Infectado com covid-19, Trump retira a máscara na chegada à Casa Branca

Presidente dos EUA disse aos norte-americanos para não terem “medo” da doença que matou 210 mil pessoas. Tirou a máscara para ser fotografado e para gravar um vídeo para os seus apoiantes, num regresso à residência presidencial altamente teatralizado.

O regresso de Trump à Casa Branca: "Não tenham medo da doença" Reuters, PÚBLICO

Três dias depois de ter dado entrada no Hospital Militar Walter Reed, após ter sido infectado com o novo coronavírus e ter necessitado de ajuda médica para regular os níveis de oxigénio, Donald Trump voltou à Casa Branca na segunda-feira à noite com uma mensagem para os norte-americanos: “Não tenham medo da covid. Não a deixem dominar a vossa vida. Vamos vencê-la”.

O regresso do Presidente dos Estados Unidos à residência presidencial foi altamente teatralizado e com o objectivo claro de mostrar um líder forte e inabalável, que venceu um vírus que já matou perto de 210 mil norte-americanos e infectou mais de 7,5 milhões.

Chegado de helicóptero à Casa Branca, Trump não entrou no edifício pelo acesso subterrâneo, como habitualmente faz. Ao invés disso, subiu as escadas exteriores e dirigiu-se para uma das varandas para pousar para as fotografias. Poucos segundos depois, com ar sério, tirou a máscara, bateu continência e levantou os polegares.

Mais tarde, ainda sem máscara, gravou um vídeo para os seus apoiantes, no qual reforçou as mensagens que tinha vindo a partilhar, durante toda a tarde, no Twitter, elogiando a resposta da sua Administração à pandemia, desconsiderando as recomendações das autoridades de saúde, desvalorizando os efeitos da doença e sugerindo que a vacina está a chegar “a qualquer momento”.

“Aprendi tanta coisa sobre o novo coronavírus. Não deixem que vos domine. Não tenham medo dele. Vão derrotá-lo. Temos os melhores equipamentos médicos, a melhor medicação. E tudo isto desenvolvido recentemente. Não me senti muito bem, mas podia ter saído [do hospital] há dois dias. Senti-me óptimo, melhor que há 20 anos”, disse o Presidente Trump.

“Somos o melhor país do mundo. Enquanto vosso líder, estive na linha da frente, e liderei. Qualquer líder teria feito o que fiz. Sei que há um risco, que há perigo. Mas agora estou bem e se calhar até estou imune, não sei. Não deixem que isto domine as vossas vidas. Saiam, tenham cuidado, temos a melhor medicação do mundo. E as vacinas estão a chegar a qualquer momento”, acrescentou.

“Máscaras salvam vidas”

Em entrevista à NBC, Joe Biden, candidato do Partido Democrata às eleições presidenciais de 3 de Novembro, afirmou estar “contente” por ver que o Presidente “aparenta estar bastante bem”, mas não deixou passar em claro a retirada da máscara.

“As máscaras são importantes. Salvam vidas. Previnem a propagação da doença”, sublinhou Biden. “Um dos tweets [de Trump] dizia para as pessoas não estarem tão preocupadas. Mas há muito para nos preocuparmos. Morreram 210 mil pessoas. Espero que ninguém possa passar incólume promovendo a mensagem de que isto não é um problema. É um problema grave”.

Antes de regressar à Casa Branca, Trump prometeu, nas redes sociais, que iria voltar “brevemente” à campanha eleitoral. O seu médico, Sean Conley, disse, no entanto, que o chefe de Estado terá de se manter isolado e em tratamento durante mais alguns dias.

Segundo as recomendações das autoridades de saúde norte-americanas, todos os infectados pelo vírus devem permanecer em isolamento durante, pelo menos, dez dias após o surgimento dos primeiros sintomas – na quinta-feira passada, no caso do Presidente.

Questionado sobre o regresso à residência presidencial, onde mais de dez pessoas testaram positivo – entre funcionários a elementos da Administração –, Conley garantiu que tudo estava a ser feito, em “conjunto com os especialistas em doenças infecciosas”, para evitar novos contágios e para manter Trump em segurança.

Suspeição

Na passada sexta-feira, Donald Trump anunciou no Twitter que estava infectado com covid-19. Também a primeira-dama, Melania Trump, foi vítima de um surto que começou na Casa Branca e já infectou mais de uma dezena de pessoas ligadas ao Presidente norte-americano. 

No mesmo dia, foi transportado, “por precaução”, para o Hospital Militar Walter Reed, onde sofreu de dois episódios de quebra na saturação de oxigénio.

Todo o período de Trump neste hospital militar foi rodeado de suspeição: o Presidente foi tratado com um cocktail experimental de anticorpos sintéticos, bem como dexametasona, um corticoesteróide cujo uso só é recomendado nos casos mais graves da doença, e ainda o antiviral remdesivir por via intravenosa (um medicamento experimental que teve uma autorização de emergência porque abrevia o episódio de doença nos casos mais graves).

Mas nas comunicações diárias, a equipa médica manteve uma narrativa optimista, sempre sem pormenorizar os sintomas demonstrados pelo líder republicano.

O timing da infecção também foi delicado: a semanas das eleições, a notícia fez regressar as dúvidas quanto à substituição de um chefe de Estado ou de um candidato presidencial, na eventualidade de Trump ficar incapacitado para desempenhar as suas funções.

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