e BioNTech acendem luz ao fundo do túnel e animam bolsas

Mercados animaram-se com anúncio de os resultados preliminares dos testes em larga escala da vacina das duas empresas contra a covid-19 terem revelado uma eficácia de 90%. Easyjet disparou 35%.

Foto
A norte-americana Pfizer estava a subir 11% para os 40,42 dólares por acção às 18h30 de Lisboa Reuters/BRENDAN MCDERMID

Às 11h40 da manhã desta segunda-feira, as acções da IAG, um dos maiores grupos de aviação do mundo (detém a British Airways  e a Iberia), seguiam em linha recta pelas 107 libras, longe das 425 libras que valiam antes da pandemia. Poucos minutos depois, tinham valorizado para as 148 libras, disparando cerca de 38%. A situação de alta repentina replicou-se em várias empresas fustigadas pela crise provocada pelo covid-19. Pelo meio, foi divulgado um comunicado onde se dava conta de que os resultados preliminares dos testes em larga escala da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela farmacêutica Pfizer e pela parceira alemã BioNTech revelaram que a vacina experimental tem uma eficácia de 90%.

“Hoje é um grande dia para a ciência e para a humanidade. O primeiro conjunto de resultados da nossa terceira fase de ensaios (…) mostra evidências iniciais da capacidade da nossa vacina em prevenir a covid-19”, afirmou Albert Bourla, presidente da Pfizer, no comunicado. “Estamos a atingir este marco fundamental no nosso programa de desenvolvimento da vacina numa altura em que o mundo mais precisa dela, com as taxas de infecção a atingirem novos recordes, os hospitais a aproximarem-se da sua capacidade máxima e as economias a lutarem para reabrir”, acrescentou.

Ultrapassando os seus rivais – pelo menos para já – a Pfizer espera conseguir uma autorização para uso de emergência da vacina contra a covid-19 nos Estados Unidos em pessoas entre os 16 e os 85 anos. Para tal, terá que reunir dados ao longo de dois meses sobre a segurança da vacina em pelo menos metade dos cerca de 44.000 participantes na terceira fase de ensaios, esperando-se que tais resultados estejam disponíveis no final de Novembro.

Os dados serão depois submetidos às entidades reguladoras para aprovação. Caso se verifique um licenciamento rápido da vacina contra a covid-19, as primeiras doses, destinadas aos profissionais de saúde, poderão estar disponíveis até ao final do ano, conforme explicou o Guardian.

Os resultados preliminares agora divulgados ainda não foram revistos pelos pares nem publicados em nenhuma revista científica, algo que deverá ocorrer assim que estejam disponíveis resultados completos dos ensaios clínicos.

A Pfizer e a parceira BioNTec celebraram já acordos de distribuição da vacina experimental contra a covid-19 com vários países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido. No caso da União Europeia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, colocou uma mensagem no Twitter a realçar as “boas notícias”, acrescentando que está prestes a ser assinado o contrato com as duas empresas para serem adquiridas 300 milhões de doses. “Até lá”, realçou, “vamos continuar a protegermo-nos”.

Portugal é um dos países que está na lista do mecanismo da União Europeia para a aquisição desta vacina, lembrou esta segunda-feira a directora-geral da Saúde, Graça Freitas. “Se se vier a verificar que a eficácia, e melhor ainda que a efectividade, for na ordem dos 90%, será das melhores vacinas que obteremos. Mesmo das vacinas que usamos actualmente [para outras doenças], nem todas têm essa eficácia. Esperemos que se venha a verificar”, disse.

De acordo com o comunicado das duas empresas, e se tudo correr bem, a previsão aponta para a produção de 50 milhões de doses da vacina ainda este ano, e 1,3 mil milhões de doses no ano que vem.

Ao Financial Times (FT), Ugur Sahin, co-fundador e presidente executivo da BioNTech, afirmou que haverá uma atitude “justa” quando se chegar à fase de distribuição das primeiras vacinas, e que será dada prioridade de entrega aos países onde já haja as autorizações necessárias. De acordo com Ugur Sahin, conforme noticiou o FT, a expectativa é a de que a vacina proporcione imunidade “pelo menos durante um ano”, com os anticorpos a bloquear cerca de 20 mutações diferentes do vírus Sars-Cov-2.

Planos de vacinação

À medida que aumenta a expectativa da exigência de uma vacina disponível nos próximos meses, aumenta o trabalho que os vários países terão de desenvolver para montar uma campanha de vacinação contra a covid. As primeiras doses a ficarem disponíveis serão em quantidade limitada e por isso haverá rateio entre os vários países que as irão adquirir.

Vários organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, têm apelado aos países que estabeleçam os seus planos de vacinação, nomeadamente o estabelecimento de prioridades – quem serão as primeiras pessoas a receber a vacina –, locais de vacinação, organização logística para a posterior vacinação em maior quantidade à medida que mais doses forem ficando disponíveis.

Em Portugal, vacinação contra a covid foi um dos temas abordados numa das últimas reuniões que a ministra da Saúde Marta Temido teve com o Conselho Nacional de Saúde Pública. Também recentemente, o secretário de Estado da Saúde Diogo Serra Lopes disse, numa conferência de imprensa de balanço da epidemia no país, estar “esperançoso” na disponibilidade de uma vacina até ao final do ano. Quanto à planificação da vacinação, referiu que “os planos estão a ser delineados, mas dependem se teremos uma vacina, da sua qualidade e em que altura poderá estar disponível”.

Esta segunda-feira à noite, em entrevista na TVI, o primeiro-ministro adiantou que o plano de vacinação contra a covid terá de ser entregue este mês à Comissão Europeia. “A Comissão Técnica de Vacinação e a Direcção-Geral da Saúde estão a preparar a estratégia”, explicou António Costa, referindo que a mesma implica “uma grande logística para armazenamento e distribuição das doses” que chegarem ao país. “Tem de correr bem. Não podemos falhar nisto”, afirmou, quando questionado sobre se o processo iria correr bem.

Já animadas pela vitória de Joe Biden nos EUA, as bolsas tiveram um dia de euforia à boleia da vacina. Na Europa, o índice pan-europeu Stoxx 600 subiu 4%, para perto dos 381 pontos, tendo o português PSI-20 acompanhado a tendência ao subir 4,5%, embalado pelo BCP e pela Galp.

Em Madrid, a valorização foi de 8,57% em Madrid (a maior de uma década, segundo o El País), enquanto em Paris foi 7,57%, seguindo-se 5,43% em Milão, 4,94% em Frankfurt e 4,67% em Londres.

Apesar de tudo, houve ritmos e tendências diferentes conforme as empresas: no caso da IAG, esta fechou o dia a ganhar 21,5%, e a Easyjet disparou 35%. Nos EUA, com a notícia de hipótese de vacina a chegar antes da abertura dos mercados, a United Arlines ganhou 19,14%. O dia foi também bastante positivo para outras empresas ligadas ao turismo e às viagens.

No entanto, houve outras que tiveram menos sucesso, por estarem ligadas a negócios que beneficiam com as restrições à circulação, como a HelloFresh, que faz entregas de comida ao domicílio e que caiu 15% na bolsa de Frankfurt. Nos EUA, um dos símbolos da pandemia, a Zoom Video, viu os seus títulos descer 17,37% na sessão desta segunda-feira. Mesmo assim, cada acção estava a valer 413 dólares, depois de terem começado o ano nos 70 dólares.

A meio da sessão, o índice S&P 500 chegou a um novo máximo intradiário, ao subir 3,9%. Encerrou com uma valorização de perto de 1,2%, acompanhando o industrial Dow Jones, que subiu 2,95%.

Naturalmente, uma das subidas do dia foi da norte-americana Pfizer, cotada na New York Stock Exchange e que pelas 18h30 estava nos 40,42 dólares por acção, um crescimento de 11,07%. Acabou por fechar com ganhos de 7,68%, A sua parceira, a alemã BioNTech, que está no Nasdaq, subia 14,7% e manteve-se aí perto até ao fecho, nos 13,91%. O índice tecnológico, contudo, fechou a recuar 1,53%.

Também o preço do barril do petróleo ganhou ímpeto à boleia da expectativa de uma maior normalização das economias, com o Brent a subir 8,11% para os 42,65 dólares. Em sentido contrário estiveram as obrigações de dívidas pública e o ouro, com os investidores a mostrarem-se menos receosos do risco. No caso do ouro, que chegou a superar os 2000 dólares por onça em Agosto, tinha ontem descido, pelas 18h20, quase 5%, chegando aos 1857 dólares.

Sugerir correcção