Na Bela Vista, os jovens aventuram-se na música com a ajuda de Chullage
A Câmara de Setúbal investiu cerca de 100 mil euros na construção de um estúdio, que está a funcionar há cerca de um mês.
Dezenas de jovens desenvolvem as capacidades artísticas no novo estúdio de som e imagem instalado no bairro social da Bela Vista, no âmbito do programa Nosso Bairro, Nossa Cidade, da Câmara Municipal de Setúbal.
O novo estúdio, que inclui uma sala multiúso e que já está a funcionar há cerca de um mês sob a orientação do rapper português Nuno Santos (Chullage), foi uma das propostas apresentadas no âmbito daquele programa, que promove o envolvimento dos moradores nas decisões sobre a comunidade local.
“Este estúdio surge da ideia do vereador da Habitação da Câmara de Setúbal, Carlos Rabaçal, de querer estruturar uma proposta da comunidade, uma reivindicação de há muito tempo, que era ter um estúdio aqui na Bela Vista, ter um equipamento destes - e não só o estúdio, mas também uma sala multiúso”, diz à agência Lusa Nuno Santos, que está a colaborar com o município no âmbito de um protocolo entre a autarquia sadina e a Khapaz - Associação Cultural de Jovens Afrodescendentes.
“Há aqui uma série de artistas jovens, outros mais velhos – artistas africanos, ciganos, brancos 1937155, que, em várias esferas culturais, têm uma expressão incrível aqui nesta comunidade, nos vários bairros da Bela Vista. Eles fazem música, fazem apresentações na sala multiúso [...] e estão a gravar vários singles dos seus projectos pessoais e colectivos”, acrescenta.
A Câmara de Setúbal investiu cerca de 100 mil euros na construção do novo estúdio de som e imagem, que está a despertar o interesse de dezenas de jovens da Bela Vista e que, a breve prazo, poderá também ser utilizado por moradores de outras zonas da cidade ou mesmo por pessoas de outros concelhos.
“Tem sido incrível porque esta é uma ideia que existe há muito tempo. Desde que o estúdio aqui está, eu é que não tenho mãos a medir para a demanda deles. Há uns que querem gravar, outros que querem aprender a dirigir e a produzir, a conduzir o processo. Estou surpreendido e contente”, conta Chullage.
Um “incentivo” para quem faz música
Entusiasmados estão também os jovens, que já não largam o novo estúdio e reconhecem a importância do novo equipamento para a sua evolução e para desenvolverem os seus projectos musicais. “Quem não tem condições para pagar um estúdio pode vir aqui de graça”, disse o jovem Décio Correia, DJ e produtor, mantendo um olhar atento às máquinas de som do novo espaço.
O jovem cantor Rui Guedes, que se apresenta com o nome artístico Laton2910, corrobora: “O novo estúdio tem outro tipo de qualidade que antes não tínhamos. E temos uma pessoa como o Chullage, que masteriza os sons. Essas são as coisas mais importantes: a qualidade do estúdio e termos uma pessoa a ajudar-nos”. Para Rúben Batista (R Kaze), o novo estúdio é “um incentivo para quem tem gosto em fazer música”.
O jovem Branco (Dabliu Kapa) recorda que as gravações em casa não tinham as condições necessárias. “Isto é uma coisa profissional. Se algum dia quiséssemos gravar numa coisa destas [estúdio com qualidade profissional], era muito caro. E nenhum de nós tem possibilidades para conseguir gravar em estúdios desta qualidade. E ter a ajuda de pessoas como o Chullage, que está neste mundo da música há muitos anos, também ajuda imenso”, diz.
O novo espaço está instalado na Rua da Figueira Grande, no Espaço Nosso Bairro, Nossa Cidade. “É um projecto que vem integrar-se como uma peça fundamental, uma âncora de uma resposta cultural e artística, neste espaço do Nosso Bairro, Nossa Cidade na Bela Vista, que é uma oficina de cultura e de participação comunitária, onde se fazem dezenas de outras actividades quotidianamente”, sublinha o vereador da Habitação, Carlos Rabaçal.
O programa da Câmara de Setúbal dinamizou, na última década, mais de 30 projectos para promover a participação dos moradores nas decisões e nas iniciativas da comunidade da Bela Vista.