Covid-19: Biden diz que “uma máscara não é uma declaração política”

Reunião com o conselho consultivo para a covid-19 composto por especialistas foi o primeiro acto público do presidente e vice-presidente eleitos Joe Biden e Kamala Harris.

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Joe Biden está a pôr a luta contra a pandemia no centro das preocupações durante a transição Reuters/JIM BOURG
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Biden e Harris tiveram uma reunião por videoconferência com o conselho consultivo de 13 peritos Reuters/JONATHAN ERNST

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, disse que mesmo com uma vacina promissora, o uso generalizado de máscaras é essencial para chegar ao objectivo de “voltar ao normal o mais depressa possível”, depois de uma reunião em vídeo-conferência com um conselho consultivo de 13 médicos e peritos de saúde que acabou de escolher para traçar um plano para lidar com a pandemia“Uma máscara não é uma declaração política.”

A abordagem é muito diferente da do Presidente Donald Trump, que tem ignorado, ou mesmo contrariado, os peritos, e que se tem recusado a usar máscara, politizando a sua utilização.

Biden declarou que o anúncio de uma vacina da Pfizer/BioNTech com eficácia de 90% é motivo de “esperança”, mas sublinhou que ainda há uma longa batalha, que vai durar ainda vários meses, no horizonte.​ 

“Os americanos vão ter de usar máscaras, distanciamento, rastreamento de contactos, lavagem de mãos e outras medidas para se manter seguros até bem à frente no próximo ano”, disse Biden. “A notícia de hoje [desta segunda-feira] é óptima, mas não muda isso.”

A reunião de Biden e a sua viceKamala Harris, com a task force foi o primeiro acto público dos dois desde que foram declarados os vencedores da eleição presidencial nos Estados Unidos, sublinhando, de novo, o papel central que a luta contra a pandemia assumirá na sua Administração.

Num comunicado, Biden apresentou a equipa chefiada por um trio: Vivek Murthy, que foi surgeon general (equivalente a ministro da Saúde) durante a Administração Obama, David Kessler, comissário da FDA, a agência responsável pela regulação de alimentos e medicamentos, durante as presidências de George Bush (pai) e Bill Clinton, e Marcella Nunez-Smith, investigadora de equidade na Saúde na Universidade de Yale. Murthy e Kessler, nota o Washington Post, têm sido ouvidos por Biden durante a pandemia.

“Lidar com a pandemia do coronavírus é uma das mais importantes batalhas que a nossa Administração vai enfrentar, e vamos agir com base na ciência e no que dizem os peritos”, diz o comunicado de Biden.

“O conselho consultivo vai ajudar-me a gerir o aumento nas infecções, a assegurar que as vacinas são seguras, eficazes, e distribuídas de modo eficiente, equitativo, e gratuito, e ainda a proteger as pessoas de risco.” 

A equipa terá um total de 13 pessoas, incluindo, nota a estação de televisão ABC, o antigo director da Autoridade para Investigação Avançada e Desenvolvimento Biomédico (BARDA, na sigla em inglês) Rick Bright, que este ano se demitiu do seu cargo no Instituto Nacional de Saúde e fez uma alegação sobre o “abuso de poder e má gestão” do Departamento de Saúde na resposta à pandemia.

Os Estados Unidos estão num período de grande aumento de casos, com mais de cem mil casos por dia na última semana — no domingo foram registados 102.726 novos casos e 512 mortes; o primeiro dia abaixo de mil mortes durante uma semana. 

Isto sem haver, sublinha o Washington Post, qualquer plano nacional de testagem, nem de rastreamento de contactos, nem um esforço para solucionar a falta de equipamento de protecção nos hospitais que começam a ficar assoberbados com a grande quantidade de pessoas a precisar de tratamento.

A crise que Biden herda será a mais grave desde a Grande Depressão. E deverá piorar, já que não é esperada uma articulação com a Administração cessante durante o período de transição das próximas dez semanas. Com a descida das temperaturas e o maior tempo passado em espaços interiores e pouco ventilados, mais propícios à transmissão, espera-se um ainda maior aumento de casos.

Sublinhando a abordagem relaxada da Administração Trump, na Casa Branca já houve um surto de coronavírus depois da cerimónia de apresentação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo tribunal no final de Setembro  em que ficaram infectados Trump e a mulher, Melania, e dezenas de outras pessoas.

Agora há suspeitas de um segundo, com origem numa festa na noite eleitoral na Casa Branca: esta segunda-feira o secretário da habitação, Ben Carson, divulgou que também está infectado, depois de há dias o chefe de gabinete Mark Meadows ter revelado um teste positivo.

No Twitter, muitos cientistas americanos reagiam com contentamento e alívio à mudança de abordagem.

Num artigo na Atlantic de Julho, o jornalista Ed Young traçava um relato de uma comunidade científica desesperada por não estar a ser ouvida. Os peritos avisaram para uma segunda vaga, avisaram para o perigo da pandemia ser juntar à época da gripe, avisaram para hospitais sob pressão na época dos furacões com vítimas e doentes com covid, e sentiram que de cada vez nada foi feito para tentar amortecer o choque.

“Parece que estamos a escrever ‘vão acontecer coisas más’ num guardanapo de papel, e depois pegamos-lhe fogo”, declarou Colin Carlson, especialista em doenças infecciosas na Universidade de Georgetown, para mostrar a frustração de muitos cientistas da sua área.

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