Covid-19: Biden diz que “uma máscara não é uma declaração política”
Reunião com o conselho consultivo para a covid-19 composto por especialistas foi o primeiro acto público do presidente e vice-presidente eleitos Joe Biden e Kamala Harris.
O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, disse que mesmo com uma vacina promissora, o uso generalizado de máscaras é essencial para chegar ao objectivo de “voltar ao normal o mais depressa possível”, depois de uma reunião em vídeo-conferência com um conselho consultivo de 13 médicos e peritos de saúde que acabou de escolher para traçar um plano para lidar com a pandemia. “Uma máscara não é uma declaração política.”
A abordagem é muito diferente da do Presidente Donald Trump, que tem ignorado, ou mesmo contrariado, os peritos, e que se tem recusado a usar máscara, politizando a sua utilização.
Biden declarou que o anúncio de uma vacina da Pfizer/BioNTech com eficácia de 90% é motivo de “esperança”, mas sublinhou que ainda há uma longa batalha, que vai durar ainda vários meses, no horizonte.
“Os americanos vão ter de usar máscaras, distanciamento, rastreamento de contactos, lavagem de mãos e outras medidas para se manter seguros até bem à frente no próximo ano”, disse Biden. “A notícia de hoje [desta segunda-feira] é óptima, mas não muda isso.”
A reunião de Biden e a sua vice, Kamala Harris, com a task force foi o primeiro acto público dos dois desde que foram declarados os vencedores da eleição presidencial nos Estados Unidos, sublinhando, de novo, o papel central que a luta contra a pandemia assumirá na sua Administração.
Num comunicado, Biden apresentou a equipa chefiada por um trio: Vivek Murthy, que foi surgeon general (equivalente a ministro da Saúde) durante a Administração Obama, David Kessler, comissário da FDA, a agência responsável pela regulação de alimentos e medicamentos, durante as presidências de George Bush (pai) e Bill Clinton, e Marcella Nunez-Smith, investigadora de equidade na Saúde na Universidade de Yale. Murthy e Kessler, nota o Washington Post, têm sido ouvidos por Biden durante a pandemia.
“Lidar com a pandemia do coronavírus é uma das mais importantes batalhas que a nossa Administração vai enfrentar, e vamos agir com base na ciência e no que dizem os peritos”, diz o comunicado de Biden.
“O conselho consultivo vai ajudar-me a gerir o aumento nas infecções, a assegurar que as vacinas são seguras, eficazes, e distribuídas de modo eficiente, equitativo, e gratuito, e ainda a proteger as pessoas de risco.”
A equipa terá um total de 13 pessoas, incluindo, nota a estação de televisão ABC, o antigo director da Autoridade para Investigação Avançada e Desenvolvimento Biomédico (BARDA, na sigla em inglês) Rick Bright, que este ano se demitiu do seu cargo no Instituto Nacional de Saúde e fez uma alegação sobre o “abuso de poder e má gestão” do Departamento de Saúde na resposta à pandemia.
Os Estados Unidos estão num período de grande aumento de casos, com mais de cem mil casos por dia na última semana — no domingo foram registados 102.726 novos casos e 512 mortes; o primeiro dia abaixo de mil mortes durante uma semana.
Isto sem haver, sublinha o Washington Post, qualquer plano nacional de testagem, nem de rastreamento de contactos, nem um esforço para solucionar a falta de equipamento de protecção nos hospitais que começam a ficar assoberbados com a grande quantidade de pessoas a precisar de tratamento.
A crise que Biden herda será a mais grave desde a Grande Depressão. E deverá piorar, já que não é esperada uma articulação com a Administração cessante durante o período de transição das próximas dez semanas. Com a descida das temperaturas e o maior tempo passado em espaços interiores e pouco ventilados, mais propícios à transmissão, espera-se um ainda maior aumento de casos.
Sublinhando a abordagem relaxada da Administração Trump, na Casa Branca já houve um surto de coronavírus depois da cerimónia de apresentação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo tribunal no final de Setembro — em que ficaram infectados Trump e a mulher, Melania, e dezenas de outras pessoas.
Agora há suspeitas de um segundo, com origem numa festa na noite eleitoral na Casa Branca: esta segunda-feira o secretário da habitação, Ben Carson, divulgou que também está infectado, depois de há dias o chefe de gabinete Mark Meadows ter revelado um teste positivo.
No Twitter, muitos cientistas americanos reagiam com contentamento e alívio à mudança de abordagem.
Num artigo na Atlantic de Julho, o jornalista Ed Young traçava um relato de uma comunidade científica desesperada por não estar a ser ouvida. Os peritos avisaram para uma segunda vaga, avisaram para o perigo da pandemia ser juntar à época da gripe, avisaram para hospitais sob pressão na época dos furacões com vítimas e doentes com covid, e sentiram que de cada vez nada foi feito para tentar amortecer o choque.
“Parece que estamos a escrever ‘vão acontecer coisas más’ num guardanapo de papel, e depois pegamos-lhe fogo”, declarou Colin Carlson, especialista em doenças infecciosas na Universidade de Georgetown, para mostrar a frustração de muitos cientistas da sua área.